segunda-feira, 5 de julho de 2010
Duas ou três palavras sobre o preconceito
Imagem: Worldpress
Vivemos num período interessante da história, no qual a informação e o esclarecimento seriam as armas usadas para o combate ao preconceito.
No entanto, além das clássicas formas de discriminação em relação a assuntos como opção sexual, raça e religião, outras formas de preconceitos continuam escondidas em nosso dia-a-dia.
As vítimas desta forma mais velada de preconceito são os deficientes físicos, os gordos, os feios, os velhos e até os canhotos, entre outros.
Há cerca de 15 dias ouvi um relato de um jovem paciente, estudante de direito em Belém, que me impressionou.
Ele iniciou o desabafo me perguntando se eu já teria sido prejudicado deliberadamente por alguém, no passado, por ser gordo. Pensei um pouco e respondi que talvez sim, na escola, por um professor que parecia ter algo contra mim que não pude identificar naquela altura. Lembrei-me instantaneamente de alguns outros episódios semelhantes ocorridos no decorrer da minha vida, como a xenofobia sofrida quando morei na Alemanha e a segregação por ser do norte (em São Paulo).
Ele confidenciou que estava sendo vítima de “marcação” por um professor em particular, que supostamente o teria prejudicado por várias vezes em relação a notas, sempre que o caráter subjetivo da avaliação o permitia.
Eu insisti então numa busca mais detalhada por sinais e sintomas mais objetivos para fechar o diagnóstico de preconceito e ele pôde apenas descrever vagos episódios de um desdém leve, de uma maneira diferente de olhar, de um discreto sarcasmo nas palavras e atitudes, que apesar de tudo o machucaram muito além da provável reprovação na matéria e conseqüente perda de um semestre do curso.
Fiquei então pensando se nós os gordinhos não estaríamos irritando os não-gordos por aumentarmos o consumo de combustível dos carros, piorando o efeito estufa. Ou por sermos responsáveis pela elevação dos custos assistenciais de saúde. Ou mesmo por forçarmos os magros a diagnosticar os seus próprios níveis de preconceito...
E os feios e feias, o quanto sofrem silenciosamente durante uma vida inteira?
Estamos cada vez mais acostumados a ver a beleza como a normalidade plena.
Quer comprar uma casa num condomínio de luxo? A corretora será quase que certamente uma bela senhora. Um carro? O vendedor não será feio ou deficiente.
Obesos na mídia? Ligue a televisão e conte o número de gordos. A exceção talvez fique por conta da série de TV Huge, que estreou na semana passada nos E.U.A (na ABC).
E os velhos, os de pele sofrida, aqueles com rugas, por que não aplicam botox? Ou fazem laser? Peeling químico? Os nossos inconscientes às vezes parecem fazer estas perguntas.
E o quanto sofrem os deficientes aos olhos dos ignorantes?
A partir de uma simples conversa com um jovem angustiado pude perceber o quanto há de preconceito suspenso em nossa volta, disfarçado de forma sutil através da ridicularização socialmente aceitável.
Apesar das vindouras mudanças na legislação, ainda teremos um longo caminho na história da humanidade até o total extermínio do preconceito.
A minha dúvida é se o percorreremos.
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13 comentários:
Brilhante. Como sociedade do espetáculo nobilitamos a aparência, sem atentar que ao dar a ela maior valor, criamos a oportunidade para que sejam cometidas certas formas de bullying.
O pior, caríssimo Scylla, é que essas práticas preconceituosas estão cada vez mais descaradas e agressivas. Eu ia citar o bullying, mencionado pelo Itajaí, mas podemos ir além. A imprensa explorou bastante (e volta e meia cita) o caso daquela Lucimara Parisi, há 20 anos produtora do Fausto Silva, que teria sido dispensada da noite para o dia por ter sido considerada velha.
Posso ser tolo, mas não acho que ela venderia menos um produto, qualquer que seja.
Aliás, se aparência e desejabilidade fossem tudo, as concessionárias deveriam estar cheias de gostosonas vendendo carros.
Parabenizo-te pelo texto, que ressalta mais uma vez a tua grande humanidade. Ainda mais que eu, tendo passado de magérrimo a gordo, entrei para o grupo de risco.
Alguma coisa contra carecas?
Itajaí, o bullying está entre nós, e para sempre.
Um abraço.
Yúdice, obrigado pelas palavras bondosas.
Quanto aos carecas, acho que levamos alguma desvantagem em relação ao Itajaí, ao Val, ao Francisco e ao Charlie "Benjamin Button" Barretto.
O frio é devastador e o sol descascador!
Abraços.
Na verdade o que se conhece hoje pela palavra modernosa de "bullying" sempre existiu. Apenas agora, - e isso é um avanço - a sociedade parece ter tomado consciência e, assumindo a sua existência, espero que se tomem medidas para reprimi-lo.
Eu fui vítima de bullying também. Mas como acho que tenho uma personalidade forte, pude resistir a eles. Isso no NPI/UFPa onde a heterogeneidade social era o mote e acho que foi o principal motor pra minha atitude política atual e de sempre.
Scylla, vc não precisa se preocupar com comentários do tipo que mencionou, vc é uma pessoa maravilhosa, quem lhe conhece não vê defeitos em vc.
Itajaí, o bullying está entre nós, para sempre!
Abraços.
Yúdice, obrigado pelas palavras gentis.
Em relação aos carecas acho que estamos em desvantagem frente ao Itajaí, Val, Francisco e Charlie "Benjamin Button" Barretto.
O frio no telhado é devastador e o sol descascador!
Um abraço.
Anônimo das 12:19 h, a preocupação da postagem é mais com o fenômeno do preconceito "light" a nível mundial.
Intimamente estou que nem o antigo blues: "DAMN RIGHT I GOT THE BLUES..."
Abs.
Olha, Scylla, a idade sabe como é. Até aquela vasta cabeleira já dá sinais de rarefação. Segue junto um sobrepeso no antigo magrão.
Ah! É mesmo? Pôôôxa!
E Scylla. By the way, obrigado pelo "Charlie "Benjamin Button" Barretto".
Muito justo!
Hehe
Charlie, talvez o bullying aconteça em todas as escolas do mundo e faça parte do aprendizado e da moldagem da personalidade.
Quanto ao "Benjamin Button", o termo foi mencionado pelo Yúdice no blog há cerca de 5 ou 6 semanas e eu só fiz copiar.
E tem chance de pegar!
Itajaí, deixe rarear não, maninho!
It's so sad...
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