Modest Mussorgsky
A genialidade e o consumo exagerado de bebidas alcóolicas
frequentemente se encontram em algum ponto da vida de artistas, pensadores,
cientistas e mesmo de profissionais como médicos, advogados, empresários,
engenheiros e professores.
O álcool, se ingerido em pequenas doses, aproxima as pessoas
e as desinibe e talvez por isso tenha sido tradicionalmente um companheiro do
homem em sua trajetória social desde tempos remotos. Quando utilizado como um
hábito, no entanto, pode levar o usuário à obrigação de consumi-lo com
frequência crescente, trazendo à tona seu enorme poder destruidor, inclusive
através da devastação da capacidade criativa. Como então definir o ponto exato
do início de sua nocividade e como rotular o usuário?
Em termos etimológicos, alcóolatra
seria a pessoa que adora a bebida, e não necessariamente um viciado, um doente.
Encaixa-se aqui a figura do colecionador de bebidas, por exemplo. Alcoolista seria aquele que nutre
simpatia pelo álcool, o dito “bebedor social”, e alcoólico seria o verbete mais adequado para caracterizar o doente
por abuso desta substância, aquele que é realmente dependente do álcool, ou
seja, a pessoa que perdeu a capacidade de se abster do uso da bebida.
O primeiro nome que me vem à cabeça quando penso em um
artista influenciado e/ou destruído pelo álcool é o do compositor russo Modest Mussorgsky, autor da famosa (e belíssima) ópera Boris
Godunov (1870).
Aos 35 anos, Mussorgsky já assumia ser um bebedor
inveterado, e era comumente encontrado caído pelas ruas de Moscou, como um
mendigo. As suas composições passaram a ficar em grande parte incompletas,
graças à interrupção do processo criativo pela intoxicação alcoólica.
Até os retratos do músico não escondem os sinais do vício,
revelando um fácies típico dos alcoólicos, edemaciado e com o nariz
avermelhado.
Além de Boris Godunov,
sua música Noite no Monte Calvo
ficou muito conhecida através do desenho Fantasia, de Walt Disney, assim como a
releitura de Quadros de uma Exposição,
feita nos anos 1970 pelo grupo inglês de rock progressivo, Emerson, Lake & Palmer.
Mas como impedir a transformação de um alcoolista em um
alcoólico, evitando assim a destruição social e profissional de uma pessoa?
Parece não haver uma só resposta, pois a complexidade do
tema envolve fatores genéticos, ambientais e psicológicos.
Nós, humanos, temos prazer em beber e tal pode ser cultuado
sem culpa, desde que os nossos cérebros saibam nos fazer parar alguns passos
antes da intoxicação.
Saúde!
10 comentários:
Caríssimo Scylla, chegando do trabalho sem ter bebido uma única gota de álcool, me lembrei daquela música "eu bebo sim, estou vivendo, tem gente que não bebe está morrendo"; é uma doideira essa situação. Cada vez mais vejo os jovens meterem o pé na jaca com relação as bebidas. Há um tempo, um conhecido do Lucas provocou um acidente com morte na BR. Eu fico apavorada porque adolescentes e jovens tem uma outra visão do mundo(eu já fui uma,rsrs); o número de acidentes só aumenta entre esta faixa etária. Com relação a criatividade, penso que o álcool é um estimulante interessante; o dilema é o vicio. E, neste ponto, não vejo que as instituições responsáveis pelo controle sobre o uso estejam fazendo grandes coisas. E a publicidade que aborda essa questão ou descamba para a culpa, ou para o drama. É, de fato, um assunto difícil de ser abordado. Abs.
É, Marise, o tema é complicado de se dissecar satisfatoriamente.
O fato é que o álcool é uma droga legalizada e com um limiar pouco claro entre o consumo "social" e o vício.
Pelos testes da OMS, provavelmente o Flanar seria classificado como um blog "alcoólico".
Rss.
Abraços.
Of course, e sem o nariz vermelho, rsrsrs
Salut!
Kkkkkkkk!
Barretto, que bom ouvir a sua risada!!!
Saúde!
Flanar totalflex!!!! Kkkkk junto com o Barreto.
C'mon, Silvina, nada de totalflex ou de tetrafuel!!!
Somente gasolina podium!!!
Rss.
Esta semana assiti um lindo documentário sobre Raul Seixas. "O inicio. O fim. E o meio". Chorei e ri bastante. Acho que mais chorei do que ri. De todo modo, a história dele está quase umbilicalmente ligada ao álcool. De todo modo, reitero que não me sinto encorajada a criticar qualquer criatura - ainda que os mais famosos, do Clube dos 27 - pelo fato de aliarem sua arte, voluntária ou involuntariamente, aos etílicos. Não estou certa de que chego a romantizar o tema, como pode parecer para alguns. Vou de Baudelaire, um grande flaneur: "embriagai-vos! de vinho, poesia ou virtude" Cada um escolhe suas armas! Avante! hehehe
Erika, concordo com você que não cabe crítica e sim observação.
Como temos dois braços e dois hemisférios cerebrais, podemos sacar duas das armas de Baudelaire.
Creio que vinho e poesia sejam as mais eficientes.
Rss.
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