quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Serra no JN: Uma Entrevista por Tangências

Uma boa conversa fiada igual a aquelas que acontecem para matar o tempo, num começo de noite, mesmo que num cenário burocrático da redação de um jornal. Oi, Bonner! Oi, Fátima, ia passando, resolvi dar um alô. Serra, que alegria! Sente aí, vamos prosear um pouco. Quer um cafezinho? Não é um diálogo impossível, parecia exatamente isso a ida de Serra ao JN. Façamos portanto justiça à fidalguia do William Bonner e da Fátima Bernardes: foram impecáveis, quando demonstraram que não é todo candidato à presidência da República que tem seu dia de Serra na Rede Globo de Televisão. Mas apenas, e somente, o ex-governador de São Paulo. Claro que no início foi feito aquele preâmbulo todo de que era a terceira entrevista com um presidenciável, ocasião em que os candidatos são questionados sobre assuntos espinhosos relacionados à experiência de governo e outros blá, blá, blá. Pura ilusão de ótica ou de retórica, se preferirem.
Embora as perguntas fossem feitas, o que assistíamos era Serra tangenciar o assunto sem dar respostas. Com o agravante de que o casal WB & FB, afora o caso do pedágio paulista, não apresentou nenhuma pergunta sobre questões críticas do governo tucano em São Paulo, que a dupla reconhece que já dura 18 anos. E, nesse assunto em específico, ao contrário do que aconteceria com o (as) outro (as) candidato (as), permitiram que o entrevistado nada respondesse sobre o problema, apesar de duas investidas, de modo que permitiram a Serra apenas instrumentalizar a pergunta para críticas às estradas federais. Dos pedágios paulistas, reconhecidos como caríssimos, com glichês além da conta e da funcionalidade necessária para o escoamento célere do tráfego, ficou dito por não dito.
Para os donos, empregados e patrocinadores do JN, Serra deve ser algum notório saber que não deve satisfação a ninguém; um caso de amplo sucesso de público e de crítica. Trata-se contudo de um falseamento da realidade. Naquela mesa os entrevistadores fingiam que perguntavam e o entrevistado dava entender que respondia. Os âncoras do JN demonstraram que não estavam interessados em perguntar ao ex-governador de São Paulo sobre os problemas gravíssimos ocorridos nos governos tucanos paulistas, como aconteceu com o desabamento das obras do metrô; do mal-cheiro que exala dos esgotos licitatórios e de investigações policiais; da violência, da impunidade policial e do desrespeito de direito humanos; da explosão descontrolada da dengue no Estado; do mensalão dos aliados Demo (tirado de foco com um golpe de prestidigitação com a introdução de um PTB como boi de piranha); das bandalheiras noticiadas que quase levaram a governadora tucana do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, ao impeachment; ou a progressiva deterioração das suas relações com o governador de Minas Gerais e com o atual presidente do PSDB, obrigado no Nordeste a autorizar que os prefeitos de sua base fizessem campanha para Dilma, porque senão o próprio arrisca não ser eleito deputado federal.
Outro besteirol foi aquele de construir uma teoria do tempo dos governos como relacionado ao momentos históricos estanques e improfícuos, apenas com o objetivo de negar a conexão entre o que o governo Lula tem alcançado e o prosseguimento e ampliação dessas políticas públicas no governo de Dilma Roussef. Se tivesse lido Padre Antonio Vieira, Serra compreenderia que o presente nada mais é do que atualização do passado e o passado do futuro, máxima que por certo milhões de eleitores há muito tempo já compreenderam por intuição, quando foram retirados da miséria indigente.
Um outro aspecto pouco explorado na entrevista foi a teimosia de Serra buscar construir uma imagem de que a Saúde Pública brasileira estava um caos no governo atual. Não está, mas persistem os mesmos problemas estruturais que tinha na época em que Serra esteve a frente do Ministério da Saúde. Como bom administrador que diz ser, o candidato tucano deveria ter a honradez de reconhecer o quanto é complexo resolver problemas estruturais de sistemas universais com administração descentralizada como é o SUS, com seus três níveis de gestão com competências e autonomias próprias. Dos avanços que houve ele não quis saber, ignorou olimpicamente, embora fosse visto entre os primeiros a pedir famácia popular, ambulância para o Samu e buscar a captação de recursos para as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), que fazem parte da Política Nacional de Atenção às Urgências, implantadas no governo Lula. Ainda nessa linha, o ex-ministro da saúde de FHC trombeteia que administra não com a cessão política de cargos, mas com a competência. É uma meia verdade. Quando foi ministro da saúde é verdade que Serra teve uma assessoria de alto nível de técnicos e intelectuais da saúde ligados ou filiados ao Partido dos Trabalhadores. Mas todos na maioria em condição de assessores, sem qualquer poder decisório e contratados por organismos internacionais. A maioria dos secretários, diretores e coordenadores nacionais do Ministério da Saúde, nomeados em DAS, eram do PSDB e aliados. Hoje, Serra não dá os créditos a aqueles assessores que, por dedicados a saúde pública, deram-lhe a chance de falar sobre medicamentos genéricos e políticas para a AIDS.
Mas, a maior sujeira que Serra poderia praticar no ar não foi o hábito contumaz de tirar bustela do nariz, como testemunham registros fotográficos na blogosfera, mas aquela afirmação mal dissimulada de que seu candidato a vice não estava com ele só pela possibilidade de ele, Serra, caso eleito, não vir a concluir o mandato presidencial. Não foi fortuita a decisão de tangenciar o problema de saúde sofrido pela ex-ministra Dilma Roussef no ano passado. Sei de fonte segura que o PSDB e o DEM estudam um modo de usar o fato como arma para tirar votos da candidata petista. Só não o fazem agora porque ainda receiam os efeitos que possam daí derivar. Mas, estejam certos, Serra fez um teste na noite de hoje e à vista dos olhos complacentes de William Bonner, que não fez qualquer admoestação ao entrevistado por introduzir assunto por completo à margem da pergunta. Tomem nota disto.

8 comentários:

Anônimo disse...

Tú não toma jeito,rapaz!
Depois da entrevista do Serra, sem dúvida o mais preparado e competente de todos os candidatos , fiquei ansioso à espera do teu comentário.
Tú já começas a fazer parte do folclore da atual saison política, com tuas "verdades" definitivas assemelhadas, em fundo e forma , às do teu Guia Supremo , esse beócio que , graças ! , em pouco tempo será apenas uma péssima lembrança na memória nacional.
Aquieta-te , rapaz , a hora tua e dos teus tá chegando. Mas, não deixa de obrar tu obra . É de morrer de rir....

Itajaí disse...

Se eles estão assim tão certos do que dizem, por que perdem seus tempos preciosos com rosnados como esses, a exemplo? Pois essa foi a piada que o mau palhaço, no anonimato, contou.

Paulo Albuquerque Bentes disse...

Itajaí, você daria um ótimo comediante e um maravilhoso "expert" em contrapropaganda. Procura colocar as ideias dos adversários em contradição com a realidade dos fatos. Demostrando de forma cabal seu real interesse. Você é hilário!!!

Itajaí disse...

Rapaz, ainda tens alguma dúvida do meu real interesse? Pensei que fosses mais perspicaz.
Eu nunca escondi minha posição política. Ela sempre esteve presente nos posteres que assinei entre os mais de 6000 que compõem a biblioteca deste blogue!, à disposição dos mais de 300 leitores diários dessas páginas.
Se você não os viu, só veio incomodar-se agora, é porque ou se trata de um neófito por aqui, ou porque é portador de amaurose ideológica em alto grau.
Então queres dizer que o Serra e tu podem contrastar fatos, mas eu não? Que esse direito também é extensivo ao Bonner, a Fátima Bernardes, a Míriam Leitão, ao Merval Pereira, mas a mim não cabe? Francamente... Discordar do que eu digo do seu candidato é um direito seu, mas não ocupe esse espaço com tatibitates, pois eles não acrescem nada no que foi escrito.
E aviso a você o seguinte: essa conversa de que propaganda é isenta foi uma das estórias que o lobo contou pra Chapeuzinho. Garoto, eu de você abria, porque entraste na cabana errada: aqui só tem caçador

Carlos Barretto  disse...

Itajaí
Ainda perdeste muito tempo respondendo estas participações meramente provocativas, normalmente protagonizadas por anônimos ou pseudoidenticados. "Trollers" por excelência. Algo previsto por mim há algum tempo atrás, quando conversamos em algumas "reuniões virtuais de diretoria". Afinal, estamos aqui "comendo estrada" desde 2006. E em todo período eleitoral, isso sempre acontece. Estes cometimentos, de tão superficiais e desprovidos de qualquer propósito mais edificante chegam a ser enfadonhos de tão previsíveis. Não se diferenciam em nada do velho e encardido "bullying".
De qualquer maneira, parabéns pela tolerância e disposição em manter o espírito democrático do blog, publicando a "rasgação" desta galera.
Abs

Prof. Alan disse...

Com todo o respeito aos amigos Flanares: eu acho que vocês todos perdem tempo permitindo comentário anônimo. Eu queria ver a pança do anônimo lá de cima se ele tivesse que assinar...

Respeito a decisão de vocês, mas pra evitar essa valentia toda de joga-a-pedra-esconde-a-mão é que eu não dou espaço pra covarde no meu Blogosfera.

Itajaí disse...

Prof. Alan,
Já tivemos longa discussão entre nós com respeito ao anonimato aqui na "reunião de diretoria". O consenso foi de aceitar até o limite da molecagem ou da inconveniência. Tem dado certo, mas decerto pouparia trabalho se não fosse permitido.

Carlos Barretto  disse...

Já desenvolvi um faro pra molecagem de longe. Nem dou trela pra esses "trollers".