domingo, 15 de novembro de 2015

A dor do rio

Eu me chamo Amazonas,
                     e quero falar de dois irmãos: Doce e Sena
Doce, o patrício, salgaram-no de lama e mercúrio.
O Sena, saiu de cena numa noite de novembro quando suas águas toldaram a minha alma numa lama de sangue.  
Estamos arriados em nossos leitos e calafetados pela dor dos irmãos.
O próximo serei. 
Deus, me acuda!

Como se não bastassem os ribeirinhos 
                              que carrego na proa de minhas canoas,
agora também pesa no ombro 
                    o pêndulo da desgraça por amar o mar e o mundo.
Eu, rio, que deságuo hoje no atlântico com um volume de vida menor,
                                            estou enlutado do amor.
Estou secando ...
                           ...e o que evaporou de mim
e me fez menor ...
                            ...foram as lágrimas.

Ao meu lado vejo um homem
                         Ele carrega uma lata-dágua na cabeça
e na cabeça só há a lata e o vazio do tamanho do Saara.
A água foi-se na escuridão das noites em que não dormi,
                 ao ver ganância e fundamentalismo no mesmo cântaro,
em vez de água de beber.
Restou-me a sede nos lábios rachados,
Tal como a caatinga do nordeste do olvidado Chico.

Hoje: luto, não sorrio,
                           sou rio que se veste com as cores da dor.


Labareda, do bando de Corisco 

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