quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Espírito natalino? Espírito portenho?

Não foi a primeira vez que o ônibus mudou de percurso sem nenhum aviso aos navegantes. O que é muito, muito desagradável. Em especial porque, aqui, dizemos nosso destino final ao motorista, que nos cobra a passagem no valor correspondente à distância que vamos percorrer juntos. Ou seja, se ele não passaria pelo destino informado, já devia avisar antes. E se houve um imprevisto, devia avisar em seguida. No mínimo. O fato é que, desta vez, o caldo engrossou. O que é rápido pra acontecer pelas bandas de cá. O povo não engole qualquer coisa assim, não. Reclama pra valer! Mas desta vez... foi puxado. Quando o coletivo saiu da rota, imediatamente um senhor de meia idade golpeou a porta, pedindo para descer, e xingou, esbravejou contra o motorista. Avançou nos termos, é bem verdade. Mas exigiu o que eu nunca tive coragem de exigir. Desci no mesmo ponto que ele. E pra nossa surpresa... o motorista também. Cara a cara com o então passageiro indignado, perguntou com que direito ele lhe xingava naqueles modos; mandou que o senhor experimentasse avançar contra ele, usando seu guarda-chuva. E não poupou as palavras torpes. Cuspiu-as uma por uma. Ambos estavam nervosos. Eu estava nervosa e paralisada olhando aquela cena com os detalhes que a luz do dia permite. Os dois senhores – sim, o motorista também carregava sinais dos tempos, desde os cabelos brancos a uma pança em estado avançado – ficavam cada vez mais vermelhos a ser olhar e esbravejar um contra o outro. Até alguém resolver desapartar um possível final muito mais infeliz e levar o motorista de volta ao seu labor. Enquanto o senhor passageiro sentava-se em um suporte de cimento que havia na calçada, a mover seu celular.
 
Um taxista me disse outro dia que o Natal também coloca as pessoas em estado mais agitado. E, por outro lado, os argentinos, “principalmente as mulheres”, são gente histérica, não leva as coisas de modo leve, como os brasileiros.

Se a cena fez parte do espírito natalino ou de uma “genética” própria dos argentinos, eu não estou muito certa. O fato é que a cena me deixou bastante encucada.

2 comentários:

Marise Rocha Morbach disse...

Delícia saber do itinerário de bordo. Malucos, ficam os seres no Natal. Sobre a genética? Isto já é outro papo,rs. Cuide-se querida, e chegue por aqui inteira!

Erika Morhy disse...

Pois sim, Marise. Memória do cotidiano. Estou me esforçando para chegar inteira e em breve ;-)