segunda-feira, 19 de maio de 2008

Quase não se lhe dá valor

Começou com uma discussão, no blog 5ª Emenda, do nosso querido Juvêncio de Arruda, sobre a saída de Marina Silva do governo Lula. Uma comentarista sob o pseudônimo "Tropicália" fez suas colocações e recebeu umas tantas réplicas. Então treplicou e escutou mais um rosário de críticas. Em suas manifestações, fez referências a autores clássicos em suas áreas, nomeadamente Max Weber, o que acabou desviando a discussão para uma crítica aos academicismos. Arruda, que é também um acadêmico, rejeitou frontalmente agressões ao "senso acadêmico".
Este fato me leva a fazer uma ponderação. Nada sobre Weber, mas algo em um nível muito mais primário. Na hora do discurso, todos sabem falar do valor da educação - aqui entendida como instrução formal -, mas no cotidiano de suas vidas a postura é completamente diferente. Daí a rejeição à comentarista, quando ela dá, às suas palavras, uma certa consistência teórica.
O fato é que se dá pouco valor à educação. E não falo, agora, do Estado, mas do cidadão comum. Começa pela forma como os pais agem em relação a seus filhos, no que tange a ir para a escola ou fazer deveres. Se a criança faz algo errado e o pai a manda para seu quarto fazer o dever, ela associará estudo a punição e o começo da jornada será péssimo. Já vi isso umas tantas vezes.
Da escola à universidade, o aluno estudioso costuma ser valorizado apenas pelos professores. A alcunha "CDF" é um ícone do desprezo ao gosto pelo conhecimento. Os colegas apresentam posturas variadas em relação aos primeiros da turma, mas sempre há uma ponta de ironia e despeito, por parte de alguns. Não raro, são acusados de sentimentos e intenções que jamais manifestaram.
Se uma pessoa quer se mostrar abalizada para falar sobre certo assunto e oferece como credencial trinta anos de exercício profissional, tudo bem, mas se apresenta uma pós-graduação, é logo desqualificada (e ganha fama de arrogante). A expressão mais significativa disso foi a escolha de professores universitários para assumir funções de primeiro escalão no governo. Houve duras reações aos acadêmicos, assim chamados de modo nitidamente pejorativo.
Então, quem valoriza a educação? Para que ela serve? Para que eu obtenha notas e aprovações, mas dela não posso dispor na minha vida? Não posso citar autores nem teorias, sob pena de virar arrogante. Não posso ser técnico, porque isso faz de mim um burocrata, mas quem realmente entende do assunto é o que faz mais do que fala.
Uma sucessão de clichês.
Valorizo a ciência, gosto de aprender e penso que, se estudamos um objeto, devemos nos aprofundar em sua história, suas teorias, seus expoentes, seus conceitos e finalidades práticas. E se uma situação qualquer da vida o permitir, posso recorrer a todos esses elementos, por que não? Se um conhecimento não serve para ser usado no cotidiano, por que diabos alguém precisaria dele na escola?

2 comentários:

Unknown disse...

Ok,Yúdice.
Vc deu um recorte diferente, e não menos nobre, à discussão.
Abs

Yúdice Andrade disse...

Agradeço, Juvêncio. Foi o sentimento que me acometeu na hora. Abraços.