Não, este ano não haverá eleições na Argentina, mas a tensão entre mídia, governo e movimentos políticos e partidários é incessante. E, talvez por ser brasileira, esse comportamento me causa uma certa estranheza, levando em conta que me saltam aos olhos essa tensão no país canarinho quando temos sufrágio a vista.
O que me provoca inquietude é a necessidade do governo de ter de responder à imprensa as mesmas perguntas, todo santo dia. Melhor dizendo, responder ao que me parecem provocações feitas pela imprensa opositora. E vale lembrar que a oposição midiática é, principalmente, feita pelo poderoso grupo Clarín, o que resiste até as últimas conseqüências à Ley de Medios, ou de democratização da comunicação na Argentina. Ah, sim, o mesmo grupo que apoiou as ditaduras.
Por que essa necessidade do governo K em responder à mídia? A população tem direito de saber o que passa? Óbvio. É dever do governo manter transparência, especialmente quando passa por uma situação econômica delicadíssima, ainda que ela não seja de hoje. O governo está respondendo mesmo pra mídia? Ou responde para a população, militantes ou não? E a população não é capaz de distinguir entre o que percebe no seu cotidiano e o que diz a imprensa?
Sempre escutei no Brasil que os argentinos são o povo mais politizado da América Latina. Se é mesmo assim, e me parece que de fato é, morder a isca da mídia faz mais ou menos sentido?
Tenho mais perguntas que respostas. Inquietude indelével. Não me identifico com a postura do governo K, assim como considero aberrantes muitas ações da grande imprensa argentina.
Muita gente já tem opinião formada. Há um grupo que apóia incondicionalmente o que fizer o governo K. Há outro que é sempre contra. E coloco aí num meio termo os – talvez poucos - que são capazes de ser contra ou a favor não de um governo, mas de políticas ou iniciativas governamentais.
Acredito que no Brasil a aplicação de uma lei antiterrorismo contra um veículo de comunicação - pelo fato de ter afirmado que “a Argentina espera pelo pior” – seria um tiro no pé, ainda que a imprensa seja tão bizarra quanto.
Se isso fosse no Brasil, eu diria que a uma crise econômica, soma-se uma flagrante crise midiática.
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