terça-feira, 30 de abril de 2013

1º de Maio na Feira do Livro

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Geografias Imaginárias

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Um cineasta diante de sua Aldeia





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Caetaneando com Thiago de Melo

Thiago de Melo (poeta amazonense) verbaliza:
"Mas o homem em seu desejo -para sempre insatisfaeito- rouba a cadência da terra,
deixando, por onde passa, marcas profundas no chão: que em cânones se transformam
e indicam, perseverantes -à maneira de faróis balizando em mar bravio-, a tão procurada fonte onde todos beberão".
 
Caetano Veloso (compositor) reitera:
"Marcha o homem sobre o chão 
Leva no coração uma ferida acesa
Dono do sim e do não
Diante da visão da infinita beleza
Finda por ferir com a mão essa delicadeza
A coisa mais querida
A glória da vida...
"

O muro de arrimo do "doutorzeco"

Claudio de Moura Castro

A notícia trágica desaba sobre uma universidade séria: levou bomba no MEC o curso de engenharia civil! O assunto justifica infindáveis elucubrações, mas me detenho apenas em um aspecto, por ser uma birra minha, por décadas.
Na justificada ânsia de consertar, foram trocados seis professores. Não tinham mestrado e foram substituídos por doutores em tempo integral, como gosta o MEC. Com isso, atende-se a uma das exigências para reabrir os vestibulares.
Esse remendo está no epicentro de um dos maiores equívocos do MEC. A legislação do ensino superior veio da cabeça de cientistas - alguns notáveis. Por isso, as atividades clássicas de pesquisa nas áreas científicas foram corretamente tratadas e valorizadas.
Lastimavelmente, esse marco legal ignorou a existência, dentro do ensino superior, de cursos profissionais e de serviço. Em engenharia, direito, administração, pedagogia e outros é necessário somar bons professores nas disciplinas de fonnação teórica aos das aplicadas. E, de quebra, cumpre oferecer a experiência prática de aplicar.
Em um livro clássico (The Reflective Practitioner), D. Schoen fala das ruminações não verbalizadas dos profissionais ao realizar o seu trabalho. São descritas como experiência tácita, "teoria do olho clínico", ou o interstício não codificado entre o que descreve a teoria e o ato de fazer. Daí que: (1) adquirir essa metalinguagem é parte inseparável da profissionalização; (2) apenas verdadeiros profissionais podem transmitir essa dimensão do profissionalismo; (3) leva tempo para formar um profissional.
Um belo exemplo é dado pelo programa de um hospital australiano que, por seu sucesso, foi replicado pelo mundo afora. A direção do hospital notou que morriam três quartos dos pacientes por parada cardíaca. Identificando o problema como demora no atendimento, criou uma equipe sempre pronta para agir tão logo ouvisse pelos alto-falantes o termo "Code Blue". Com isso, caiu a mortalidade, mas apenas alguns pontos porcentuais. Nova providência: qualquer médico ou enfenneira poderia acionar o Code Blue, mesmo que os sinais vitais do paciente estivessem nonnais. Ou seja, se o jeitão estivesse suspeito, mesmo sem os sintomas clássicos, poderiam soar o alarme. Surpresa! A mortalidade caiu para menos da metade. Moral da história: o que salva os pacientes é o que não está nos livros de medicina, mas na "teoria da prática". É o "olho clínico". O próprio médico não sabe explicar por que chegou a tal diagnóstico, mas intui que algo está errado. Os novatos precisam adquirir tal experiência, mas apenas quem a tem pode oferecê-Ia.
Portanto, cada disciplina requer professores com o perfil talhado para ela. Do professor de cálculo, nada melhor do que exigir um doutorado. Mas o professor que ensina a construir prédios deveria ser alguém que acumulou anos no canteiro de obras. Se houvesse doutores com essa experiência, tanto melhor. Mas não há, pois doutorados preparam para a pesquisa e para a universidade.
Se o MEC melhora as notas de quem substitui verdadeiros profissionais por jovens doutores que nada sabem de construir prédios, o resultado desse equívoco é grotesco. Premia quem ensina uma profissão que não tem, apenas leu livros e escreveu papers.
Os professores dispensados, com mais de 35 anos de experiência, tinham escritório de engenharia respeitado e prestavam consultaria. E, obviamente, ensinavam em tempo parcial, pois não poderiam abandonar sua empresa. Para os alunos, isso é ótimo, assegura que o professor ensina a engenharia que se pratica de verdade. Para o MEC, tempo parcial perde ponto. Não deveria ser o contrário, perder ponto se fosse tempo integral?
Igualmente ausente das políticas públicas é a valorização da competência na sala de aula. É a didática do cotidiano, adquirida com a experiência. No caso, professores consagrados e estimados pelos alunos foram substituídos por jovens que ainda vão aprender a dar aula. Péssimo para os alunos, mas não comove o MEC.
Conversa de corredor na universidade: "Pois é, tiraram nossos engenheirões e os substituíram por 'doutorzecos' que jamais fizeram um muro de arrimo". Quem tem razão, os alunos ou o MEC?
CLAUDIO DE MOURA CASTRO é economista.

É urgente recuperar o sentido de urgência!

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- Eliane Brum

Estamos vivendo como se tudo fosse urgente. Urgente o suficiente para acessar alguém. E para exigir desse alguém uma resposta imediata. Como se o tempo do “outro” fosse, por direito, também o “meu” tempo. E até como se o corpo do outro fosse o meu corpo, já que posso invadi-lo, simbolicamente, a qualquer momento. Como se os limites entre os corpos tivessem ficado tão fluidos e indefinidos quanto a comunicação ampliada e potencializada pela tecnologia. Esse se apossar do tempo/corpo do outro pode ser compreendido como uma violência. Mas até certo ponto consensual, na medida em que este que é alcançado se abre/oferece para ser invadido. Torna-se, ao se colocar no modo “online”, um corpo/tempo à disposição. Mas exige o mesmo do outro – e retribui a possessão. Olho por olho, dente por dente. Tempo por tempo.
Como muitos, tenho tentado descobrir qual é a minha medida e quais são os meus limites nessa nova configuração. E passo a contar aqui um pouco desse percurso no cotidiano, assim como do trilhado por outras pessoas, para que o questionamento fique mais claro. Descobri logo que, para mim, o celular é insuportável. Não é possível ser alcançada por qualquer um, a qualquer hora, em qualquer lugar. Estou lendo um livro e, de repente, o mundo me invade, em geral com irrelevâncias, quando não com telemarketing. Estou escrevendo e alguém liga para me perguntar algo que poderia ter descoberto sozinho no Google, mas achou mais fácil me ligar, já que bastava apertar uma tecla do próprio celular. Trabalhei como uma camela e, no meu momento de folga, alguém resolve me acessar para falar de trabalho, obedecendo às suas próprias necessidades, sem dar a mínima para as minhas. Não, mas não mesmo. Não há chance de eu estar acessível – e disponível – 24 horas por sete dias, semana após semana.
Me bani do mundo dos celulares, fechei essa janela no meu corpo. Mantenho meu aparelho, mas ele fica desligado, com uma gravação de “não uso celular, por favor, mande um e-mail”. Carrego-o comigo quando saio e quase sempre que viajo. Se precisar chamar um táxi em algum momento ou tiver uma urgência real, ligo o celular e faço uma chamada. Foi o jeito que encontrei de usar a tecnologia sem ser usada por ela.
Minha decisão não foi bem recebida pelas pessoas do mundo do trabalho, em geral, nem mesmo pela maior parte dos amigos e da família. Descobri que, ao não me colocar 24 horas disponível, as pessoas se sentiam pessoalmente rejeitadas. Mas não apenas isso: elas sentiam-se lesadas no seu suposto direito a tomar o meu tempo na hora que bem entendessem, com ou sem necessidade, como se não devesse existir nenhum limite ao seu desejo. Algumas declararam-se ofendidas. Como assim eu não posso falar com você na hora que eu quiser? Como assim o seu tempo não é um pouco meu? E se eu precisar falar com você com urgência? Se for urgência real – e quase nunca é – há outras formas de me alcançar.
Percebi também que, em geral, as pessoas sentem não só uma obrigação de estar disponíveis, mas também um gozo. Talvez mais gozo do que obrigação. É o que explica a cena corriqueira de ver as pessoas atendendo o celular nos lugares mais absurdos (inclusive no banheiro...). Nem vou falar de cinema, que aí deveria ser caso de polícia. Mas em aulas de todos os tipos, em restaurantes e bares, em encontros íntimos ou mesmo profissionais. É o gozo de se considerar imprescindível. Como se o mundo e todos os outros não conseguissem viver sem sua onipresença. Se não atenderem o celular, se não forem encontradas de imediato, se não derem uma resposta imediata, catástrofes poderão acontecer.
O celular ligado funciona como uma autoafirmação de importância. Tipo: o mundo (a empresa/a família/ o namorado/ o filho/ a esposa/ a empregada/ o patrão/os funcionários etc) não sobrevive sem mim. A pessoa se estressa, reclama do assédio, mas não desliga o celular por nada. Desligar o celular e descobrir que o planeta continua girando pode ser um risco maior. Nesse sentido, e sem nenhuma ironia, é comovente.
Por outro lado, é um tanto egoísta, já que a pessoa não se coloca por inteiro onde está, numa aula ou no trabalho ou mesmo em casa – nem se dedica por inteiro àquele com quem escolheu estar, num encontro íntimo ou profissional. Está lá – mas apenas parcialmente. Não há como não ter efeito sobre o momento – e sobre o resultado. A pessoa está parcialmente com alguém ou naquela atividade específica, mas também está parcialmente consigo mesma. Ao manter o celular ligado, você pertence ao mundo, a todo mundo e a qualquer um – mas talvez não a si mesmo.
Me parece descortês alguém estar comigo num restaurante, por exemplo, e interromper a conversa e a comida para atender o celular. Assim como me parece abusivo ser obrigada a aturar os celulares das pessoas ao redor tocando em todas as modalidades e volumes, invadindo o espaço de todos os outros sem nenhuma consideração. Ou ainda estar em um lugar público e ter de ouvir a narração de uma vida privada, uma que não conheço nem quero conhecer. Será que isso é realmente necessário? Será que uma pessoa não pode se ausentar, ficar incomunicável, por algumas horas? Será que temos o direito de invadir o corpo/tempo dos outros direta ou indiretamente? Será que há tantas urgências assim? Como é que trabalhávamos e amávamos antes, então?
Bem, eu não sou imprescindível a todo mundo e tenho certeza de que os dias nascem e morrem sem mim. As emergências reais são poucas, ainda bem, e para estas há forma de me encontrar. Logo, posso ficar sem celular. Mas tive de me esforçar para que as pessoas entendessem que não é uma rejeição ou uma modalidade de misantropia, apenas uma escolha. Para mim, é uma maneira de definir as fronteiras simbólicas do meu corpo, de territorializar o que sou eu e o que é o outro, e de estabelecer limites – o que me parece fundamental em qualquer vida.
Tentei manter um telefone fixo, com o número restrito às pessoas fundamentais no campo dos afetos e também no profissional. Mas o telemarketing não permitiu. É impressionante como as empresas de todo o tipo – e agora até os candidatos numa eleição – acham que têm o direito de nos invadir a qualquer hora. Considero uma violência receber uma ligação ou gravação dessas dentro de casa, à minha revelia. E parece que sempre encontram um jeito de burlar nossas tentativas de barrar esse tipo de assédio. Assim, também botei uma gravação no telefone fixo – e ele virou um telefone só para recados, porque foi o único jeito que encontrei de impedir o abuso do mercado.
Minha principal forma de comunicação é hoje o e-mail, porque sou eu que escolho a hora de acessá-lo. E, ao procurar alguém, seja por motivo profissional ou pessoal, tenho certeza de não estar invadindo seu cotidiano em hora imprópria. É assim que combino encontros e entrevistas ao vivo, que são os que eu prefiro. Ou marco horário para conversas por Skype com quem está em outra cidade ou país. E quando viajo ou preciso desaparecer do mundo, para ficar só comigo mesma, ou me dedicar a um outro por completo, ou à escrita de um livro, basta deixar uma mensagem automática. Tento me disciplinar para acessar o Twitter, que para mim é hoje uma ferramenta fundamental para dar, receber e principalmente compartilhar informações, em horários específicos. E desligo o computador antes de dormir, como gesto simbólico que diz: fechei a porta.
Uma amiga foi assaltada por uma insônia persistente. Ao despertar, na madrugada, tinha a sensação de que o mundo se movia em ritmo veloz enquanto ela dormia. Parecia que estava perdendo algo importante, que ficaria para trás. E parecia até que estava morta para o mundo, “offline”. Às vezes não resistia e saía da cama para caminhar até o escritório, onde ficava o computador, e entrar no Facebook e no Twitter, dar uma circulada nos sites de notícias, manter-se desperta, presente e alinhada ao mundo que não parava, correndo atrás dele. Depois, passou a deixar o notebook ao lado da cama e já acessava a internet dali mesmo, apesar dos protestos do marido.
Quando a insônia já estava comprometendo seriamente os seus dias, ela procurou um psiquiatra em busca de remédio. O médico perguntou bastante sobre seus hábitos, e ela descobriu que o pesadelo que a deixava insone era aquele computador ligado, com o mundo acontecendo dentro dele num ritmo que ela não podia acompanhar nem mesmo se mantendo acordada por 24 horas. Bastou desligar o computador a cada noite para que passasse a despertar menos vezes e menos sobressaltada nas madrugadas. Aos poucos, voltou a dormir bem. O mundo estava onde devia estar – e ela também, na cama. Estava offline, mas viva.
Conheço pessoas que botam fita adesiva sobre a câmera do computador. Foi o meio encontrado para se protegerem da sensação de que estavam sendo espiadas/monitoradas 24 horas por dia por algum tipo de Big Brother – no sentido do 1984, do George Orwell (não no do reality show da TV Globo). A câmera tinha se tornado uma espécie de olho do mundo, que podia abrir as pálpebras mesmo à revelia, como nas histórias fantásticas e nos filmes de terror.
Conto minhas (des)venturas, assim como as de outros, apenas porque acho que não somos os únicos a ter esse tipo de inquietação. É um momento histórico bem estratégico de redefinição de limites, de territórios e também de conceitos. Que tipo de efeito terá sobre as novas gerações a ideia de que não há limites para alcançar, ocupar e consumir o tempo/corpo dos pais e amigos e mesmo de desconhecidos? Assim como não há limites para ter o próprio tempo/corpo alcançado, ocupado e consumido?

Ainda acho que o gozo de ser imprescindível a quase todos os outros – no sentido de não poder se ausentar ou se calar – e também de ser onipotente – no sentido de alcançar, a qualquer hora, o corpo de todos os outros – é maior do que o incômodo. Mas talvez só aparentemente, na medida em que é possível que não estejamos conseguindo avaliar o estrago que esses corpos/tempos violáveis e violados possam estar causando na nossa subjetividade – e mesmo na nossa capacidade criativa e criadora.
A grande perda é que, ao se considerar tudo urgente, nada mais é urgente. Perde-se o sentido do que é prioritário em todas as dimensões do cotidiano. E viver é, de certo modo, um constante interrogar-se sobre o que é importante para cada um. Ou, dito de outro modo, uma constante interrogação sobre para quem e para o quê damos nosso tempo, já que tempo não é dinheiro, mas algo tremendamente mais valioso. Como disse o professor Antonio Candido, “tempo é o tecido das nossas vidas”.

Essa oferta 24 X 7 do nosso corpo simbólico para todos os outros – e às vezes para qualquer um – pode ter um efeito bem devastador sobre a nossa existência. Um que sequer é escutado, dado o tanto de barulho que há. Falamos e ouvimos muito, mas de fato não sabemos se dizemos algo e se escutamos algo. Ou se é apenas ruído para preencher um vazio que não pode ser preenchido dessa maneira.

Será que não é este o nosso mal-estar?

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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Tradição




























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Mondo Cane


Há cerca de exatos 10 minutos atrás, uma vigarista e seu comparsa tentaram aplicar-me o conhecido golpe do falso sequestro. 
Através do telefone fixo (que possui identificador de chamadas), recebi uma ligação supostamente originada do número 01121215100. Nela, uma voz feminina chorosa (com evidente sotaque carioca a despeito do prefixo paulista), simulava um convincente estado de desespero. A vigarista se dizia raptada e muito machucada. 
Posso assegurar que a performance é impecável, digna de bons atores, mesmo considerando que não seja lá muito difícil a qualquer um executá-la. 
Com um choro dramático e propositadamente exagerado, um tipo de murmúrio tomava o lugar do nome que ela parecia tentar informar, como se estivesse açodada. A idéia é forçar a potencial vítima do golpe a dizer o nome de alguns de seus familiares. Se isso for feito, a vigarista entrega o telefone para seu cúmplice, que então passa a perguntar: "quem é o senhor? É pai, avô da fulana?" (neste ponto, ele utiliza qualquer nome que a vítima tenha inadvertidamente citado).
Como não tenho filhas e com o sotaque evidentemente carioca, a casa caiu. Neste momento, retruquei: "Esta ligação é falsa!", desligando logo em seguida. 
Ato contínuo, fiz algumas ligações para alguns familiares, checando discretamente a absoluta normalidade de sua integridade física.
Os ousados golpistas, utilizando o mesmo número, ainda tiveram o displante de ligar mais DUAS vezes logo em seguida. Claro que não foram atendidos.

Era só o que faltava! Um enredo de péssimo gosto que, possivelmente, não deve fazer jus nem ao título deste post.

"As gatosas"



Nesta sexta ancorei para sessão dupla no SESC Boulevard. A primeira foi para rever a voz bossanovista do Maca Maneschy e a segunda para ver apresentação do grupo Cuíra.

Quando Maca se junta com Tinoco Costa (pianista), decerto o aplauso tem gosto de taperebá e o samba toma jeito de jazz de dar inveja ao Tio Sam. O nosso maior defensor da bossa-nova se sentiu em casa (ou no seu “Canil”, como se retrata em seu seleto grupo de amigos, o qual me incluo) e soltou o ponteio.

Também fui aplaudir a peça teatral “As gatosas”, de Edyr Proença, com o Grupo Cuíra. As Quatro atrizes do Cuíra revisam a idade em que estão e nos transportam para uma paisagem realista com um sotaque de humor fantástico, de doer a barriga. Vale à pena ver, se considerar o riso um gesto frajola da alma humana. Proença é fantástico no que concerne a realidade com pitadas de realidade (vide em “Selva Concreta”, seu último livro).

Sandra Perlin dá um show de sapateado, mas fico com aquela que sentou no meu colo (acho que é a Sônia Alão), em plena cena, e me convidou para reviver meus 20 anos - quando ainda era apenas um garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones.

Vou fazer uma sugestão audaciosa ao Edyr Proença, visitador-mor juramentado desse Blog, diria o Edgar Augusto: criar Os gotosos. Certamente, com a capacidade que tem, e com a palavra tirada da Gota (ou Artrite gotosa, doença que pertence aos meandros da Reumatologia e tem uma relação direta com a idade), o título estaria bem ajustado. Eu ia-lhe sugerir, no final da peça, mas minha timidez se sentiu invadida pela intromissão. Prefiro a palavra escrita, sombra de minha dualidade, sobra de meus devaneios.

domingo, 28 de abril de 2013

Cruzeiro do Sul, Acre



Pelos Andes em viagem,

Da nascença do Juruá,

vim “Pará” nessa paragem,

em cruzeiro no rio-mar



lembro a mais esbelta das palmeiras,

o silvo do sabiá,

“inda” quero a infância inteira,

e um tanto mais para enamorar



tem estrela no sul do nome

e um norte pra me guiar

assim me valer desse “homi”

um tapuio do verbo amar. 

me valer desse “home”

um tapuio do verbo amar. 

me valer desse homem

um tapuio do verbo amar. 

Paralamas da memória



"Luis Inácio falou, Luis Inácio avisou..."
Ao assistir esta rara gravação da "música mais falada e menos ouvida do Brasil", de 1995, tudo soa muito estranho.
Afinal, dezoito anos depois, quem lembra dos "anões do orçamento"?!...

sábado, 27 de abril de 2013

Olha o livro: "Quem vai querer, vai querer"?


Alright!

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Essa é prá tocar no Rádio!

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Uma turma da pesada: sobrinho do governador Simão Jatene é sócio do empresário que seria mandante de assassinatos em Tomé-Açu, e que também seria sócio de empresário envolvido em fraude imobiliária em Alagoas. E mais: Eduardo Salles, o sobrinho de Jatene, e Carlos Vieira, que está foragido, também estão envolvidos em complicadas transações pela posse de terrenos, em Ananindeua e Rondon do Pará.


O empresário castanhalense Eduardo Salles, sobrinho do governador Simão Jatene, é sócio do também empresário Carlos Antonio Vieira, que teve a prisão preventiva decretada pela Justiça, sob a acusação de encomendar um duplo assassinato em Tomé-Açu, município do Nordeste do Pará.

As vítimas, o madeireiro Luciano Capaccio e o advogado Jorge Guilherme de Araújo Pimentel, foram mortas a tiros por pistoleiros, no último dia 2 de março, quando jantavam em um restaurante, no centro daquela cidade.

Além de Carlos Antonio Vieira, também é acusado como mandante dos crimes o filho dele, Carlos Vinícius de Melo Vieira, prefeito de Tomé-Açu.

Até a tarde de hoje, ambos continuavam foragidos, apesar de rumores acerca da obtenção de habeas corpus.

Segundo a Junta Comercial do Pará (Jucepa), Carlos Antonio Vieira é sócio majoritário e administrador da Valle Empreendimentos Imobiliários Ltda (CNPJ: 12.429.651/0001-80).

A Valle Empreendimentos e a E Salles Construções (CNPJ: 14.057.335/0001-50), que pertence ao sobrinho do governador, são sócias na empresa Salles e Valle Empreendimentos Imobiliários, que executa o loteamento Salles Jardins, no município de Castanhal.

Informações divulgadas pela polícia, no mês passado, dão conta que os assassinatos de Capaccio e Pimentel foram motivados por disputas políticas e por denúncias sobre irregularidades em um empreendimento imobiliário de Carlos Antonio Vieira.

Porém, o blog ainda não sabe qual é o empreendimento – e a Valle executa vários loteamentos no Nordeste do Pará, por meio de parcerias com outras empresas, como essa que estabeleceu com o sobrinho de Jatene.

Na Valle também figura como sócio um cidadão chamado Moisés Carvalho Pereira, de Redenção.

Um empresário com esse mesmíssimo nome (Moisés Carvalho Pereira, também de Redenção) chegou a ter a prisão preventiva decretada, no ano passado, a pedido do Grupo de Combate a Organizações Criminosas do Ministério Público de Alagoas.

A acusação foi a de participar de uma fraude imobiliária naquele estado, através da compra, por R$ 700 mil, de um terreno que valeria mais de R$ 21 milhões.

Detalhe: o sobrinho de Jatene e Carlos Antonio Vieira também estão envolvidos em disputas judiciais pela posse de grandes áreas de terras, aparentemente destinadas a empreendimentos imobiliários, e que teriam sido adquiridas de forma irregular.

Eduardo Salles, o sobrinho do governador, pagou R$ 1 milhão, em abril do ano passado, por um amplo terreno em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém.

A venda é contestada pela Asder, a associação dos funcionários do extinto Departamento de Estradas de Rodagens (DER), que afirma ser a verdadeira proprietária do imóvel e tenta anular a transação.

(Leia a reportagem da Perereca “Sobrinho de Jatene enriquece a olhos vistos e comanda o Nordeste do Pará”:http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/02/sobrinho-de-jatene-enriquece-olhos.html )

Já Carlos Antonio Vieira comprou por R$ 600 mil, em Rondon do Pará, um terreno que valeria R$ 50 milhões, quando loteado, segundo afirmam integrantes da Associação Agropecuária Rondonense, que ingressaram na Justiça contra a venda do imóvel.

(Veja a ação aqui:https://docs.google.com/file/d/0B8xdLmqNOJ12U2VYZndmeDRMbUk/edit?usp=sharing ).

Ambos os processos se encontram em grau de recurso, a desembargadores do TJE.


Em três anos, capital da Valle subiu de R$ 250 mil para quase R$ 20 milhões.


A Valle Empreendimentos Imobiliários Ltda, com endereço no quilômetro 11 da PA-140, em Tomé-Açu, foi registrada na Jucepa em agosto de 2010.

Os sócios eram apenas os empresários Manoel Vicente Pereira Neto e Carlos Antonio Vieira, que detinha 66% das quotas do capital social, que alcançava apenas R$ 250 mil.

Hoje, no entanto, a empresa ganhou mais dois sócios: Eduardo Carvalho Pereira e Moisés Carvalho Pereira, ambos de Redenção, no Sul do Pará.

E o capital social experimentou uma turbinagem impressionante: agora, menos de três anos depois, alcança quase R$ 19,9 milhões.

Mas Carlos Antonio Vieira permanece como sócio majoritário e administrador, com quotas superiores a R$ 9,3 milhões.

Um dos novos sócios da Valle Empreendimentos, o empresário Moisés Carvalho Pereira, também teria uma história complicada.

No Google, um empresário de Redenção com esse mesmíssimo nome figura como um grande exportador de mogno – e um dos maiores produtores de madeira ilegal do País.

Esse Moisés Carvalho Pereira da internet teria sido citado até em uma troca de emails flagrada pela operação Satiagraha, entre funcionários da fazenda Santa Bárbara e do grupo Opportunity, ambos do banqueiro Daniel Dantas.

E um empresário chamado Moisés Carvalho Pereira, de Redenção, diretor da Buriti Imóveis e dono da MSL Empreendimentos Imobiliários, chegou a ter a prisão preventiva decretada, em maio do ano passado, sob a acusação de participar da venda fraudulenta de um terreno, na cidade de Rio Largo, no estado de Alagoas.

A suposta quadrilha foi desbaratada pelo Grupo Especial de Combate a Organizações Criminosas do Ministério Público daquele estado.

O golpe teria funcionado assim: após uma enchente, em 2010, a Prefeitura de Rio Largo desapropriou, por R$ 700 mil, uma área de 252 hectares, para a construção de casas populares.

Um mês depois, a Prefeitura vendeu o terreno, pelos mesmíssimos R$ 700 mil, para uma empresa de Moisés Carvalho Pereira, que ficaria encarregada de construir essas habitações.

Tudo muito bem se a área em questão, equivalente a mais de 300 campos de futebol, não valesse, já naquela época, mais de R$ 21 milhões – ironicamente, em avaliação da própria Prefeitura, para a cobrança do IPTU.

O caso foi noticiado pelo blogueiro Hiroshi Bogea, do Sul do Pará:http://www.hiroshibogea.com.br/?p=16111

E há mais informações em links de portais alagoanos, citados por Hiroshi.

Aqui: http://tnh1.ne10.uol.com.br/noticia/maceio/2012/05/18/188221/saiba-tudo-sobre-o-escandalo-que-abalou-o-poder-em-rio-largo

Aqui: http://primeiraedicao.com.br/noticia/2012/05/16/gecoc-investiga-esquema-de-fraude-de-terras-em-rio-largo

E aqui: http://tnh1.ne10.uol.com.br/noticia/politica/2012/06/20/193407/rio-largo-justica-livra-de-prisao-vereadores-e-empresarios-foragidos

E veja abaixo, nos quadrinhos (clique em cima, para ampliar), as certidões da Jucepa relativas à E Salles Construções, à Valle Empreendimentos e a Salles e Valle.

Primeiro, a certidão simplificada da E Salles Construções, de Eduardo Salles:

Aqui, as primeiras cinco páginas da constituição societária da Salles e Valle Empreendimentos Imobiliários Ltda:

Aqui, as quatro páginas da constituição societária da Valle Empreendimentos Imobiliários Ltda:

E abaixo, recortes de uma certidão simplificada, com a situação atual da Valle Empreendimentos Imobiliários:

A Perereca vai tentar obter mais informações sobre a situação dos processos que envolvem a Asder e Eduardo Salles; e o empresário Carlos Antonio Vieira e a Associação Agropecuária Rondonense.

Também vai buscar informações sobre as investigações acerca dos assassinatos em Tomé-Açu.

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(Foto: blog Coisa Pública)

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Uma bela canção!

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Sem comentários

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Sobre a maioridade penal


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Conjugal Fighters

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Caco Galhardo

E assim caminhou a Humanidade


E procurando uma boa tradução para  Le Sonnet du Trou du Cul  de Rimbaud / Verlaine na internet, para o post Mariage pour tous,  me deparei com essa animação dirigida por Rodrigo Burdman, com texto de Marcelino Freire, narrado pelo Paulo Cesar Pereio (grande ator e narrador insuperável).
Para refletir nesses tempos infelicianos.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Sobre um tema espinhoso.....


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Por Contardo Calligaris


A coluna da semana passada tratava da maioridade penal. Eu disse que sou a favor de considerar que, nos crimes mais graves (sobretudo contra a pessoa), os jovens sejam responsáveis pelos seus atos.
A partir de que idade? Talvez um juiz ou uma corte especial possam decidir, em cada circunstância, quando um jovem deve ser julgado como adulto ou não.
A coluna suscitou um grande número de comentários, pelos quais agradeço e aos quais não terei como responder individualmente. Tento resumir algumas objeções, organizando-as em quatro eixos:
1) A redução da maioridade penal não vai resolver o problema da violência.
Concordo: em geral, a severidade das penas não produz o efeito mágico de estancar a violência e o crime. Em compensação, a impunidade, ela sim, autoriza o crime e seu crescimento. Mas tanto faz: o que importa é que a violência criminosa baixa quando sobem não tanto as penas quanto a inclusão social e o sentimento de pertencermos todos a uma mesma comunidade de destino.
Desse ponto de vista, no máximo, a redução da maioridade penal faria que menos adolescentes fossem arregimentados pelo tráfico --mas nem isso é uma certeza.
2) Então, para que serve a proposta de reduzir a maioridade penal?
A Justiça e o sistema penitenciário sonham em amedrontar e dissuadir do crime. Também eles sonham com a reabilitação dos criminosos condenados. Agora, mais prosaicamente, eles têm a tarefa (menos gloriosa) de punir os criminosos de forma que a sociedade se sinta vingada e que, portanto, as vítimas não inaugurem ciclos de vendetas privadas.
A questão da maioridade penal se coloca relativamente a essa última tarefa da Justiça: podemos e devemos punir os jovens da mesma forma que os adultos?
3) Sobretudo, no caso dos jovens, não deveríamos querer que eles sejam reabilitados em vez de punidos? Para que encarcerar os jovens se sabemos que a detenção será uma escola do crime e não um lugar onde seria preparada sua reinserção social?
O sistema penitenciário moderno é paradoxal: nele, tanto para os jovens quanto para os adultos, a vontade de punir coexiste e rivaliza com a vontade de reeducar. Esse conflito de intenções talvez não seja uma falha, mas a propriedade essencial do sistema.
Nota: à vista do fracasso crônico de reabilitação e reinserção é possível pensar que a intenção de reeducar seja sobretudo o álibi necessário de uma punição que se envergonha de si mesma. Ou seja, queremos reeducar (e nunca conseguimos) porque nos envergonhamos de estarmos "ainda" punindo os criminosos. Gostaria de ter o tempo de reler "Vigiar e Punir", de Michel Foucault, pensando nisso.
4) A redução da maioridade penal significaria encher as cadeias de crianças pobres.
Em Brasília, 16 anos atrás, cinco jovens de classe média assassinaram barbaramente um índio, colocando fogo em seu corpo. Eles se desculparam dizendo, aliás, que não sabiam que era um índio, achavam que fosse um mendigo.
Graças a seu privilégio social, quatro desses jovens, condenados, cumpriram sua pena estudando e trabalhando fora da prisão. O quinto, que tinha 17 anos na época, ficou três meses num centro de reabilitação e só. Eu acho que ele deveria ter sido julgado como adulto.
Mais uma coisa. A coluna da semana passada queria abordar um problema mais amplo do que a simples maioridade penal. Explico.
Uma das grandes novidades de nossa cultura é que ela promove a obrigação de cada um responder por suas ações. Talvez por isso mesmo, para descansarmos um pouco de tamanho encargo, um dos grandes sonhos contemporâneos seja a irresponsabilidade.
É assim que nos tornamos mestres nas explicações que valem como desculpas.
Os assassinos de Brasília passearam demais pelos shoppings da capital e foram mimados pelos pais, e o assassino de Victor Hugo Deppman talvez tenha crescido em algum tipo de favela. Sempre há um trauma, um abuso passado, que "explica" e que serve para transferir a culpa.
Ao mesmo tempo, somos uma cultura "infantólatra", ou seja, que idealiza e venera as crianças como crianças. Ou seja, amamos vê-las sem nenhum dos pesos que castigam a vida adulta.
No sonho de irresponsabilidade que mencionei antes, esses dois traços de nossa cultura se combinam assim: 1) as crianças são todas querubins irresponsáveis e 2) a história da nossa infância nos torna irresponsáveis quando adultos. Que maravilha.


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