sábado, 7 de outubro de 2006

Dias especiais. Mas, cuidado!

Nós paraenses, vivemos agora dias especiais. Dias de animação, trânsito complicado, supermercados lotados e muita expectativa. É a festa do Círio de Nazaré.
Como sempre, preparamos a casa para receber a família, combinamos o local para assistir a passagem da santinha, encontramos pessoas há muito não vistas e iniciamos uma jornada de fortes apelos gastronômicos (e quase sempre etílicos).

Cuidado com os exageros. Quem não puder, definitivamente não abuse. Os pronto-socorros privados lotados e tumultuados no dia seguinte a estes abusos são a maior prova de sua existência. E os médicos, paramédicos, policiais, bombeiros, socorristas e afins tem muito trabalho neste dias.

Hipertensos e obesos, moderação. Diabéticos, cuidem dos calçados confortáveis e apertem a vigilância aos alimentos potencialmente prejudiciais. Idosos, cuidado com espinhas de bacalhau e outros pescados. Jovens e adultos, não dirijam se beberem. Gestantes, NÃO acompanhem o círio e nem a trasladação (é incrível o número de mulheres em avançado estado de gestação que o fazem). Crianças muito pequenas nem deveriam ir mas se forem, devem andar com uma identificação dentro do bolso da calça contendo nome, endereço e telefone para contato. Pode ser escrito a mão mesmo mas colocado responsavelmente no bolso da calça. À todos é proibido sair de casa sem um providencial café-da-manhã, que deveria ser especialmente reforçado nestes dias. Sua ausência associada ao enorme esforço que o imenso mar de gente proporciona, podem causar hipoglicemia e síncope. Um cantil com água mineral é de vital importância. A desidratação - em especial na manhã do Círio - é a principal causa dos desmaios e síncopes vistas aos borbotões por quem assiste de cima a procissão. É acelerada pelo calor e sol implacáveis aliado ao pouco espaço para a transpiração e ventilação na massa humana compacta. Ao primeiro sinal de tontura, procure afastar-se o mais possível da multidão e procure água para beber. Permanecendo os sintomas, procure um posto de atendimento ou um socorrista da Cruz Vermelha ou Defesa Civil. São eles que o levarão ao socorro mais próximo e viável. Lembre-se: os serviços de ambulâncias, por mais equipados e aparelhados que estejam, terão enormes dificuldades em chegar até você. A massa humana torna os veículos inúteis. Para tanto, as autoridades são obrigadas a posicionar as ambulâncias em locais de fácil escoamento em direção à rede de atendimento.
Nenhum destes citados, deveria de fato acompanhar a procissão. Mas a verdade é que vão.

Pessoalmente, sou amante da trasladação. Todos os anos, assisto a bela procissão noturna do mesmo lugar e sempre em busca da melhor foto da berlinda. Além do magnífico espetáculo noturno, sente-se aquela proximidade maior com a virgem e aquela emoção coletiva de mãos levantadas à sua passagem, enchendo nossos olhos de lágrimas. Um fenômeno coletivo e por isso mesmo com alta octanagem de emoções. Lembranças de infância, daqueles que já se foram, de outros momentos em família , tudo vem na cabeça da gente naqueles poucos minutos em que ficamos em frente à berlinda iluminada, majestosa, com efeitos de luz e o espetáculo de áudio criado pelo povo.

- Viva Nossa Senhora de Nazaré! - grita o orador.
- Viva!!! - responde o povo em uníssono.

Isso é demais. Nada substitui estes momentos.
E desejo à todos os fiéis leitores deste blog, independente da fé que compartilhem, boas emoções e felicidades, em tudo similares aquelas que sentimos todos os anos neste magnífico momento.
Dentro de sua fé, receba minhas homenagens sinceras.

4 comentários:

Val-André Mutran  disse...

Show de informação Barretto.
Estas recomendações deveriam ser publicadas e veiculadas em todos os veículos de comunicação de Belém, mas, não o fazem por puro descaso ou incompetência editorial.
Com a massificação de suas recomendações evitariam sob a égide da prevenção que um turbilhão de pessoas passassem mal durante a procissão e desafogariam o caótico atendimento que se transforma os edifícios da Saúde antes, durante e depois da romaria.
Concordo consigo:
- A Transladação é a procissão mais bonita e emocionante que conheço.
Um bom e gordo Círio para você e a família amigo.
Acompanharei tudo por aqui.

Carlos Barretto  disse...

Amigos
Este é um ponto de vista de quem já passou vários plantões no dia do Círio trabalhando feito cachorro, até o dia amanhecer.
Abs

Anônimo disse...

Não só plantões. Na época do governo Edmilson Rodrigues completamos a compreensão da dimensão do que ocorria em termos de saúde na maior festa paraense.
Membros da Coordenação de Urgência e Emergência, naquela administração estruturada, recordo que ficamos sol a pino na cobertura do Hilton Hotel monitorando e coordenando toda a operação de atendimento. Nessa altura começava a ser estruturado o SUS em Belém, e não tínhamos uma rede de atendimento melhor estruturada como ao final de 2003 deixamos. Dependíamos quase exclusivamente da boa vontade de hospitais, mesmo particulares, que se dispunham a contribuir para o êxito da operação.
Naquele Círio de 1997, lembro que tivemos nosso momento de máxima tensão quando viabilizamos a remoção de uma criança em estado de mal epilético, internada em uma clínica na Praça da República, mas sem possibilidades de transporte em virtude da procissão se encontrar exatamente naquela altura. Socorreu-nos a ambulância da Polícia Militar, que abriu caminho e garantiu o transporte seguro do pequeno.

Carlos Barretto  disse...

Confirmado, anônimo. Jamais esqueceremos aquele momento dramático. Serviu para termos uma idéia de como dimensionar uma procissão como o Círio, do ponto de vista de quem deve atender suas mazelas.
E de como é difícil estabelecer a logística deste atendimento.
Abs