Sainte-Chapelle - Paris (Imagem: Autor desconhecido - Google Images) |
Em 19 de abril de 2008, publiquei um post sobre um dos lugares que ainda considero como um dos mais preciosos que tive oportunidade de visitar. 100% de certeza que voltarei a visitá-lo agora em outubro, levando outros olhos que, certamente, também irão se maravilhar. Da mesma maneira que me emocionei há 3 anos atrás. Mas o mais interessante por trás deste singelo post, foi o depoimento excelente deixado na caixinha de comentários, pelo querido José de Alencar.
Leia abaixo a íntegra do comentário.
Caríssimo blogger.
1) Realmente, a Sainte-Chapelle é uma jóia gótica encravada no Ministério da Justiça de França. São Luís podia não entender nada de coroa de espinhos - adquirida por ele em uma época em que as falsificações de relíquias estavam em voga - mas entendia de capela. É impossível, inclusive para ateus e agnósticos, não se maravilhar com essa exuberante capela gótica.
2) É um desses lugares que devemos visitar pelo menos uma vez na vida. Conheci em Paris uma senhora gaúcha, avançada na idade, com problemas de visão, mas vigorosa o bastante para encarar uma uma excursão da Abreu. Um dia ela pediu para desligar-se do grupo porque queria visitar a Sainte-Chapelle. A guia, compreensiva, fez o possível para ajudar. Uma amiga dela, também gaúcha, explicou-me depois: ela sabia que aquela seria a última chance de rever a capela, pois sabia que estava perdendo a visão e a vida estava chegando ao fim. Ela foi, não sei como, mas foi. E ao reencontrar com ela no dia seguinte, ela estava transfigurada. Era alguém que realizava um último e recôndito desejo e com alegria e ânimo de fazer inveja aos mais moços, fruia a vida que lhe era dada para viver. Alegre e feliz por ter visto a capela, ainda que pela última vez. Nunca esqueço dela e até hoje lembro do seu rosto, dos óculos, da cor do cabelo e da alegria de viver. Foi assim que aprendi a gostar da capela antes mesmo de conhecê-la (fui lá depois).
3) Na última vez que lá estive presenciei uma cena inesquecível. Era dia de Corpus Christi. De repente, um grupo de alemães - a cidade estava cheia deles no feriado - postou-se em um lugar que parecia escolhido ao acaso e começaram a entoar - à capela - uma Ave Maria em latim. Todos os visitantes pararam para ouvir as afinadíssimas vozes - cinco - e até os guias fizeram respeitoso silêncio. Era um pequeno coro que tinha vindo da Alemanha exclusivamente para aquela performance, porque naquele exato ponto a acústica da capela é simplesmente fantástica (aqui em Belém, na Igreja de Santo Alexandre também tem um ponto G desse, me disse Maria Antônia, nossa maestrina cubana). Terminaram de cantar, saíram silenciosamente como entraram, sem muita conversa, deixando atrás uma pequena multidão de turistas do mundo inteiro simplesmente maravilhados com o que haviam acabado de ver e ouvir. A combinação de luz dos vitrais com a divinal música dos alemães até hoje está gravada na minha retina, nos meus ouvidos, no meu cérebro.
4) Assim aprendi que a capela é para ver, ouvir e ... viver.
5) Por tudo isso, meu caro blogger, muito obrigado por me propiciar tão boa lembrança e compartilhar com seus leitores tão boa indicação.
Seja feliz.
Vida longa para você e para o Flanar.
Um comentário:
Charlie, é interessante o fato de que a Saint Chapelle é visitadíssima por norte-americanos e quase que não lembrada pelos turistas brasileiros. O porque, eu não entendo.
O melhor horário de curtí-la é à tarde, de preferência num dia ensolarado (este mês promete ainda alguns dias bons no hemisfério norte - é o que os alemães chamam de "os últimos dias da viúva").
Enfim, como disse o Alencar, veja, ouça e viva!
Abs.
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