sábado, 16 de dezembro de 2006

Medidas contra a violência

Bertolt Brecht

Certo dia o senhor Keuner, o Pensante, se pronunciava contra a violência num auditório; de repente, percebeu que as pessoas se distanciavam dele e, por fim, se afastavam. Olhou em torno e viu parada atrás de si... a violência.

- O que tu disseste? Perguntou-lhe a violência.

- Eu me pronunciava a favor da violência. Respondeu o senhor Keuner.

Quando o senhor Keuner foi embora, seus alunos lhe perguntaram por que dobrara a espinha. O Senhor Keuner respondeu:

- Eu não tenho espinha dorsal para vê-la destroçada. Justamente alguém como eu precisa viver mais tempo do que a violência.

E o senhor K. contou a seguinte história:

À casa do senhor Egge, aquele que aprendeu a dizer não, chegou certo dia, no tempo da ilegalidade, um agente exibindo um certificado expedido em nome daqueles que dominavam a cidade e dizendo que lhe pertencia toda a casa em que pusesse os pés; da mesma forma, pertencia-lhe toda a comida que ele pedisse; da mesma forma, deveria servi-lo todo homem que ele visse.

O agente sentou-se numa cadeira, pediu comida, lavou-se, deitou-se e perguntou, com o rosto virado para a parede, antes de adormecer.

- Tu vais me servir?

O senhor Egge cobriu-o com uma coberta, espantou as moscas em volta dele, vigiou o seu sono e, assim como nesse dia, obedeceu ao longo de sete anos. Mas, se fazia tudo pelo agente, uma coisa guardou-se de fazer: dizer uma palavra que fosse. Quando se passaram os sete anos e o agente já engordara de tanto comer, dormir e mandar, o agente acabou morrendo. O senhor Egge enrolou-o em sua coberta deteriorada, arrastou-o para fora da casa, lavou a sala, caiou as paredes, suspirou, e enfim respondeu:

- Não.

(Escombros e caprichos. O melhor do conto alemão no século 20. Trad. Marcelo Backes. LPM, 2004)

Um comentário:

Anônimo disse...

Parece a estória do Almir/Jatene/pKey´s/Santino/... e o paraense.