Já que meu viés de hoje é relembrar, durante a pesquisa para o post anterior, acabei encontrando outro ícone de uma época, que teve seu auge em 1960.
Na verdade, neste ano, nem sequer estava nos planos de meus pais. Viria ao mundo dois anos mais tarde. Contudo, acho que acompanhei o finalzinho de um programa de muito sucesso da televisão brasileira, que, certamente, encantou milhares de jovens, adultos e crianças da época. Uma época que nem a televisão era colorida. Mas já tinha seus campeões de IBOPE.
Falo do programa Telecatch (que hoje possui só este modesto link na Wikipedia).
Na minha época, graças ao patrocinador, era conhecido como Telecatch Montilla. Sem a menor dúvida, um evento absolutamente bizarro aos nossos olhares contemporâneos. Quase incompreensível. Fingia ser um autêntico programa de luta livre. Mas aos olhares minimamente esclarecidos, não escondia sua estrutura circense e flagrantemente "combinada", como se dizia na época. Era um fenômeno televisivo que misturava encenação teatral, combate e circo. Neste sentido, haviam os heróis, e, é claro, os vilões.
Na minha época, graças ao patrocinador, era conhecido como Telecatch Montilla. Sem a menor dúvida, um evento absolutamente bizarro aos nossos olhares contemporâneos. Quase incompreensível. Fingia ser um autêntico programa de luta livre. Mas aos olhares minimamente esclarecidos, não escondia sua estrutura circense e flagrantemente "combinada", como se dizia na época. Era um fenômeno televisivo que misturava encenação teatral, combate e circo. Neste sentido, haviam os heróis, e, é claro, os vilões.
Pois este post é para relembrar um dos mais famosos heróis do Telecatch.
Chamava-se Ted Boy Marino.
Chamava-se Ted Boy Marino.
Italiano, nascido na Calábria em 18 de Outubro de 1939 como Mário Marino, Ted Boy Marino passou parte da juventude em Buenos Aires, de onde absorveu parte do linguajar complicado que usava para se comunicar. Misturava italiano com espanhol. Muito embora na vida artística, o espanhol portenho predominasse.
Como os leitores podem observar na imagem acima, o cara na época tinha 21 anos. Era dono de uma ótima aparência, louro, de corpo atlético e aparentava entender minimamente de luta livre. Mesmo considerando todo o jogo de cena da produção.
Sendo assim, ele era perfeito para os propósitos midiáticos da época. Invariavelmente, nas ruidosas lutas não tinha para ninguém. Em algum lugar, algum produtor/caçador de talentos, havia decidido que Ted seria herói para sempre. Não me lembro de ter visto alguma luta onde ele tivesse conhecido o gosto amargo da derrota. Sua missão era tão flagrantemente fabricada, que as lutas pareciam seguir um roteiro imutável. Só após a entrada de seus adversários, o louro Ted Boy surgia acompanhado de música, luzes e gritaria. Na maior parte das vezes, trajava uma espécie calção brilhante colado ao corpo atlético e uma capa (dos quais jamais pude saber as cores). A citação ao Super-Homem dos HQs da época, era quase que automática. Ele era de fato um personagem encantador.
O cruel "Verdugo" em ação. |
E os seus adversários? Claro que eram outro espetáculo à parte.
Em geral, eram brutamontes, muitas vezes com o dobro de seu peso, vestindo trajes assustadores e muito malvados. Seus pseudônimos curiosos ampliavam as emoções: Verdugo, Múmia, Rasputim, Barba Negra, Tigre Paraguaio, etc. A idéia era aumentar o valor da derrota que Ted Boy sempre lhes imputava. Mas nem pensem que era assim fácil. Afinal, se assim fosse, certamente o sucesso não seria tão expressivo.
Em geral, eram brutamontes, muitas vezes com o dobro de seu peso, vestindo trajes assustadores e muito malvados. Seus pseudônimos curiosos ampliavam as emoções: Verdugo, Múmia, Rasputim, Barba Negra, Tigre Paraguaio, etc. A idéia era aumentar o valor da derrota que Ted Boy sempre lhes imputava. Mas nem pensem que era assim fácil. Afinal, se assim fosse, certamente o sucesso não seria tão expressivo.
E como eles eram maus! Alguns urravam para a platéia, provocando-a e recebendo em troco aquela sonora vaia. Como se não bastasse, ao longo da luta, usavam de expedientes cruéis e desleais, que os "juízes" pareciam fazer "vista grossa". Somente os excitados narradores televisivos observavam. Verdugo, por exemplo, tinha o desagradável hábito de (supostamente) esfregar limão nos olhos de Ted. Outros, aplicavam golpes extraordinários. Um deles, ficou conhecido como "tesoura voadora". Enfim, os adversários eram exatamente o oposto da figura de "rapaz comportado" do herói.
Eis então, que ficava claro aos olhos dos mais atentos (geralmente mais velhos), o "desenho" de cada luta. A invariável fórmula do sucesso. Qualquer mortal seria capaz de prever tudo o que aconteceria.
Nos primeiros rounds, Ted Boy era cruelmente surrado. E não era pouco. Tesouras, socos, gravatas e aqueles expedientes desleais já citados. Uma surra monumental. Muitas vezes, de forma humilhante, Ted era literalmente "salvo pelo gongo", quando então, alguns oponentes de tão malvados, recusavam-se a largá-lo, obrigando os (sempre muito cegos e tolerantes) "juízes" a separá-los. Lembro até, que não foram poucas vezes que um juiz chegou a ser igualmente surrado por um destes brutamontes. Para o mais absoluto (previsível/desejável) HORROR da "platéia" e telespectadores.
Eis então que, subitamente, como se incorporasse uma entidade acordasse de um sono profundo, o herói Ted Boy Marino voltava ao ringue com uma comportada sede de vingança. É claro que não podia mostrar ao público, qualquer atitude feia ou incorreta, capaz de macular sua calculada fama de bom moço. Mas ele voltava meio possuído. E, sem jamais lançar mão das mesmas armas desleais de seus ferozes adversários, derrotava-os aplicando-lhes um elegantíssimo e bem treinado voo com os pés. Um golpe que se eternizaria com o nome de "tacle". Com ele, expulsava espetacularmente seus algozes do ringue, para o mais absoluto delírio de todos.
Era uma beleza!
Por incrível que pareça, toda essa maluquice um dia fez enorme sucesso no Brasil. E o termômetro deste sucesso, era demonstrado em outro elemento inesquecível da época: o álbum de figurinhas. Todos os personagens de sucesso na TV, logo eram incorporados a eles. E foi assim, que gravei os nomes de muitos destes e de outros personagens da época.
Vejam abaixo, um ótimo vídeo que encontrei. Um raro registro histórico destes momentos.
E o que terá acontecido com Ted Boy Marino, que deverá completar 73 anos em outubro próximo?
Pesquisei. E ele ainda está bem vivo. Após o fim do Telecatch, Ted ainda participou de alguns filmes e programas humorísticos na televisão como "Os trapalhões" e "A Escolhinha do Professor Raimundo".
Encontrei entretanto, esta boa matéria feita por um canal de televisão (que não consegui identificar), com imagens recentes deste incrível herói da década de 60/70.
Para mais detalhes sobre as andanças de Ted, prefiro deixar que o leitor consulte este verbete da Wikipedia.
Pesquisei. E ele ainda está bem vivo. Após o fim do Telecatch, Ted ainda participou de alguns filmes e programas humorísticos na televisão como "Os trapalhões" e "A Escolhinha do Professor Raimundo".
Encontrei entretanto, esta boa matéria feita por um canal de televisão (que não consegui identificar), com imagens recentes deste incrível herói da década de 60/70.
Para mais detalhes sobre as andanças de Ted, prefiro deixar que o leitor consulte este verbete da Wikipedia.
3 comentários:
Incrível, meu amigo, é o tal de UFC fazer tanto sucesso hoje em dia, sem a mesma encenação quase pueril que seu texto descreveu. É violência, brutalidade, e o povão adora. Triste.
Até onde me lembro a Múmia era o saco de pancadas do Telecatch. Apanhava de todo mundo, parecia boi fujão.
Além do Ted Boy Marino tinha um outro cara que eu vibrava quando via no ringue, era o Fantomas.
Bons tempos aqueles, em que nos divertíamos vendo uma marmelada tão descarada como o Telecatch...
Não nos esqueçamos do telecatch regional que tínhamos, com destaque para Búfalo e Tourinho, o mau e o bom, que viviam se enfrentando nas telas da Marajoara. Como era bom!
Abs
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