Roger Normando, professor de cirurgia torácica - UFPA
O domingo começou ensolarado neste 11 de
junho, quando o Da Vinci aportou em Belém para trazer boas novas aos Xamãs da
floresta. Não, não falamos das cinzas de Leonardo da Vinci, artista e
intelectual renascentista. Falamos, sim, do robô adquirido por um dos hospitais
paraenses, para auxiliar cirurgiões na retirada de uma próstata tumoral.
Inicialmente pede-se vênia ao escritor Raimundo
Sodré para tentar explicar todo este avanço tecnológico, sem que se veja como
pavulagem: Calhou d’eu entender que este
momento que vivemos, embora permeado de dramaticidades e extravagâncias, seja
também de reviravoltas, de revoluções.
Antes desta tecnologia aportar em Belém a robótica
já vive rotina. Na Califórnia, há 11 anos, com o cirurgião alocado em Seattle,
o Da Vinci auxiliou numa operação complexa. Longe desta pompa inicial, atualmente se realizam operações
com o cirurgião ao lado do paciente, sentado num console joystick, como se
dirigisse um fórmula 1, com um segundo cirurgião no campo operatório. No Brasil, a nova plataforma foi usada em 2008
num procedimento urológico, em
São Paulo.
A
maior reviravolta está na cinesiologia, ao possibilitar maior amplitude de
movimentos, se comparado à mão cirúrgica - além da visão em 3D. A grande
crítica é o custo, além de maior tempo de aprendizagem, redução no
espaço para os participantes e falta de sensação
tátil, que deve ser reavaliada em futuras gerações de robôs.
Além da urologia já há indicações para
outros compartimentos: cirurgias cardiovascular, torácica,
digestiva, ginecológica, oncológica e proctológica, entre tantas.
Na verdade, o que se viu naquela
manhã foram braços robóticos, cujas articulações têm movimentos que tornam
um grande aliado em operações cujos espaços são limitados, ou em que é
necessário o detalhamento topográfico do órgão explorado. Os braços terminam
numa espécie de pata que lembra a de um crustáceo, digamos assim, cujos
movimentos superam aos da humana mão. Isto no campo visual limitado representa
um ganho inimaginável.
Para
se tornar um cirurgião-robô precisa-se de treinamento e certificação, tornando o
programa seguro. Os cirurgiões paraenses desta epopéia fizeram treinamento em
Bogotá, pois no Brasil ainda está sendo preparado um centro no Rio de Janeiro.
E os perigos? Isaac Asimov, que romanceou
robôs desde 1957 antes de se tornarem hominídeos, afere: qualquer avanço tecnológico pode ser perigoso. O fogo era perigoso no
princípio, assim como (até mais) a fala - e ambos ainda são perigosos nos dias
de hoje -, mas os seres humanos não seriam humanos sem eles.
A pioneira operação com robô, no Norte do
Brasil, neste domingo ensolarado, foi num sexagenário, com baixo risco de complicações
relacionadas à impotência sexual e ao descontrole da micção, estas, as maiores
contribuições desta tecnologia à cirurgia prostática. A operação terminou por
volta do meio dia com uma tromba d`água bem paraense. Estariam os Xamãs da
floresta emocionados ao perceberem a pajelança do Da Vinci entre seus
habitantes, por isso mandaram lágrimas de euforia?
Oxalá seja novo axioma e se possa aspirar, com
uma simples cânula, as adversidades que porventura apareçam. Portanto,
sigamos...
artigo originalmente publicado em O liberal, de 28/09/2017
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