sábado, 21 de janeiro de 2012

Minha memória da Kodak

As palavras Instamatic e Flashcubes fazem algum sentido pra você?
Pois saiba que para mim, chega a ser cruelmente constrangedor a certeza que muitos sequer tenham idéia do que elas representaram no passado. Falo da fotografia doméstica, "popular", do retrato, do registro das férias, viagens, e principais eventos familiares. Do mesmo tipo de fotografia que milhões de pessoas de todo o mundo continuam a fazer, com uma vital diferença: agora, usam câmeras digitais.
Na esteira do post Kodak: R.I.P., vamos então relembrar apenas uma época dos 131 anos da Eastman Kodak. 

1) Kodak Instamatic
Instamatic 100
Esta época começa em 1963, quando a Kodak lança no mercado a primeira câmera de baixíssimo custo. 
Era de plástico resistente, leve, elementar, pequena o bastante para caber num bolso. Batizou-a de Instamatic e na sequência, fabricou uma enorme família de Instamatics de enorme sucesso e impacto no mundo da fotografia não profissional. De uma hora para outra, mais pessoas poderiam usar a fotografia. 
Como fabricante majoritária de películas fotográficas, era óbvio que popularizar a câmera, traria mais lucros com a venda dos filmes e acessórios que fabricava. 
Notaram a estratégia? Nada de novo. Afinal, é exatamente o mesmo modelo que fabricantes de impressoras adotam neste exato momento. Lucrar com os caríssimos cartuchos de tinta.

Vejam o jeitão da primeira delas, a Instamatic 100, na imagem acima. Observem o flash acoplado. Um bulbo descartável de uso único. 

Vocês leitores que usam suas câmeras digitais agora, aproveitem e entendam como era a dinâmica da fotografia analógica "popularizada" daquela época. 
Comprávamos uma câmera como esta, comprávamos um filme (P&B ou Color com 24 ou 36 poses), e saíamos fotografando. Não havia como conferir se a imagem ficava boa ou não. A Kodak garantia, que se você a utilizasse respeitando estritos limites de luz e proximidade, a maioria delas seria satisfatória. E isso, na maior parte das vezes, acontecia. Esgotado o número de cliques que o filme permitia, levávamos a uma loja de fotografia. Pagávamos de novo pela revelação, que no início, chegava a demorar quase 1 semana. Só muito depois, surgiriam as máquinas que revelavam as imagens em poucas horas. Ao fim, recebíamos um envelope com as imagens e o rolo com o negativo. Se quiséssemos mais cópias para compartilhar com amigos e familiares, precisávamos dos negativos, revelando mais uma vez apenas as imagens desejadas. Além disso, é óbvio que nem todas ficavam boas. Era comum comemorar quando aproveitávamos 100% dos cliques.

Sacaram a onda? Clicar, pelo custo de todo este complicado processo, era algo de alguma responsabilidade. Fazer imagens de si próprio (como muitas e muitos adoram hoje), dos pés, da ferida do Juquinha, do gato de fulana, da folha do manjericão da sua avó, era um crime passível de uma boa surra. Afinal, alguém teria que pagar por tudo. E lembro que filmes e revelação não eram nada baratos.

2) FlashCubes
Perceberam como eram os flashes da primeira Instamatic? Um único bulbo, garantia uma única imagem com Flash. Isso, pelo simples fato de que o bulbo se queimava após um único uso. 
Foi então que as novas Instamatics foram lançadas com um estranho encaixe para uma grande novidade. Chegavam os Flashcubes
Representavam um avanço na tecnologia do bulbo único. Ao invés de apenas 1, os novos cubos espelhados tinham 4 bulbos. A cada clique, quando   o filme era avançado, o cubo também girava, expondo um novo bulbo ainda não queimado. Com isso, com um único Flashcube, agora podíamos fazer 4 imagens com flash. Depois, é claro,  tínhamos descartá-lo e adquirir outro. Sendo assim, se fotografássemos todas as 36 poses de um filme, precisaríamos de 9 cubos. E eles, também não eram nada baratinhos.
Como curiosidade, vejam esta propaganda da época de seu lançamento.



Esta foi uma época que eu conheci. Era como papai e mamãe fotografavam. E que controlavam rigorosamente aquilo que faríamos com a preciosa câmera.  Uma época em que a toda poderosa Kodak, ditava o mercado de fotografia. 

Um comentário:

Marise Rocha Morbach disse...

Prá mim a Kodak trouxe muitos sentidos; e muitos deles passam pelas emoções. Sempre gostei de observar imagens e de dar sentidos históricos e estéticos prá todos elas. Nunca olho uma imagem de forma "natural", daí minha área de estudos. Kodak me lembra Miguel Chikaoka; me lembra Livia Condurú e todos as nossas despesas prá mantê-la fotografando. Me lembra festas de aniversário; imagens históricas sobre as grandes guerras e do fotojornalismo. Poxa, Kodak é sinônimo de instantaneidade, de momento, de muitas coisas tristes e alegres que os meus olhos puderem conhecer ao longo desses 50 anos em que estou por aqui.