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Dois personagens da literatura mundial eu li no
mesmo período. O Brás Cubas de Machado de Assis. E o Mattia Pascal de Pirandello.
Aos dois devotei as melhores palavras. Grandes textos: grandes personagens.
Grandes escritores. Os dois vão dar exemplos muito próximos; mas Machado
de Assis escreve antes o seu Memórias póstumas de Brás Cubas. No final do
séc.XIX ; e os dois sabem muito bem do
que estão falando: de uma certa maneira de viver e pensar revelada com cinismo; tanto por Brás Cubas, quanto por Mattia
Pascal. Os dois são cínicos. Hedonismo e uma pitada do Mal Estar do séc. XIX, estão nos dois personagens. Além dos exemplos, o século XIX é romântico por vocação. Nessa atmosfera se encontram o Brás Cubas(1881),
de Machado de Assis; e o Mattia Pascal(1904), de Pirandello. Bem a propósito de
todo um século que viveu a se perguntar sobre quase tudo. Talvez o século da
grande indagação. E depois disso? Bom, depois da grande indagação, vem o
cinismo de Brás Cubas e de Mattia Pascal. Olham a vida com desdém, picardia e uma
grande dose de insolência. Sabem de seus fins, se propõem a vivê-los; no
limite: pensam na razão direta da classe
social e política da qual fazem parte. São personagens que revelam as condições históricas que os atam aos
seus tempos. Tem vícios, muito mais que virtudes. Assim, Brás Cubas e Mattia Pascal podem ser situados no rol dos grandes
individualistas da sociedade Moderna, do mesmo modo que o Flanar de Walter Benjamin: circulando entre as multidões como um
dos personagens de Charles Baudelaire no
seu Sobre
a Modernidade. Machado de Assis empresta ao seu Brás Cubas um olhar risonho e
desdenhoso sobre o futuro de sua classe social; o personagem se vê vivendo os
últimos estertores de um tempo no qual o
ócio tinha grande significância e expressão
social. Vivia-se, digamos, de status! Além
disso, mesmo a mais inexpressiva das criaturas tinha do que desfrutar no
final do XIX, no Rio de Janeiro, com a criadagem e os bens de Brás Cubas. Assim
viveu Brás Cubas, desfrutando de tudo quanto
havia de melhor enquanto viveu.
Não soube o que era privação, pobreza, nem subserviência. Viveu como lhe apontava o
script. Sem concessões. E o que lhe indicava o script? Bom, dizia que ele
haveria de se formar em Direito em Lisboa. Que haveria de se casar e de ter
filhos. Tinha uma irmã e um cunhado que
não lhe inspirava grande afeto mas que,
no limite, o mantinha como conselheiro de suas decisões importantes; e do qual
ficou sem falar por várias vezes na condição de que estariam a amadurecer as
relações; - mas se tratavam por
conveniências e, para Brás Cubas, conveniências eram coisas importantes. Assim Machado de
Assis vai descrevendo Brás Cubas: Ele
não é um Dândi. Não é “um flanar”. Não é o destino. O personagem apenas vive
aquilo que diz a Fortuna e a Classe. Seu tempo é de ócio; seu cotidiano:
extensas horas de meditação e reflexão sobre a História. Além de uma inabalável compreensão sobre quanto tempo tem
uma Vida: o personagem nasce Morto; é um defunto autor.
Um comentário:
Acreditem senhoras e senhores, não há o melhor dos dois mundos!
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