É incrível notar como meu estado de ânimo interfere e é
influenciado imediatamente pelas experiências cotidianas. Digo: se estou saindo de um relacionamento traumático, não quero ouvir nem ler nada que me faça lembrar disto! Passados mais remotos também marcam presença firme e forte. Certo, eu sei que é
meio óbvio, mas costuma me surpreender. Ponto. E devo reconhecer que alguns
sentimentos são muito intensos no momento, o que não vem exatamente ao caso ao
observar a beleza dos livros “Catarina” e “Jesse”, da historiadora Bruna
Guerreiro, que acabo de ler. Ambos. Num tapa. A vivência vibrante de dois
jovens de gerações diferentes é contada de um jeitinho inebriante. Ela com 18,
ele com quase 40. Me reconheci em muitas situações. Sim, muitas. E talvez por
isso ache que, para escrever algo assim, como os livros descrevem, só alguém
que também já sentiu algo parecido minimamente e, principalmente, se permite
ter claro tantos detalhes que costumamos esconder despudoradamente: os
conflitos mortais, os morais, os desejos, as situações... Tudo soa muito real e
não me sinto tão segura se quero sentir, ainda que de relance que seja, o que
sentem alguns personagens, em especial os protagonistas. Emoções eu revivi e
foi diferente do que senti quando também revivi algumas delas em “Ao som do mar
e à luz do céu profundo”, de Nelson Motta. Mas este eu li em 2007.
Curioso é que sempre me vangloriei de poder dizer que nunca
senti nostalgia do meu passado, nem sentia ansiedade pelo meu futuro. Em tese,
eu estaria mergulhada lindamente no meu presente. E sempre comparei,
mentalmente ou não, com as fases de crescimento da minha filha. Amei todas. E
digo até este exatíssimo momento: amo todas, cada uma de sua maneira muito
particular, com suas dores e especialmente suas delícias. Estava eu, neste
molde, contemplada, em minhas diferentes faixas etárias. Poderia gritar aos
quatro ventos, sem pestanejar, que estou muito bem, obrigada. O que passou,
okey. O que vivo, beleza. O que virá, que venha. Mas a deixa está logo ali no
começo do texto, meu estado de ânimo. Comecei então a pensar tanto na
vivacidade e dramas de Catarina. Égua! Acho que bateu saudade da audácia. Deu medo também de não poder viver mais isso.
Pauso para desviar estas linhas para minha relação com a
Bruna. Fomos colegas de turma, em um curso de espanhol. Como ela deve saber,
sempre admirei muito a Bruna, seu charme, sua segurança, sua ousadia. E, quando
avalio o perfil da personagem Catarina, pluft! Não é que parece que eu vejo a
Bruna? Não importa muito o que isso signifique. Sempre vai significar algo para
cada pessoa por diversos motivos. O que vale mesmo é o prazer da leitura e até
onde ela pode te levar. A mim, cutucuou. Vou guardá-los, autografados, para minha filha ler (daqui a mais alguns anos).
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