quinta-feira, 2 de março de 2017

Minha mãe chorava – ainda

Gosto de lembrar dos momentos em que nos divertíamos, eu e minha mãe. Seu sorriso me fazia bem (menos as gargalhadas, que às vezes pareciam altas demais e eu tinha vergonha quando todos olhavam à volta). Eu me sentia leve e segura, mas se me detivesse só um pouquinho no seu rosto, bastavam alguns instantes...pronto, ali estava o seu choro, nítido e cristalino. Era como um membro do seu corpo: estava com ela em qualquer circunstância.

Certa vez, intrigada com essa mãe que tanto chorava, comecei a me perguntar se o choro não era dos meus olhos, se não estavam em mim tantas lágrimas. Esse diálogo meu comigo era sério, perdurava, se desdobrava. Eu não conseguia me conformar com uma mãe que chorava tanto, mas tampouco entendia o que poderia me levar a construir uma imagem tão triste de minha mãe dentro de mim mesma. Será mesmo que então eu desejava isso? Viraria outro imbróglio.

Eu ruminava esta mãe, não qualquer mãe, a minha mãe que chorava. Era como se eu sempre estivesse olhando pra ela debaixo pra cima, me aproximando entre nossos silêncios pra segurar sua mão e observar a reação da sua face. Cumplicidade e cuidado. Me sentia miúda e minha mãe parecia saber disso. Ela se mantinha calada e ainda chorava.

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