Reza a lenda que no ano de 708 o bispo Aubert, da pequena cidade de Avranches, na região francesa da Bretanha, recebeu por três vezes em sonho a visita de São Miguel Arcanjo.
Nas três aparições, o anjo instruiu-o a construir, em sua homenagem, uma capela no cimo do monte Tombe (Tumba, em francês), uma ilhota granítica localizada em uma grande área arenosa onde desembocam os rios Sée, Sélune e Couesnon, limites naturais entre a Bretanha e a Normandia.
O local tornou-se rapidamente um destino de peregrinagens, vindo a pequena capela a ser substituída rapidamente por uma abadia carolíngia, ainda durante o século VIII. Passou, pela homenagem ao santo, a chamar-se Mont Saint-Michel.
Com o grande fluxo de peregrinos, uma pequena vila se formou ao pé da abadia. A própria construção original foi-se ampliando, construindo-se-lhe anexos e ampliando-se a obra original. Nos séculos XI e XII, construiu-se uma igreja no cimo do monte. A abadia passou a ser utilizada como cripta, hoje denominada Notre-Dame-Sous-Terre (“Nossa Senhora sob a terra”). Durante os séculos XIII a XVI, outras edificações foram acrescidas ao mosteiro, aumentando sua capacidade de hospedagem e as áreas de administração. Ainda durante este período, o coro da igreja foi reconstruído em estilo gótico, muito mais bonito que o anterior, que desabara.
A flecha da igreja, encimada pela estátua de São Miguel Arcanjo, só veio a ser incluída na construção em
A primeira sensação que se tem quando se entra no Monte é, obviamente, de retorno ao passado – como em muitos outros sítios da Europa, aliás. No entanto, esta sensação, ouso dizê-lo, só ocorre com tamanha força, além do Mont Saint-Michel, em Siena, na Itália. Não se trata da pura existência de ruínas; a diferença destes locais para outros tão ou mais antigos está justamente na inexistência de escombros. Parece ao viajante que ele vê a cidade do mesmíssimo modo como ela existia há 500, 600 anos atrás. As construções, em estado esplêndido de conservação, despertam uma sensação respeitosa, senhorial, religiosa até.
À noite, a foule de turistas se vai e ficam na abadia somente os poucos habitantes e alguns visitantes interessados nas sensações noturnas do lugar: silêncio, muito silêncio, tanto quanto estrelas no céu.
O Monte, além de nutrido pelo engenho humano, abraça uma maravilha natural ao seu redor: a rocha está encravada em um imenso areal, uma das marés mais altas do mundo. Um longo campo de areia se estende a perder de vista, a partir do pátio da igreja. A subida da maré é, também, uma das mais rápidas de que se tem notícia: ensina-se aos pequenos franceses, com evidente exagero, que o mar, ali, avança em sua alta à velocidade de um cavalo correndo. Diz-se também que seu entorno costuma engolir os incautos em poças de areia movediça.
No Google Earth: 48°37'58.29"N, 1°30'34.43"W
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