segunda-feira, 3 de junho de 2013

Da maior importãncia

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A herança de FHC
Por Marcos Coimbra/ Carta Capital
Enquanto não surgir coisa mais avançada, as pesquisas de opinião continuarão a ser a melhor maneira de interpretar o pensamento da população a respeito das questões coletivas. Sem elas, ficamos com o que acha cada indivíduo ou dizem os grupos mais organizados e loquazes. Os sentimentos e atitudes da maioria permanecem ignorados. É como se não existissem.
Mas as pesquisas estão aí. E permitem uma compreensão dos juízos e as expectativas dos que não se expressam, não mandam cartas ou postam comentários na internet. Há outras formas de fazê-lo, mas nenhuma mais confiável.
Realizá-las não é extravagância ou privilégio. Não custam tanto e um partido político poderoso, como, por exemplo, o PSDB, pode encomendar as suas. Nem um jornal ficará pobre se tiver de contratar alguma.
Por que então as oposições brasileiras as usam tão parcimoniosamente? Por que, se é simples conhecê-la, os partidos e a mídia oposicionista desconsideram a opinião pública?  Tome-se uma velha ideia: as três derrotas sucessivas dos tucanos para o PT teriam sido causadas pela insuficiente defesa da “herança de Fernando Henrique”. Sabe-se lá por que, é uma hipótese que volta e meia reaparece, como se fosse uma espécie de verdade profunda e houvesse evidências a sustentá-la.
Nas últimas semanas, ela retornou ao primeiríssimo plano. Em seu discurso inaugural como presidente nacional do PSDB, o senador mineiro Aécio Neves disse que seu partido se equivocou ao não valorizar o “legado” das duas administrações de FHC. Em suas palavras: “Erramos por não ter defendido, juntos, todo o partido, com vigor e convicção, a grande obra realizada pelo PSDB”.
Salvo uma ou outra manifestação de cautela, a mídia conservadora aplaudiu o pronunciamento. Os “grandes jornais” gostaram de Aécio ter assumido uma tese com a qual sempre concordaram. Faltava-lhes um paladino e o mineiro ofereceu-se para o posto. 
E os cidadãos comuns, o que pensam desse “legado”?
Em pesquisa recente de âmbito nacional, o Vox Populi tratou do assunto. Em vez de subscrever (ou atacar) a tese, apenas identificou o que a população pensa a respeito.  

Os entrevistados foram solicitados a avaliar 15 áreas de atuação do governo Dilma Rousseff. Depois, a comparar o desempenho de cada uma nos governos dela e de Lula com o que apresentavam quando Fernando Henrique Cardoso era presidente. As avaliações de todas as políticas nos governos petistas são superiores. Em nenhuma se poderia dizer que, para a população, as coisas estavam melhores no período tucano.
Consideremos algumas: na geração de empregos, 7% dos entrevistados disseram que FHC atuou melhor, enquanto 75% responderam que Lula e Dilma o superaram. Na habitação, 3% para FHC e 75% para Lula e Dilma. Nos programas para erradicar a pobreza, 4% ficaram com FHC e 73% com os petistas. Na educação, o tucano foi defendido por 5% e os petistas por 63%. Na política econômica, em geral, FHC foi avaliado como melhor por 8%, enquanto Lula e Dilma, por 71% dos entrevistados. 
No controle da inflação, FHC teve seu melhor resultado: para 10%, ele saiu-se melhor que os sucessores, mas 65% preferiram a atuação de Lula e Dilma no controle de preços.

Na saúde e na segurança, os petistas tiveram as menores taxas de aprovação, mas mantiveram-se bem à frente do tucano: na primeira, Lula e Dilma foram considerados melhores por 46% dos entrevistados. Na segurança, por 45%. FHC, por sua vez, por 7% e 6%.
No combate à corrupção, FHC teria atuado melhor que seus sucessores para 8%, enquanto 48% dos entrevistados afirmaram ter Lula e Dilma sido superiores.
Os políticos e as empresas jornalísticas são livres para crer no que quiserem. Enéas Carneiro era a favor da bomba atômica. Levy Fidelix é obcecado pela ideia de espalhar aerotrens pelo Brasil. Os partidos de extrema-esquerda lutam pelo comunismo. Há quem queira recriar a velha Arena da ditadura.
Ancorar uma campanha presidencial na “defesa do legado de FHC” é um suicídio político. Nem Serra nem Alckmin quiseram praticá-lo. A derrota de ambos nada tem a ver com o fato de não terem feito tal defesa. O problema nunca foi estar distantes demais dos anos FHC, mas de menos.
Resta ver como se comportará, na prática, Aécio Neves. E o que dirão seus apoiadores, quando perceberam que também ele procurará fazer o possível para se afastar do tal “legado”.
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3 comentários:

Lucas de Arruda Câmara disse...

Será? O PSDB precisa reescrever o passado; talvez os tucanos não tenham conseguido explorar o tal do legado do FHC até o momento. Digo isso porque eu tava pensando nisso um dia desses, já que aqui em SP o que não falta é tucano. Tucano economista então, nem se fala.
O caso é que não dá pra jogar o Serra na Tv (e acho que nem o Aécio) falando do "Brasilsão de meu deus" dele e esperar que dê certo. O que quer que seja feito do legado do FHC, o PSDB dificilmente vai ganhar alguma coisa jogando o jogo do PT.

Marise Rocha Morbach disse...

Boa Filho! Penso que você deu uma bela cutucada no PSDB. Também concordo que o legado do neoliberalismo do PSDB não foi tão mal assim. Mas, o que eles precisam aprender é a descer do salto, rsrsrs. Valeu filho, adorei seu comentário.

Erika Morhy disse...

Que texto mais bacana! Apesar de não ter tido acesso a nenhuma pesquisa de opinião sobre "o governo K", leia-se o legado que segue dos Kichner´s, acho sintomático a exibição excessiva das imagens de Nestor e de Evita junto à Cristina. Nos discursos públicos da presidenta, por exemplo, são duas imagens de Evita, uma ao lado de Cristina outra ao fundo. Sem falar que, há pouco tempo, foi lançada a nota de cem pesos com a figura de Evita, no lugar da de um genocida. Já Nestor, um dos apelos recentes foi um documentário sobre a vida dele, lançado e distribuído abundantemente em todo país.
Estou de acordo com uma série de projetos e iniciativas que o governo nacional da Argentina têm posto em prática - como a Lei de Meios e que democratiza a Justiça -, mas Cristina e seus discursos, ela como figura pública, não me convence, não me seduz, não tem "borogodó", como acho que têm tanto Nestor quanto Evita. Assim que... faz sentido tantas "muletas" para a presidenta, não?