sexta-feira, 30 de junho de 2017

Da Vinci aporta em Belém

Roger Normando, professor de cirurgia torácica - UFPA
 O domingo começou ensolarado neste 11 de junho, quando o Da Vinci aportou em Belém para trazer boas novas aos Xamãs da floresta. Não, não falamos das cinzas de Leonardo da Vinci, artista e intelectual renascentista. Falamos, sim, do robô adquirido por um dos hospitais paraenses, para auxiliar cirurgiões na retirada de uma próstata tumoral.
Inicialmente pede-se vênia ao escritor Raimundo Sodré para tentar explicar todo este avanço tecnológico, sem que se veja como pavulagem: Calhou d’eu entender que este momento que vivemos, embora permeado de dramaticidades e extravagâncias, seja também de reviravoltas, de revoluções.
Antes desta tecnologia aportar em Belém a robótica já vive rotina. Na Califórnia, há 11 anos, com o cirurgião alocado em Seattle, o Da Vinci auxiliou numa operação complexa. Longe desta pompa inicial, atualmente se realizam operações com o cirurgião ao lado do paciente, sentado num console joystick, como se dirigisse um fórmula 1, com um segundo cirurgião no campo operatório. No Brasil, a nova plataforma foi usada em 2008 num procedimento urológico, em São Paulo.
A maior reviravolta está na cinesiologia, ao possibilitar maior amplitude de movimentos, se comparado à mão cirúrgica - além da visão em 3D. A grande crítica é o custo, além de maior tempo de aprendizagem, redução no espaço para os participantes e falta de sensação tátil, que deve ser reavaliada em futuras gerações de robôs. Além da urologia já há indicações para outros compartimentos: cirurgias cardiovascular, torácica, digestiva, ginecológica, oncológica e proctológica, entre tantas.
Na verdade, o que se viu naquela manhã foram braços robóticos, cujas articulações têm movimentos que tornam um grande aliado em operações cujos espaços são limitados, ou em que é necessário o detalhamento topográfico do órgão explorado. Os braços terminam numa espécie de pata que lembra a de um crustáceo, digamos assim, cujos movimentos superam aos da humana mão. Isto no campo visual limitado representa um ganho inimaginável.
Para se tornar um cirurgião-robô precisa-se de treinamento e certificação, tornando o programa seguro. Os cirurgiões paraenses desta epopéia fizeram treinamento em Bogotá, pois no Brasil ainda está sendo preparado um centro no Rio de Janeiro.
E os perigos? Isaac Asimov, que romanceou robôs desde 1957 antes de se tornarem hominídeos, afere: qualquer avanço tecnológico pode ser perigoso. O fogo era perigoso no princípio, assim como (até mais) a fala - e ambos ainda são perigosos nos dias de hoje -, mas os seres humanos não seriam humanos sem eles.
A pioneira operação com robô, no Norte do Brasil, neste domingo ensolarado, foi num sexagenário, com baixo risco de complicações relacionadas à impotência sexual e ao descontrole da micção, estas, as maiores contribuições desta tecnologia à cirurgia prostática. A operação terminou por volta do meio dia com uma tromba d`água bem paraense. Estariam os Xamãs da floresta emocionados ao perceberem a pajelança do Da Vinci entre seus habitantes, por isso mandaram lágrimas de euforia?  

Oxalá seja novo axioma e se possa aspirar, com uma simples cânula, as adversidades que porventura apareçam. Portanto, sigamos...

artigo originalmente publicado em O liberal, de 28/09/2017

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