terça-feira, 14 de agosto de 2012

Amar e invejar...pois pois...

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Vinha no avião, hoje, de São Paulo, lendo um livro de Gilberto Freyre em que ele escreve alguns perfis sobre personagens importantes da vida intelectual e artística brasileira. E ele começa por Euclides da Cunha. Aliás, o livro leva o nome deste Perfil. Segundo Walnice Nogueira Galvão - que apresenta Gilberto Freyre e Euclides da Cunha -, [...] Perfil de Euclides saiu antes, e independente, em 1941, na excelente coleção de conferências da Casa do Estudante do Brasil, em que igualmente saiu a crítica do Modernismo, feita por Mário de Andrade.[...] Ainda segundo ela: " O perfil de Euclides é um clássico da crítica euclidiana." - Pois bem! - Eu vinha lendo e lembrando daquela minissérie que a Rede Globo fez da tragédia que se abate sobre  Euclides da Cunha; e pela qual ele vitimou-se. Foi morto pelo amante de sua mulher, Anna de Assis; pelo tenente Dilermando de Assis, em 15 de agosto de 1909. Euclides havia ido procurar  Dilermando para matá-lo; e morre, pois levou a pior. O Tenente apenas se defendeu; mas quem morreu foi ele. O texto de Gilberto Freyre, até agora, está genial. Mas voltando à Rede Globo. Ela produziu uma minissérie  interpretada por Tarcísio Meira(Euclides da Cunha), Vera Fischer(Anna de Assis) e Guilherme Fontes(Dilermando de Assis). Tanto Euclides, como o filho de Euclides,  foram mortos por Dilermando de Assis.No segundo, quando o filho de Euclides tentou matar o então marido da mãe: Euclides já estava morto. E a viúva Anna de Assis já havia casado com Dilermando de Assis. Bom! o texto é delicioso; e lá pelas tantas o Gilberto Freyre escreve o seguinte sobre os afetos de Euclides da Cunha:
[...] Euclides quase nada teve desses homens completos, bem equilibrados e saudáveis, de que Nabuco foi, no Brasil, uma expressão magnífica. O autor d'Os sertões foi um homem com uma grande dor, nem sempre disfarçada  nas cartas aos amigos nem nos livros que escreveu. Retraído e calado, era um indivíduo triste para quem a vida tinha poucos encantos; a quem o mundo oferecia raras alegrias. Natural, portanto, que não gostasse de Nabuco: o Nabuco bonito, elegante; mundano, afrancesado, ideias e roupas à inglesa, que lhe parecia artificial:[...] 
Dessa página em diante  fui encontrando os elementos que levaram Euclides da Cunha à cena da tragédia. Foi a inveja por Dilermando. Nele estava tudo que ele não tinha condições de ser. E que ele tanto gostaria de ser. Que coisa!

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Gilberto Freyre, 1900-1987. 
Perfil de Euclides e outros perfis. Apresentação de Walnice Nogueira Galvão. 3.ed. rev./São Paulo : Global, 2011.

2 comentários:

hupomnemata disse...

Oi Marise,
Com todo respeito por Euclides da Cunha, e até compreendendo seus ressentimentos, penso de Joaquim Nabuco é uma das figuras mais importantes da história brasileira. São imensas suas contradições. Seu dandismo não coaduna com a imagem do abolicionista. Sua defesa do Império não coaduna com o gran de democrata que sempre foi. Mas tudo isso faz parte da biografia controvertida, muitas vezes contraditória, de um sujeito que viveu plenamente seu tempo, produzindo uma perspectiva de mundo, e do papel do Brasil no mundo, que ainda resta por entender. Acho "Minha Formação", do Nabuco, uma obra prima. Tanto como "Os Sertões", do Euclides. Confesso que prefiro ler e reler 15 vezes Minha Formação que Os Sertões - mas disto se tratam as preferências pessoais. Enfim, para constar.

Marise Rocha Morbach disse...

Legal Fábio. Esse texto do Gilberto Freyre é soberbo porque vai desmistificando o Euclides da Cunha. Vai apresentando a dimensão humana de Euclides da Cunha e colocando a importância da obra de Euclides, e em termos mais humanos; e demonstrando porque Os sertões é uma obra tão difícil de ser lida. Quanto ao Joaquim Nabuco, não li "Minha formação"; só li "O Abolicionismo"; mas vou ler com certeza!