Com atraso de quase três décadas, somente em fevereiro último li a obra-prima de William Gibson, Neuromancer, de 1983.
Conforme já relatado na postagem O Elo Perdido, o livro (aliás, um dos 100 melhores romances em língua inglesa do Século XX, segundo a revista Time) lançou um sub-estilo de ficção científica conhecido como Cyberpunk, e introduziu conceitos até então inimagináveis como cyberespaço, internet, hackers, vírus e até tecidos transgênicos.
Muito do seu conteúdo pode ser visto (mesmo que adaptado) no filme Matrix, de 1999.
Nada poderia ser mais natural, após a leitura desta densa obra futurista, do que mergulhar de cabeça nos outros dois livros de Gibson que dão sequência a Neuromancer: Count Zero (de 1986) e Mona Lisa Overdrive (de 1988; ambos da Editora Aleph).
Apesar de ter gostado dos dois, fiquei com uma curiosa sensação de déja vu, ou melhor, de déja senti, bem semelhante ao que aconteceu quando assisti Matrix Reloaded (de 2003) e Matrix Revolutions (também de 2003) , as continuações de Matrix.
A primeira obra da trilogia, Neuromancer, assim como o primeiro Matrix, deixa o leitor/espectador diante de uma infinidade de estradas, ramais e trilhas psicológicas, verdadeiras highways de liberdade e de sentimento, povoadas pela sensação de que temos escolhas antes do propósito final, ou seja, do fim.
Apesar de muito bem escritos, Count Zero e Mona Lisa Overdrive, assim como os bem-feitos Reloaded e Revolutions, não precisavam ter existido na realidade e sim talvez só virtualmente, pois nada ou pouquíssimo acrescentaram ao substrato original.
Algumas coisas não devem ser ditas, feitas ou mesmo concluídas. Nunca.
Anyway, a vida virtual dos habitantes deste mundo projetado há 30 anos talvez não seja assim tão diferente das nossas próprias vidas reais.
Como pontuou Lawrence Person, sobre o universo cyberpunk:
"Os personagens do cyberpunk clássico são seres marginalizados, distanciados, solitários, que vivem à margem da sociedade, geralmente em futuros despóticos onde a vida diária é impactada pela rápida mudança tecnológica, uma atmosfera de informação computadorizada ambígua e a modificação invasiva do corpo humano."
Qualquer semelhança com a realidade é apenas uma questão de download.
11 comentários:
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Essa literatura foi capturada pelo mundo do cinema com retornos financeiros gigantescos. Assisti os três, mas só gostei do primeiro. Penso que no primeiro o "fim do humano" ficou muito bem descrito. Depois passou prá uma coisa que tenho horror crescente: crenças religiosas. Não que no primeiro isso não fizesse parte da trama. Uma coisa curiosa é a associação de determinados valores ao mundo das crenças africanas.Uma mistica que tem levado inúmeros ativistas negros a protestar.O fato de ter que construir cenários e sensações sobre a "virtualidade" não deveria levar aos cultos afros, ou à ideia de que pobreza e marginalidade encerram virtudes ocultas.Se faz muito isso com a cultura africana; e o cinema norte americano é campeão na produção dessa relação.
Poderia citar inúmeros filmes, mas o último da trilogia Matriz é o suficiente. Basta ver a cena final.
Abração Scylla.
Sobre "Matrix", sou precisamente da mesmíssima opinião de Marise.
Mesmo possuindo os 3 episódios (como todo "nerd" assumido) , só gostei do primeiro.
Os demais, me pareceram uma extensão desnecessária que acabaram comprometendo o conjunto.
E aquele final do terceiro episódio??!!! Caraca! Que coisa horrorosa!
Fui muito criticado por outros "nerds" fanáticos por esta opinião.
Mas enfim...
Rsss
Carlos Barreto, não entendo muito sobre os nerds, talvez não tenha captado o sentido disso aí. Meu filhote tem a trilogia; eu não o considero nerd; talvez por que não saiba do que se trata. Quero saber!
E concordo com você, o final é horroroso!
Sim, senhora! Rssss
Marise, entendo que Hollywood explore à exaustão toda e qualquer possibilidade de lucro, e assim foi com Matrix.
Os irmãos Wachowski, no entanto, ganharam sinal verde da Warner com o pouco esperado mega-sucesso de Matrix e tiveram a chance de fazer o que quisessem nas continuações (aliás, são um só filme dividido no meio).
E falharam. E de novo em V de Vendetta, e em Speed Racer, e em etc...
Só acertaram em Animatrix, lançado em DVD, com 9 maravilhosos desenhos animados. Ou pelo menos eu acho.
Já Gibson, cujo livro Neuromancer foi uma obra de enorme magnitude no gênero, deveria ter virado esta página e, ao enveredar pela religião vudu/rastafari em Count Zero e ao criar um final polêmico demais em Mona Lisa Overdrive, estragou tudo.
Ou quase tudo.
Um grande abraço.
Barretto, você conhece o Dr. Sheldon Cooper?
Rsssss
Sim, senhor.
Mas aquele é um tipo especial de "nerd" que eu já teria atacado com o sabre de luz de Star Wars. Impiedosamente.
Kkkkkkkk
Rsssss
Alguém realmente ainda poder duvidar que inovações como o Google, smartphones e acesso sem fio à Internet estão mudando a forma como nosso cérebros e memória e emoções operam?
ASF, imagine a revolução cerebral que o avanço da "Inteligência Artificial" vai provocar.
Abs.
Sem dúvida Scylla.
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