...Um fio de sangue escorreu por debaixo da porta, atravessou a sala, saiu à rua, continuou seu curso direto pelas calçadas desiguais, desceu escadarias e subiu parapeitos, passou ao largo de todo complexo Pavão-Pavãozinho, dobrou uma esquina à direita e outra à esquerda, girou em ângulo reto na frente da delegacia, passou por debaixo da porta fechada, atravessou a sala de visitas grudado no rodapé das paredes para não manchar as tapeçarias, continuou pela outra sala, driblou numa ampla curva a mesa da sala de jantar, avançou pela varanda das begônias e passou sem ser visto por baixo da cadeira do delegado, que dava uma aula de aritmética para o escrivão e se meteu pela despensa e apareceu na cozinha onde Maroca, a cozinheira, se preparava para quebrar trinta e seis ovos para o pão. Era hora da merenda.
quinta-feira, 24 de abril de 2014
Cesta do enfraseamento: Bala perdida
...Um fio de sangue escorreu por debaixo da porta, atravessou a sala, saiu à rua, continuou seu curso direto pelas calçadas desiguais, desceu escadarias e subiu parapeitos, passou ao largo de todo complexo Pavão-Pavãozinho, dobrou uma esquina à direita e outra à esquerda, girou em ângulo reto na frente da delegacia, passou por debaixo da porta fechada, atravessou a sala de visitas grudado no rodapé das paredes para não manchar as tapeçarias, continuou pela outra sala, driblou numa ampla curva a mesa da sala de jantar, avançou pela varanda das begônias e passou sem ser visto por baixo da cadeira do delegado, que dava uma aula de aritmética para o escrivão e se meteu pela despensa e apareceu na cozinha onde Maroca, a cozinheira, se preparava para quebrar trinta e seis ovos para o pão. Era hora da merenda.
sexta-feira, 18 de abril de 2014
Cesta: Carta para uma estrada
Li, ontem, no "El Universo": Gabo, criador de Malaquias, esvaiu-se pelas próprias linfas.
Desde Zipaquirá ouço vozes; desde Cartagena leio coisas do realismo ilusório. Desde Macondo vivo sonhando com"buenos dias".
Essa estrada pensa que Malaquias e Eu-enfraseador, homens de tantos descaminhos, não sofrem, sem ônus, de solidão.
Ilusão...
Ass: Labareda, do bando de Corisco, hoje na pele de Malaquias.
A Erendira de García Márquez e Ruy Guerra
Em 1983, Ruy Guerra, o cineastra moçambicano-brasileiro, fez este filme com a grande atriz grega Irene Papas e a estreante Claudia Ohana - então casada com Guerra. O filme foi uma produção da França, México e Alemanha, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes. Mas o único prêmio que ganhou foi o de melhor cenário no Festival de Cinema do México.
Já tinha lido o conto quando vi a obra de Guerra. Ele soube bem dar um tom sombrio e melancólico ao filme que é um dos poucos que quase se equivalem à obra escrita original.
Es una obra en la que se trata ampliamente el tema de la prostitución de menores en el Caribe Sudamericano. Narra la historia extendida de Eréndira, una joven criada por su abuela desde que murió su padre. Al llegar a la preadolesencia, la prostituye para así mantener su nivel de vida.
También se puede interpretar como una metáfora de García Márquez entre la explotación de los países menos desarrollados (Eréndira) por parte de países desarrollados (La abuela).
Comienza así su peregrinaje. En uno de tantos pueblos, Eréndira conoce a Ulises, quien se enamora de ella. La busca, le dice que en la noche volverá por ella y la llamará usando el canto de una lechuza. Los dos huyen pero la abuela consigue que la autoridad militar los persiga y atrape. Para que eso no se repita, desde entonces la abuela mantiene encadenada a la cama a Eréndira.
(do blog La Historia del día).
quinta-feira, 17 de abril de 2014
Gabo
A primeira coisa que eu li do Gabriel Garcia Marquez foi Crônica de Uma Morte Anunciada. Depois de muitos anos, recebi uma herança de um tio ainda hoje vivo que nada tinha a me dar, salvo algumas lições básicas de futebol que eu nunca aprendi e um exemplar de Cem Anos de Solidão. Como eu era um adolescente nostálgico, aquela história longa, cheia de mortes, despedidas, abandonos e sumiços casou bem com meu espírito.
Daí vieram O Amor no Tempo do Cólera, Do Amor e Outros Demônios, O Outono do Patriarca e... eu acho que só.
Faz tempo que eu não leio nada do Garcia Marquez: o Gabo que se tornou um ícone da esquerda latina, de guayabera e bigodão, sumiu da minha frente como uma moça que se evolasse em asas de borboletas. Não porque eu tivesse me tornado um quarentão direitoso, ou porque a América Latina não mais me interessasse. Foram apenas coisas da vida. Um afastamento sem querer, como o de um amigo cujas afinidades permanecem adormecidas.
Mas ele vivia nas minhas lembranças. Volta e meia chegava-me um texto apócrifo, que lhe era falsamente atribuído. Coisas cafonas, sem estilo, desmerecedoras das minhas lembranças. Eu as refutava. Aquilo não podia ser coisa do homem.
E agora a notícia de sua morte... Não há como não lembrar do livro sem capa, que eu nem sei onde anda, e do meu tio ainda vivo com quem eu não convivo mais.
Cada pessoa lembra dos autores que leu a partir de suas próprias memórias afetivas. Para mim, Gabriel Garcia Marquez vai ser sempre o autor da saudade e da nostalgia.
quarta-feira, 16 de abril de 2014
A vida seria sonho?
com este engano mandando,
dispondo e governando;
e este aplauso, que recebe
emprestado, no vento escreve,
e em cinzas converte-lhe
a morte, desdita forte!
Que há quem tenta reinar,
vendo que há de despertar
no sonho da morte?
Sonha o rico em sua riqueza,
que mais cuidados lhe oferecem;
sonha o pobre que padece
sua miséria e sua pobreza;
sonha o que a medrar começa,
sonha o que afana e pretende,
sonha o que agrava e ofende,
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
embora nenhum o entenda.
Eu sonho que estou aqui
destas prisões carregado,
e sonhei que em outro estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção,
e o maior bem é pequeno:
que toda a vida é sonho,
e os sonhos, sonhos são.
sábado, 12 de abril de 2014
Vem dançar comigo
— Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo?!
No meu outro blog convido os leitores (as) para ouvir algumas tendências do pop/dance.
— Até a próxima.
sexta-feira, 11 de abril de 2014
Vergonha que não é alheia, é nossa III
Bruxelas - Torcedores que vão torcer pelos Diabos Vermelhos (NT: apelido dos jogadores de seleção belga) na Copa do Mundo de Futebol no Brasil podem se armar via um curso especial de segurança contra os criminosos. Em Ranst (NT: cidade da província de Antuérpia, a 55 km ao norte de Bruxelas), Campus Vesta, o centro provincial de treinamento para policiais, bombeiros e socorristas médicos de urgências, organiza tal treinamento junto com seu parceiro holandês ProCentrum.
A Brazilian Experience é um curso interativo e se desenrola num bar fictício. Os torcedores ganham uma prova da noite noturna brasileira com samba ao vivo e deliciosos tira-gostos, mas também com batedores de carteira profissionais. "Você pode ler na internet o que pode fazer e o que deve evitar, mas logo se esquece. Mas se você mesmo descobre, então fica mais na sua cabeça", garante Ben Cuypers, treinador de controle de agressões.
sexta-feira, 4 de abril de 2014
Cesta do fraseamento. Hoje: Hemoptise
o remorso é um tapume blindado pelo eco
Na fumaça cinzenta da memória
a voz ainda trepida em megahertz
Ass: Labareda, do bando de Corisco