sexta-feira, 2 de julho de 2010

A Operação Levanta-te e Anda

Os jornalões coligados ao PSDB-DEM iniciaram desde ontem a operação Levanta-te e Anda. Suas manchetes divulgaram ufanistas resultados da pesquisa DataFolha contrários às de outros institutos, que identificaram a petista Dilma Roussef na frente de José Serra. A cereja do bolo foi representada por um sui generis empate técnico, saboreado como vitória.
Espantei-me com desenvoltura do enviezamento, que é melhor dimensionado quandro lembramos a procissão de fatos negativos que têm consubstanciado a candidatura Serra, dos quais são destaques as opiniões infelizes do candidato sobre aborto, sem terras e apologia do machismo, pioradas ainda mais com a apresentação de um programa politico ruim na televisão e a solução meio no tapetão do fiasco de encontrar vice que não declinasse do convite.
O que justificou então a alavancada de uma candidatura com desempenho mal das pernas? Haveria mais alguém embasbacado com os ruídos da pesquisa DataFolha?
Para ambas as perguntas obtive respostas, que infelizmente são preocupantes se as considerarmos como evidências de como será a eleição presidencial de 2010. Fui ao blogue Ví o Mundo - O que Você Não Vê na Mídia, do jornalista Luiz Carlos Azenha, que, demonstrando estar mais preparado para desnudar o mistério da melhora do Lázaro, pontuou com perspicácia o que segue como digno de nota para o futuro:

Desta vez, quando três outros institutos registraram o avanço e a liderança de Dilma, o Datafolha produziu um empate técnico (Serra teria 39%, Dilma 38%) sem que houvesse uma justificativa factível para essa repentina mudança de rumo. Curiosamente, mais uma vez o crescimento de Serra se baseia num aumento da preferência de eleitores sulistas (no Sul, de acordo com o Datafolha, Serra passou de 38% a 50%). Será que os sulistas são mais suscetíveis à propaganda eleitoral do PSDB na TV?

Sabemos que existem diferenças de método entre os diversos institutos de pesquisa, que podem responder pelas diferenças entre Vox Populi, Sensus, Ibope e Datafolha. Sabemos, no entanto, que as pesquisas refletem tendências gerais do eleitorado e nada aconteceu nas últimas semanas que justifique uma reversão repentina das curvas de Serra e Dilma.

De qualquer forma, alguns detalhes me chamaram a atenção:

– Um dia antes da divulgação da pesquisa, já circulavam na internet as justificativas do PSDB para a repentina mudança no quadro eleitoral, como eu mesmo reproduzi, a partir do R7, aqui;

– O tracking do PSDB (levantamento diário feito a partir de pesquisa telefônico) não é confirmado pelo tracking do PT, pelo contrário, os números internos da campanha de Dilma apontam aumento na diferença entre os dois candidatos, com vantagem crescente da ex-ministra;

– Os números da Folha vieram acompanhados de “análises” que tem algo em comum: a sustenção do argumento conveniente para a campanha de Serra na atual conjuntura, aquele de que a campanha vai começar oficialmente com os dois candidatos zerados, empatados;

– Na mesma página que traz os resultados da pesquisa, uma coluna da Folha atribui o resultado, em parte, à decisão de Dilma Rousseff de evitar “alguns debates e sabatinas”. Em junho, 30% dos entrevistados disseram ter visto alguma entrevista com Serra; 25% disseram o mesmo em relação a Dilma. Isso não prova nada. E se o eleitor viu mais o Serra e não gostou? O que a coluna da Folha omite é que Dilma não aceitou o convite para participar de uma sabatina da Folha. Em outras palavras, o jornal está tentando dizer, sem dizê-lo, que Dilma perdeu votos ao não aceitar o convite do jornal. Como seria muito patético dizer isso abertamente, o jornal apenas sugere essa possibilidade.

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