E a guerra sabe alimentar a gente dela muito melhor!
(Mãe Coragem na peça homônima de Bertolt Brecht)
Diz-se, com razão, que na guerra não há vencedores, só derrotados. Não de outro modo vejo a ratoeira moral em que se tornou a guerrilha das FARC na Colômbia. No elenco de capítulos desse conflito, onde se misturam utopias armadas, narcóticos e oportunismos de vária espécie e nacionalidade, destaca-se a biografia quase insondável do menino Emanuel, filho do relacionamento consentido entre um guerrilheiro e valiosa refém das FARC, o que, até prova em contrário, antes de ser um Romeu e Julieta tropical, é suspeito de resultar da terrível Síndrome de Estocolmo, nos moldes do que assistimos no extraordinário Porteiro da Noite (Liliana Cavani, 1974).(Mãe Coragem na peça homônima de Bertolt Brecht)
Segundo teria dito Marulanda - el tiro fixo, o septuagenário comandante-chefe das FARC, a criança pertenceria tanto aos guerrilheiros quanto aos outros. E aqui, com afirmação do legendário guerrilheiro, principia aquela náusea relacionada ao lado escuro dos assuntos humanos, pois observamos quer na alegada afirmação, quer no fato em si, a coisificação de um ser de três anos tornado mercadoria para escambo político.
Sabemos que não é desumano criar-se uma criança na selva, mas é estúpido e cruel usá-la como elemento de troca numa guerra onde, assim o episódio comprova, não há heróis, nem vilões, só derrotados. Espera-se que os de esquerda entendam que não dá para defender o Estatuto de Criança e do Adolescente no Brasil e ao mesmo tempo tirar de foco um assunto como este, varrendo-o para baixo do tapete em nome da "política" que o interesse partidário impõe.
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