quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Emmanuel

E a guerra sabe alimentar a gente dela muito melhor!
(Mãe Coragem na peça homônima de Bertolt Brecht)

Diz-se, com razão, que na guerra não há vencedores, só derrotados. Não de outro modo vejo a ratoeira moral em que se tornou a guerrilha das FARC na Colômbia. No elenco de capítulos desse conflito, onde se misturam utopias armadas, narcóticos e oportunismos de vária espécie e nacionalidade, destaca-se a biografia quase insondável do menino Emanuel, filho do relacionamento consentido entre um guerrilheiro e valiosa refém das FARC, o que, até prova em contrário, antes de ser um Romeu e Julieta tropical, é suspeito de resultar da terrível Síndrome de Estocolmo, nos moldes do que assistimos no extraordinário Porteiro da Noite (Liliana Cavani, 1974).
Segundo teria dito Marulanda - el tiro fixo, o septuagenário comandante-chefe das FARC, a criança pertenceria tanto aos guerrilheiros quanto aos outros. E aqui, com afirmação do legendário guerrilheiro, principia aquela náusea relacionada ao lado escuro dos assuntos humanos, pois observamos quer na alegada afirmação, quer no fato em si, a coisificação de um ser de três anos tornado mercadoria para escambo político.
Sabemos que não é desumano criar-se uma criança na selva, mas é estúpido e cruel usá-la como elemento de troca numa guerra onde, assim o episódio comprova, não há heróis, nem vilões, só derrotados. Espera-se que os de esquerda entendam que não dá para defender o Estatuto de Criança e do Adolescente no Brasil e ao mesmo tempo tirar de foco um assunto como este, varrendo-o para baixo do tapete em nome da "política" que o interesse partidário impõe.

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