domingo, 26 de outubro de 2008

Reeleições por todo o país

Bertolt Brecht devia estar com muita raiva quando escreveu o seu celebérrimo poema "O analfabeto político", que transcrevo abaixo. A linguagem furiosa não sugere uma simples contundência de opinião, mas um protesto individualizado.

Neste exato momento, o prefeito reeleito de Belém deve estar dando estrevistas com aqueles chavões pra lá de conhecidos, com ênfase em ter sido "absolvido pelo povo", o único juiz que interessa, após ingentes sacrifícios e de lutar quase sozinho (não fosse o mesmo povo), contra todas as imensas forças opositoras. É o triunfo da verdade e da justiça!
E o pior é que, em certo sentido, ele tem razão. Reeleger é legitimar todo o mal feito. Por isso ele não deveria ganhar um novo mandato. Mas se o povo brasileiro soubesse votar... Bem, deixa pra lá.
Brasileiro adora reeleger. Pode ser o bandido que dor, acaba reeleito. Convenhamos, raras são as exceções. Um monte de prefeitos se reelegeu já em primeiro turno e agora, no segundo, a tendência apenas se confirmou. Nas capitais, 20 candidatos disputavam a reeleição e 19 conseguiram. Para um resultado desses, o segundo turno se torna apenas uma postergação exaustiva e caríssima, para os cofres públicos, de uma tragédia já esperada. Isso, claro, abstraindo as boas e merecidas reeleições.
Parabéns aos vitoriosos. Aceito tranqüilamente que comemorem a vitória nas ruas e nos blogs que combateram acirradamente o grande estadista fabricado há poucos anos pela dobradinha PSDB-DEM (é, d. Luzeni, aceite isso também, sem protestar, pois é a verdade). Comemorar é direito inalienável dos vitoriosos. Comemorem, inclusive, o fato de não podermos dizer que quem ri por último ri melhor. Afinal, ninguém rirá no desfecho deste drama. Pode escrever.
Esta é a crônica de uma morte anunciada e não há nenhum García Marquez para transformá-la numa obra de arte. Afinal, ninguém faz um segundo mandato melhor do que o primeiro, quando já não se pode reeleger, sobretudo quando o seu partido não tem nenhum nome a oferecer para a sucessão. Esta é uma crônica meramente jornalística. E das páginas policiais.
Pode escrever.



O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.

O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.

Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.

PS - Brecht criticava as pessoas que dizem não gostar de política. Não sei se essas são piores do que as que se interessam e fazem o que fazem. O famoso dramaturgo e poeta alemão não conhecia o Brasil. Se conhecesse, saberia que aqui temos matéria prima para ressignificar a sua obra.

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Yúdice,

seu post circula entre amigos pela rede. Acabo de recebê-lo por e-mail e tive o prazer de responder: já li!!!

Abração.

Yúdice Andrade disse...

Como assim, Bia? Quem está falando de mim por aí?
Claro que fico feliz de saber que meu texto despertou interesse em alguém, além dos amigos de sempre. Só fico um pouco acanhado de pensar nas bundinhas desfilando por aí... ;)

Anônimo disse...

..rsrsrsrs...

Depois dessa eleição, querido, as bundinhas da charge são tão pueris...Aliás, dizia minha madrinha: "..eu tenho vergonha é na cara, não na bunda..."

Portanto, relaxe! Seu post veio pelo e-mail de amigos, ligados a outros amigos, tudo gente finíssima... Alguns, advogados, outros músicos, uns sociólogos... Só procê ficar ainda mais curioso...rsrsrs....

Abração