terça-feira, 19 de junho de 2012

Machado de Assis




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Dois personagens da literatura mundial eu li no mesmo período. O Brás Cubas de Machado de Assis. E o Mattia Pascal de Pirandello. Aos dois devotei as melhores palavras. Grandes textos: grandes personagens. Grandes escritores.  Os dois  vão dar exemplos muito próximos; mas Machado de Assis escreve antes o seu Memórias póstumas de Brás Cubas. No final do séc.XIX ; e os dois  sabem muito bem do que estão falando: de uma certa maneira de viver e pensar  revelada com  cinismo; tanto por Brás Cubas, quanto por Mattia Pascal. Os dois são cínicos. Hedonismo e uma pitada do Mal Estar do séc. XIX, estão nos dois personagens. Além dos exemplos, o século XIX  é romântico por vocação.  Nessa atmosfera se encontram o Brás Cubas(1881), de Machado de Assis; e o Mattia Pascal(1904), de Pirandello. Bem a propósito de todo um século que viveu a se perguntar sobre quase tudo. Talvez o século da grande indagação. E depois disso? Bom, depois da grande indagação, vem o cinismo de Brás Cubas e de Mattia  Pascal.  Olham a vida com desdém, picardia e uma grande dose de insolência. Sabem de seus fins, se propõem a vivê-los; no limite:  pensam na razão direta da classe social e política da qual fazem parte. São personagens que  revelam as condições históricas que os atam aos seus tempos. Tem vícios, muito mais que virtudes. Assim, Brás Cubas e Mattia Pascal podem ser situados no rol dos grandes  individualistas da sociedade  Moderna,  do mesmo modo que o Flanar de Walter Benjamin: circulando entre as multidões como um dos personagens de  Charles Baudelaire no seu Sobre  a  Modernidade.  Machado de Assis  empresta ao seu Brás Cubas um olhar risonho e desdenhoso sobre o  futuro de sua  classe social; o personagem se vê vivendo os últimos estertores  de um tempo no qual o ócio  tinha grande significância e expressão social. Vivia-se, digamos, de status! Além  disso, mesmo a mais inexpressiva das criaturas tinha do que desfrutar no final do XIX, no Rio de Janeiro, com a criadagem e os bens de Brás Cubas. Assim viveu Brás Cubas, desfrutando de tudo quanto  havia de melhor enquanto viveu.  Não soube o que era privação, pobreza,  nem subserviência. Viveu como lhe apontava o script. Sem concessões. E o que lhe indicava o script? Bom, dizia que ele haveria de se formar em Direito em Lisboa. Que haveria de se casar e de ter filhos.  Tinha uma irmã e um cunhado que não lhe inspirava grande afeto  mas que, no limite, o mantinha como conselheiro de suas decisões importantes; e do qual ficou sem falar por várias vezes na condição de que estariam a amadurecer as relações;  - mas se tratavam por conveniências e,  para Brás Cubas,  conveniências eram  coisas importantes. Assim Machado de Assis  vai descrevendo Brás Cubas: Ele não é um Dândi. Não é “um flanar”. Não é o destino. O personagem apenas vive aquilo que diz a Fortuna e a Classe. Seu tempo é de ócio; seu cotidiano: extensas horas de meditação e reflexão sobre a História. Além de uma  inabalável compreensão sobre quanto tempo tem uma Vida: o  personagem nasce Morto; é um  defunto autor.

Um comentário:

Marise Rocha Morbach disse...

Acreditem senhoras e senhores, não há o melhor dos dois mundos!