segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O álcool e a criatividade

Modest Mussorgsky

A genialidade e o consumo exagerado de bebidas alcóolicas frequentemente se encontram em algum ponto da vida de artistas, pensadores, cientistas e mesmo de profissionais como médicos, advogados, empresários, engenheiros e professores.
O álcool, se ingerido em pequenas doses, aproxima as pessoas e as desinibe e talvez por isso tenha sido tradicionalmente um companheiro do homem em sua trajetória social desde tempos remotos. Quando utilizado como um hábito, no entanto, pode levar o usuário à obrigação de consumi-lo com frequência crescente, trazendo à tona seu enorme poder destruidor, inclusive através da devastação da capacidade criativa. Como então definir o ponto exato do início de sua nocividade e como rotular o usuário?
Em termos etimológicos, alcóolatra seria a pessoa que adora a bebida, e não necessariamente um viciado, um doente. Encaixa-se aqui a figura do colecionador de bebidas, por exemplo. Alcoolista seria aquele que nutre simpatia pelo álcool, o dito “bebedor social”, e alcoólico seria o verbete mais adequado para caracterizar o doente por abuso desta substância, aquele que é realmente dependente do álcool, ou seja, a pessoa que perdeu a capacidade de se abster do uso da bebida.
O primeiro nome que me vem à cabeça quando penso em um artista influenciado e/ou destruído pelo álcool é o do compositor russo Modest Mussorgsky, autor da famosa (e belíssima) ópera Boris Godunov (1870).
Aos 35 anos, Mussorgsky já assumia ser um bebedor inveterado, e era comumente encontrado caído pelas ruas de Moscou, como um mendigo. As suas composições passaram a ficar em grande parte incompletas, graças à interrupção do processo criativo pela intoxicação alcoólica.
Até os retratos do músico não escondem os sinais do vício, revelando um fácies típico dos alcoólicos, edemaciado e com o nariz avermelhado.
Além de Boris Godunov, sua música Noite no Monte Calvo ficou muito conhecida através do desenho Fantasia, de Walt Disney, assim como a releitura de Quadros de uma Exposição, feita nos anos 1970 pelo grupo inglês de rock progressivo, Emerson, Lake & Palmer.
Mas como impedir a transformação de um alcoolista em um alcoólico, evitando assim a destruição social e profissional de uma pessoa?
Parece não haver uma só resposta, pois a complexidade do tema envolve fatores genéticos, ambientais e psicológicos.
Nós, humanos, temos prazer em beber e tal pode ser cultuado sem culpa, desde que os nossos cérebros saibam nos fazer parar alguns passos antes da intoxicação.
Saúde!

10 comentários:

Marise Rocha Morbach disse...

Caríssimo Scylla, chegando do trabalho sem ter bebido uma única gota de álcool, me lembrei daquela música "eu bebo sim, estou vivendo, tem gente que não bebe está morrendo"; é uma doideira essa situação. Cada vez mais vejo os jovens meterem o pé na jaca com relação as bebidas. Há um tempo, um conhecido do Lucas provocou um acidente com morte na BR. Eu fico apavorada porque adolescentes e jovens tem uma outra visão do mundo(eu já fui uma,rsrs); o número de acidentes só aumenta entre esta faixa etária. Com relação a criatividade, penso que o álcool é um estimulante interessante; o dilema é o vicio. E, neste ponto, não vejo que as instituições responsáveis pelo controle sobre o uso estejam fazendo grandes coisas. E a publicidade que aborda essa questão ou descamba para a culpa, ou para o drama. É, de fato, um assunto difícil de ser abordado. Abs.

Scylla Lage Neto disse...

É, Marise, o tema é complicado de se dissecar satisfatoriamente.
O fato é que o álcool é uma droga legalizada e com um limiar pouco claro entre o consumo "social" e o vício.
Pelos testes da OMS, provavelmente o Flanar seria classificado como um blog "alcoólico".
Rss.
Abraços.

Marise Rocha Morbach disse...

Of course, e sem o nariz vermelho, rsrsrs

Scylla Lage Neto disse...

Salut!

Carlos Barretto  disse...

Kkkkkkkk!

Scylla Lage Neto disse...

Barretto, que bom ouvir a sua risada!!!
Saúde!

Silvina disse...

Flanar totalflex!!!! Kkkkk junto com o Barreto.

Scylla Lage Neto disse...

C'mon, Silvina, nada de totalflex ou de tetrafuel!!!
Somente gasolina podium!!!
Rss.

Erika Morhy disse...

Esta semana assiti um lindo documentário sobre Raul Seixas. "O inicio. O fim. E o meio". Chorei e ri bastante. Acho que mais chorei do que ri. De todo modo, a história dele está quase umbilicalmente ligada ao álcool. De todo modo, reitero que não me sinto encorajada a criticar qualquer criatura - ainda que os mais famosos, do Clube dos 27 - pelo fato de aliarem sua arte, voluntária ou involuntariamente, aos etílicos. Não estou certa de que chego a romantizar o tema, como pode parecer para alguns. Vou de Baudelaire, um grande flaneur: "embriagai-vos! de vinho, poesia ou virtude" Cada um escolhe suas armas! Avante! hehehe

Scylla Lage Neto disse...

Erika, concordo com você que não cabe crítica e sim observação.
Como temos dois braços e dois hemisférios cerebrais, podemos sacar duas das armas de Baudelaire.
Creio que vinho e poesia sejam as mais eficientes.
Rss.