segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Mosqueiro e uma parte de meu coração

Mosqueiro, como os leitores habituais já devem saber, tenta ser a minha praia preferida. As razões para isso já foram fartamente explicadas em dezenas de posts a respeito. Uma longa trajetória familiar, construiu a casa que mantemos naquele lugar. Desde os tempos mais difíceis (e belos) quando não havia luz elétrica, nem telefones e nem água encanada. Vem desta época inclusive, as imagens mais marcantes da minha infância, onde podia ver um céu de estrelas fantástico, sem a desagradável interferência da iluminação pública. Vem desta época, a lembrança do frenesi que animava a família, no período de férias escolares, onda lá passávamos um mês inteiro. 
Mas o tempo passa e aos poucos, vamos absorvendo a idéia de que esta visão romântica não mais voltará. Passou! Fim! 
Hoje, Mosqueiro ainda continua tentando ser o lugar onde tento ouvir a voz de meu coração. É pena que muitas vezes, as vozes das ruas não permitam esse elementar exercício de introspecção. E as vozes das ruas, na esmagadora maioria, vem de aleijados mentais que montados em carros de alto custo, assolam as praias com suas boates de mal gosto ambulante. Carros de alto custo, eu disse.
Mas tirando esta desagradável contenda, sempre há um dia onde ainda podemos surpreender os aleijados e lá, poder curtir os bons ventos de outubro/novembro.
Neste fim de semana, resolvi fazer uma das coisas que mais aprecio fazer com meus filhos. Uma ronda no amplo quintal com 70 metros de profundidade, onde algumas espécies nativas foram preservadas, outras foram plantadas e a grama foi sendo ampliada até quase atingir seu antes, quase inacessível fundão. Neste passeio, vamos sempre sentindo o relógio que ciclicamente a natureza cumpre por ali. Tem a época dos abius, dos taperebás, do cupuaçu, dos camaleões, dos passarinhos, etc. Enquanto nós visitamos a ilha de maneira periódica, um motor continua girando por lá, a despeito de tudo e de todos.


Após me instalar nesta inesquecível salinha e fazer os contatos rotineiros, saí com os filhos para o passeio que  agora compartilho com os leitores. 


Primeira parada. O pé de mogno, plantado solenemente no início deste ano, junto com meus filhos. Digo solenemente, porque ensinei-os a nunca plantar uma árvore de forma inconsequente. Há que se escolher a hora certa e estudar meticulosamente o local do plantio. De lá, com sorte, aquela árvore jamais será removida. E seu impacto no quintal, deve ser estudado. E assim fizemos, como forma de retribuir um presente de uma bela, doado do fundo do coração. Pois ele está lá. E para nossa surpresa, até um pequeno ninho abandonado estava por lá.


Fomos em seguida ao cupuaçuzeiro, que nos reservava outro espetáculo. Um ninho ocupado por dois passarinhos, que, sonolentos, esperavam a mãe. Ficamos encantados com a oportunidade de olhar bem de pertinho. Eles nem se aborreceram com nossa presença. 

 Aqui, um outro símbolo, que apesar de aparentemente vulgar, é de fato uma outra marcação de minha infãncia em Mosqueiro. Os caminhos de saúva. Jamais esqueci uma de minhas brincadeiras preferidas. Pegar umas duas ou três saúvas, colocar em um papel, que era fechado, de maneira a construir uma espécie de bolha acústica, onde ouvíamos o ruído agudo das bichinhas. Nunca fizeram isso? Experimentem.


Este é outro ponto marcante do vasto quintal. Um banquinho, construído entre duas enormes e antigas jaqueiras. A jaca, aliás, é um fruto que nunca me atraiu. Mas há quem goste. O que realmente me agrada é sua sombra e o tamanho de seu fruto. Mas neste banquinho, ao menos duas gerações de crianças já apertaram seus corações.


Eis a grande novidade desta temporada. Um exuberante pé de capim-marinho, cresce e se desenvolve, cuidado pelas mãos experientes de nossa querida caseira Patrícia.


E a sempre esperada apoteose do passeio. A visão impressionante dos 3 taperebazeiros - provavelmente centenários, uma vez que lá já se encontravam antes da construção da casa - que na passagem de ano, perfumam a área com seu odor característico. Podemos senti-lo da praia, alguns metros em frente.


E ao final, é claro, nada como ver meu menorzinho, levar de lavada naquela "bolinha", fustigado pelas crianças nativas, mais ágeis, mais coradas e mais experientes. Mas ele não tá nem aí. Segue quebrando as canelas dos rapazes. Por conta disso, o estoque de roupas que tenho que levar pra ele quando vamos para lá, é sempre maior. Há que  trocá-las periodicamente ao longo do dia. Isso, se não quisermos que ele por inércia, mantenha-se com a mesma roupa imunda e lamacenta ao longo do período.

11 comentários:

Raul Reis  disse...

Belas fotos e belo texto! Jaca cai da árvore? Se cair, espero que não seja na cabeça de ninguém sentado naquele aprazível banquinho!

Carlos Barretto  disse...

Rssss.
Que eu saiba, jaca não cai da árvore, Raul.
Mas por via das dúvidas, nada como dar uma olhada pra cima antes de sentar.

Abs

Tanto disse...

Guarda uma Jaca pra mim? É minha preferida. Vamos combinar coisas legais em Mosqueiro?

Carlos Barretto  disse...

Vamos, sim, Fernando.
Já tentei te convidar em outros momentos. Mas Vamos ver se marcamos pra algum fim de semana de Novembro. Quando os ventos são mais fortes. Mas, talvez não hajam jacas.

Yúdice Andrade disse...

Ei, Barretto, e aquele peixe com molho de taperebá que nos prometeste anos atrás? Se convidares o Fernando primeiro, vai rolar jaca para todos os lados!
Ahahahahahahahah

PS - Tô aceitando uma jaca de presente.

Carlos Barretto  disse...

Ahahahahahah
Mas eu nunca prometi o molho de taperebá, Yudice.
Prometi o peixe, que a despeito de minhas experiências piromaníacas na cozinha, sei fazer bem empanando ou em caldeirada.
E vc, amigo, não só é um convidadíssimo de honra, bem como um devedor de sua sempre agradável companhia junto com Polyana e Julinha.
Mas jacas, só em outro período do ano. Por lá, nossas frutas serão cupuaçu e taperebá.

Abs

Edyr Augusto disse...

Carlos, a cada post seu feito sobre Mosqueiro, meu coração se enche de saudades e amor pela ilha. Estive por lá um domingo desses, levando meu golden retriever Antonio para dar uma volta na praia de Porto Arthur. Estava um dia lindo, calmo e ventilado. Que coisa linda! Preciso achar um tempo para escrever alguma coisa sobre o meu Mosqueiro!
Abs
Edyr

Carlos Barretto  disse...

Sei disso, Edyr.
E quero que vc saiba que tenho vc sempre em mente quando escrevo sobre a ilha. Tenho certeza, pela sua participação nos comentários de outros posts semelhantes, que Mosqueiro, é algo que temos em comum.
Vamos um dia nos encontrar por lá. Acho que é uma questão de tempo.
Abs e obrigado pela visita.

. disse...

Curioso ler ter apreço pelo mogno.

Carlos Barretto  disse...

Ele é intocável! A despeito de tudo.

Lafayette disse...

Jaca cai de árvore. Mas depende do tipo da jaca... só isto que sei.

Sabia que, quanto mais tem saúva trabalhando, ainda mais se elas adiantam a "temporada" de estocagens, significa que o inverno será menos ou mais rigoroso? Pois sim, pois sim...