Essa ladainha vem muito ao encontro de uma inquietação minha desde as primeiras semanas que cheguei aqui. Por que nos mantivemos na tradição de estudar o inglês e não o espanhol, se o Brasil é vizinho de quase todos os países da América Latina? À exceção de Chile e Equador, temos limites geográficos com todos os demais. E temos muito em comum para compartilhar, aprender e lutar juntos.
A proposta do jornal é proporcionar aos leitores informações sobre líderes que empunharam bandeiras da liberdade, da autonomia dos povos, dos direitos humanos, da união entre os hermanos. Mal sabemos quem foi Quintino Lira, no Pará, quanto mais quem foi o “bandido sublime, Augusto César Sandino”. As machetes dos jornais são incapazes de nominar a "mulher arrastada", quando se chama Cláudia da Silva Ferreira, quanto mais falar mais do que aquilo que seja conveniente sobre Venezuela, Argentina e Bolívia, por exemplo.
O certo é que, a despeito da ignorância da maioria de nós sobre a história Latino-Americana, há quem saiba de nós e há quem pretenda saber. Outro dia, quando disse a um norte-americano que eu sou de Belém do Pará, ele me perguntou certeiro: ah, perto das Guianas e Suriname, não é? Por outro lado, nenhum dos portenhos sabe o que é a região Norte do Brasil; sabem talvez tanto quanto muitos dos próprios brasileiros. No máximo, mais ou menos onde está a Bahia. E é daí pra baixo do país.
Pra completar minha angústia e surpresa, dou de cara com um artigo publicado pelo jornal espanhol El País, em que o jornalista diz o que eu considero barbaridades sobre o Brasil. Juan Arias tem a coragem de afirmar que o “Brasil está bem curado das feridas da ditadura militar e hoje os quartéis não assustam ninguém”. Só eu que pasmo com uma declaração desta? As pérolas são muitas e deste nível pra pior. Querem outra?
“Desde que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso colocou o Ministério do Exército nas mãos de um civil, as Forças Armadas passaram a ser no país uma instituição democrática como as outras. Não existem no Brasil ruídos de sabres”.
E quando ele louva nossos três poderes? Uma beleza! Executivo, Legislativo e Judiciário numa perfeita sintonia. Bem de fato estão, mas para nossa desgraça, não para o bem geral da nação canarinho. "Pena" que escreveu em parágrafo distante sobre a liberdade de imprensa que temos, porque, afinal não existem os donos da mídia no país a Copa de 2014.
Será uma escola? A mesma do Diogo Mainardi? Como se diz tudo isso impunemente? Como se diz isso à revelia de tantos protestos contra todo tipo de violações aos direitos humanos no país? Ainda que estejamos em outro contexto, que não mais o de uma ditadura militar e que, sim, podemos reconhecer alguns avanços – forçados pela sociedade civil organizada - na direção de uma sociedade menos desigual e menos injusta – não vivemos nesse país das maravilhas que este senhor articulista pretende difundir como verdade.
Ah! Já falei demais. Já estou estribuchando. Já é praticamente quase a bem dizer um pedido de socorro, nobres leitores.
Um comentário:
https://www.youtube.com/watch?v=_TzGP4mbYqw, baby.
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