sábado, 13 de dezembro de 2008

Belém-Pará, AD.

Não sou pessimista, o mundo é que é péssimo.
José Saramago - Brasil, dezembro de 2008.
Belém e o Pará são terras de violência, de impunidade e de vácuo do poder público. Muito foi escrito escrito em jornais, blogues, teses de mestrado e doutorado, tanto já foi conversado nas bancas de jornais e nas esquinas, tanto já foi discursado e as palavras grafadas ou ditas voaram como as cinzas dos mortos em direção a alargado desconhecido, ficando no anonimato ou na intimidade dos lares enlutados apenas a solidão e a dor insanável do luto.
Este é o nosso momento. Marcado pelos prodígios tecnológicos que integram a modernidade enquanto indústria, comércio e consumo. Porém não somos modernos quando olhamos para nós e nossas soluções para as disputas na sociedade. Continuamos guerreando, roubando e nos matando como fizeram nossos ancestrais quando descobriram a função de uma pedra aguda, quando organizaram cruzadas para tomar dos árabes a Terra Santa, quando nos engalfinhamos na Segunda Guerra Mundial e em tantas outras que se sucedem até hoje. O comportamento não mudou e civilizados nos habituamos a dar graças aos céus e às leis por nos garantirem o pão nosso e a saúde contra os abusos da irracionalidade.
Mas o que fazer para impedir que uma cidade adquira expressão cruel e violenta que ameaçe o mais imediato futuro do presente, a vida de seus cidadãos? Quando o direito de ir e vir, de comprar e de vender, de ir a escola, ao trabalho, ao cinema, ao estádio e a festas se torna um não direito pelo risco de viver em uma sociedade onde seus mecanismos de controle são mais estandarte do que instumento de regulação das relações sociais naquele território...
A violência é de fato uma mercadoria da falência social. O que sofremos tem origem em nós mesmos, na tibieza moral e política de nossa organização social, na incapacidade de produzirmos cidadania e de liderarmos movimentos que frente ao desastre de autoridades levante-as do chão para mostrar o erro cometido e a rota certa, porque a queda se é de todos, maior é para os que de joelhos lamentam a perda de seus entes queridos, maior será para aqueles que chegarão depois de nós.
Na América do Sul não existe cidade mais emblemática com respeito a violência do que Medellin, na Colômbia. Quem tem mais de 20 anos conheceu pelos meios de comunicação o drama daquela população sangrada dia a dia pelo narcotráfico. Ali se produziam índices de morte violenta comparáveis a cidades expostas a conflitos bélicos. Tinha os níveis de corrupção governamental elevadíssimos em razão das relações espúrias com o crime organizado. Hoje Medellin é uma cidade com níveis de violência controlados. A receita do sucesso resultou de vontade não só política, não só da aplicação de políticas públicas integradas, mas de outra maior, a soberana vontade da sociedade para expulsar do seu cotidiano as causas sociais e políticas que a desmoralizavam perante a Colômbia e o mundo. Persigamos esse exemplo, ou da chuva das 2 da tarde chegaremos ao dilúvio.

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