Já sei que escrevi sobre eleições na Argentina aqui, na Revista do
Brasil e no tuiter. Sei também que alguns já leram algo disso recentemente nos traços de Paulo Henrique Amorim. Mas eu gostaria de acrescentar outros poréns agora, há menos de uma semana
para o segundo e último turno de votação.
No decorrer do processo eleitoral, vou ruminando uma comparação amadora
com o processo brasileiro. Por exemplo, este ano foi o primeiro em que o país viveu
um debate entre candidatos a presidente. A mim pareceu impressionante. O Brasil
há décadas espera com ansiedade pelos debates entre os candidatos. E olha que
não são poucos, porque cada veículo de comunicação faz um. E existe ainda toda uma
preparação pré debate e repercussões pós debate.
Houve o debate com todos, todos os candidatos que foram crivados pelas
Primárias Abertas Simultâneas e Obrigatórias (Paso), em outubro. Dos seis,
apenas o oficialista não compareceu. Com o segundo turno confirmado, veio
também a garantia de mais um debate, entre o oficialista e seu principal opositor.
Mas tem um detalhe aí nessa história. Quem promoveu o debate não foi
nenhum meio de comunicação. Esses tiveram participação secundária: a de
escolher um de seus jornalistas para competir por uma vaga como mediador e a de
transmitir, se tivesse interesse. Sim, senhor. Isso me pareceu outra diferença
significativa.
Os organizadores do debate foram membros de um coletivo formado
especificamente para a missão, Argentina Debate, vinculada à Faculdade de
Direito, da Universidade de Buenos Aires (UBA). Mesmo não crendo em neutralidade em canto algum, por simples condição
humana que a inviabiliza, eu imaginei que tudo poderia ser um pouco mais limpo.
Mas, ora, ora, limpo! Os veículos de comunicação da Argentina não têm nada de
diferente dos veículos brasileiros. Sempre tomaram partido. E nisso o
oficialismo leva muita desvantagem. Portanto, os mediadores, sendo
representantes desses veículos, iriam reproduzir o discurso favorável ou
desfavorável a um ou a outro conforme ditam seus patrões. E não deu outra. Foram
dois contra um. Dois de veículos opositores e um de veículo próximo ao
oficialismo.
O certo é que os mediadores não fazem perguntas, como ocorre no Brasil.
Cada um, a seu tempo, ditava os temas gerais previamente selecionados para cada bloco. Se quisessem,
poderiam fazê-lo com algum comentário. E foi aí que botaram as garras pra fora,
notoriamente.
E digo mediadores também porque, de fato, não havia nenhuma mulher. Sim, eu acredito que o fato de haver uma mulher
faria diferença nesse meio de campo. Mas Scioli, o oficialista, tirou vantagem
do adversário: lembrou do movimento Nenhuma a Menos, pelos direitos das
mulheres, enquanto Macri fechou o atendimento de vítimas de violência de
gênero.
E aí entra outro elemento muito interessante também. O coletivo Checado.
São eles que ajudam os cidadãos a conferirem o que é verdade ou mentira no
discurso dos candidatos. Eles já vinham fazendo este trabalho ao longo do ano,
mas acompanharam em cima do lance o debate. Escolhem um dos números ou
informação expressada e verificam sua veracidade, divulgando virtualmente.
Particularmente, vejo no rosto de Daniel Scioli um eterno enfado. E isso
é ruim para o atual governador do estado de Buenos Aires. Mas o
discurso dele é mais consistente do que o do governador da cidade de Buenos
Aires, que sempre faz piadinhas desvantajosas - como dizer que “agora me rendo,
Daniel” – e tem sempre um riso na venta.
Aí vai de cada eleitor sentir que conta mais a segurança da fala de Scioli - que insiste em mostrar a diferença entre dois modelos de governo - ou a imagem de um bacana e bonachão Macri. A diferença percentual entre os dois foi muito
pequena no primeiro turno, o que dificulta mais ainda um chute sobre o
resultado dessa primeira vez na história argentina em que os eleitores terão
segundo turno. O jogo só acaba quando o juiz apita. E parece que ele vai apitar
por volta da meia noite, porque, afinal, a Argentina ainda vota em papel.
Enquanto isso, seguem os balões coloridos de Macri pelas ruas portenhas e os volantes de Scioli por praças e parques.
O resultado, a meu ver, repercutirá drasticamente na Argentina, mas também na América Latina, porque cada um tem propostas bem diferentes para as relações internacionais. A conferir.
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