quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Do apoio de Jordy a Priante

A respeito do post Após a queda, o coice, a blogueira Bia fez o seguinte comentário:

Caro Francisco,

como acabei de publicar no Travessia o que penso deste dia de domingo - muito melhor era a canção - fico ainda mais tranquila em vir aqui palpitar sobre a gangrena do pé do Deputado Arnaldo Jordy.

Não sou porta-voz do deputado, mas sou sua colaboradora. E amiga, Há décadas. Por isso, permitindo-me sempre divergir das pessoas a quem respeito, também me permito defende-las mesmo na divergência.

O tiro no pé ainda não tem autor, caro Francisco. Aliás, tem. Mas, não é o Deputado. Ainda que sem culpa, o povo de Belém atirou no dedão. Disse não a Duciomar, expressando-se nas diversas candidaturas, nos votos nulos, em branco e nas abastenções. Mas não escolheu muito bem quem capitalizaria essa decisão.

Você, eu, milhares de belenenses certamente poderemos dizer não aos dois, sob a forma do voto-não. Mas, ainda levo em conta se ao Deputado Arnaldo Jordy caberia portar-se como eu ou você.

O PPS fez uma opção e o deputado também, pois o sei disciplinado e coerente nas questões democráticas. E, para o bem ou para o mal, o segundo turno é da regra da democracia que construímos.

Torço para que o tiro no pé dado pela população não se transforme em gangrena, caro amigo. Que seja apenas uma coceira, um bicho-de-pé, não mortal, mas incomodo o sficiente para nos lembrar, a todos, que há muito ainda que avançar para que passemos da luta diária por direitos elementares - trabalho, casa, comida, um pouquinho de saber e de saúde - para o patamar da cidadania efetiva quando, certamente, Duciomar e Priante serão apenas parte da nossa história.

Um abraço. E bom domingo.

Sobre ele, Bia, teço o seguinte comentário.

Tenho um enorme respeito por você. Também o tenho pelo deputado, em quem já depositei a confiança em eleições passadas. Só não o fiz neste ano, inclusive, porque estava viajando no primeiro turno.

Em razão deste respeito é que me permito dizer, com franqueza, que o Jordy deu, sim, um tiro no pé. E não em um só pé, não; no pé de mais de 83 mil eleitores que o apoiaram no primeiro turno.

O discurso consistente da ética e do conhecimento dos problemas da cidade, inclusive sob o ponto de vista técnico, eram evidente monopólio do Jordy. Só ele, dentre os candidatos (com exceção feita, sob este campo, da querida Marinor), não tinha seu nome envolvido, diretamente ou por proximidade, em acusações de má-versação de dinheiro público. Só ele mostrava conhecimento do orçamento municipal suficiente para garantir fundos para as propostas que apresentava. Só ele tinha o know-how até certo ponto desinteressado, obtido por anos de vida pública, para se apresentar como mudança no cenário local.

Foi nisso que seus eleitores apostaram e foi isso o que ele traiu (perdoe-me o termo, talvez forte demais). Traiu o eleitor que não quer a volta toda-poderosa de Jader Barbalho, ou a continuação da quadrilha que se alojou no Palácio Antônio Lemos, ou ainda a permanência sombria, por detrás das decisões municipais, das ORM ou da RBA. Traiu seu eleitor, que acreditou que ele faria diferente.

Se a decisão é partidária e o Jordy acatou-a, como um obediente soldado das decisões do PPS, eu não sei. Mas se esta hipótese é real (e como é você que a suscita, eu a tomo como premissa verdadeira), ele tinha a obrigação de esclarecer este fato aos seus eleitores. Isto não se faz por meio de fotos em que apareça abraçado ao candidato do PMDB, ou em declarações de apoio irrestrito, sem qualquer ressalva ou observação.

O jogo democrático nos impõe o segundo turno - certíssimo. Mas não se pode culpar a população pela falta de opções. Jordy poderia ter criado uma semente de mudança para esta história, mas preferiu plantá-la na horta do PMDB.

4 comentários:

Val-André Mutran  disse...

Muito inteligente sua análise Francisco. E pessoal também.

Anônimo disse...

Caro Francisco,

além de inteligente, como diz o Val-André, sua análise é correta. E é tão correta sob a ótica da maioria dos eleitores do Deputado Arnaldo Jordy, que cheguei a pensar em não voltar a comentar.

Mas, como você é um dos meus melhores amigos-de-infância na blogosfera, vim mesmo foi conversar. E tenho um reparo na sua avaliação: porque a posição do Arnaldo e do PPS significam uma automática coonestação de um "projeto" Jader Barbalho? Visto por este ângulo, teríamos que tirar o passaporte, face o leque incrível de apoio a Priante, do PT ao PC do B.

Entendo que se cobra do Deputado que ele tenha feito a opção pelo apoio àquela candidatura. Mas, como uma contradição, ao se fazer isso, reconhece-se nele a independência que sempre teve. E porque será que o acusamos de automaticamente perde-la numa aliança eleitoral? Prejulgamos o Deputado ao mesmo tempo em que lhe cobramos pelo seu passado sem manchas.

Caro amigo. Acho que esse tema pode ser uma boa continuidade para a nossa conversa.

Um abraço.

Francisco Rocha Junior disse...

Bia,

Na verdade, Jordy parece repetir um estrategema de sobrevivência que já tinha ocorrido, quando se aliou ao tucanato, no governo passado. Só que agora, não se trata de sobrevivência política; o momento é outro.

Na gestão do PSDB, Jordy não tinha a densidade eleitoral que atingiu neste pleito. De um primeiro mandato obtido a partir da suplência, Arnaldo manteve-se na ALEPA com 21.000 votos nominais (em uma eleição em todo o Estado), pulando para mais de 80.000 votos, em 2008, e somente na capital.

A análise que você faz, portanto, data maxima venia, como dizemos, é por demais subjetiva, deixando de observar o aspecto circunstancial desta eleição - isto é, como Arnaldo Jordy saiu dela. Sob este prisma, ele (e o PPS) tinha duas opções: manter-se longe do segundo turno, onde fatalmente haveria uma polarização entre grupos de poder (ORM/PSDB/Duciomar vs. RBA/Barbalho/PT), e sinalizar ao seu eleitor e àquele que, apesar de não ter-lhe confiado o voto, simpatiza com sua candidatura, que ele é realmente independente e diferente; ou aliar-se a algum dos candidatos, fortalecido pela expressiva votação que recebeu.

Como optou pela segunda hipótese, perdeu. Poderia ganhar de imediato, se Priante fosse eleito (falo no futuro do pretérito porque, creio, a reeleição do prefeito-desastre está consumada), com cargos, estruturas de secretarias e visibilidade; mas certamente atingiria seu maior capital, que é sua credibilidade. E, de fato, em meu entendimento, Jordy perdeu boa parte deste capital.

Abração.

Val-André Mutran  disse...

Penso que prevaleceu a tese da ocupação de "espaço", da qual eu discordo nesse caso.
Como não sou e nem pretendo ser dirigente de agremiação política, fico a vontade para saber se ele (Jordy) pode até negar, mas, certamente alinhavou um cargo qualquer com o Priante para um militante de consenso do PPS, uma secretaria...etc. Cargos senhores, salários pagos pelo contribuinte-eleitor, senhoras e senhores.
Eles (políticos) só pensam nisso.
Se o nobre deputado negar isso, vai ficar muito mal com seus eleitores. Se já não está como bem colocou o Francisco.
Parabéns pelo post.