sábado, 17 de maio de 2008

Machado Coelho Reencontrado

Está perdido na memória quando ouvi falar de Machado Coelho pela primeira vezi. Sei, por exemplo, onde morava, na Praça da República, pegado ao Grupo Escolar Floriano Peixoto, hoje Centro Estadual de Cultura. Concreta, na memória, tenho a imagem incompleta de alguém sem rosto, para quem minha mãe entregara livros como portadora da gentileza de amigo comum; que em seguida agradeceu a ela de forma polida e impessoal, pois não se conheciam. Depois me vem a lembrança de ter sido ele pai de uma colega dos tempos de Curso Primário, na Escola de Aplicação Profa. Serra Freire: a Coca - que reencontrei década e meses depois, quando ambos cursávamos Medicina na Universidade Federal do Pará.
De verdade a lembrança do nome sempre esteve associada ao papel que Machado Coelho teve no convívio com uma intelectualidade paraense que não mais existe enquanto grupo, embora representativa de um mundo distante, que se vai desvanecendo paulatina e inexoravelmente. Mas, se tudo muda, não menos verdade é o reconhecimento de que, em contraponto à brevidade da vida, temos a longevidade da arte. Pois foi por ela que, enfim, me aproximei de Machado Coelho.
Em uma de minhas muitas viagens a São Paulo, decidi furar o intervalo do almoço e visitar um dos muitos sebos da cidade, próximos da Avenida Paulista. O dono é um antigo conhecido, ex-estudante de medicina, que enveredou pelo ramo da compra e venda de alfarrábios. Pois lá chegando, depois dos cumprimentos e perguntas amáveis, o alfarrabista me apresenta num canto uma pilha de livros antigos sobre a Amazônia que, segundo ele, santamente aguardavam por mim. Se a tensão da reunião fora aliviada pelo ambiente da livraria, ainda mais usufruiria dessa hora porque entre outras preciosidades empilhadas, estava a rara tradução por Machado Coelho da poesia de Verlaine, em edição bilíngue da Editora Falângola, no ano de 1951... em excelente estado de conservação e autografada, sublinhe-se.
Feitas as pazes entre eu e o dia que iniciara tão aborrecido, li e reli o livro de 70 páginas a 10 mil pés. Quando o avião aterrisou, eu estivera em êxtase movido pela técnica de tradução/recriação dos poemas do célebre poeta francês, indiscutivelmente merecedores de reedição com o não menos atual Prefácio, escrito pelo professor Francisco Paulo Mendes. Dentre os 10 poemas transcriados por Machado Coelho em Minhas Canções de Verlaine, selecionei ...

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