sábado, 11 de julho de 2009

Histórias do Murubira 3: sobrevivendo em Julho


Flor em meu jardim no Murubira (Imagem: Carlos Barretto)

Sou um insistente. Afinal de contas, como já afirmei em post anterior, ir até Mosqueiro nesta época é um convite a aborrecimentos. Trata-se do maior aglomerado de bárbaros a céu aberto da região. Música de péssima qualidade em volume insano, pequenos assaltos e uma profusão de abusos e ilegalidades, candidamente toleradas pelas autoridades fiscalizadoras e repressoras, ostensivamente presentes (apenas nesta época), para nada fazerem contra o óbvio. Reclamar dos bárbaros é inútil. Sobre isso, já me cansei de escrever. Saibam portanto que sou um insistente.


Imagem: Carlos Barretto

E para tanta insistência é preciso buscar alguma espécie de compensação. E procurando, em meio a barbárie, você acaba encontrando alguma coisa. Em primeiro lugar, jamais vá na sexta, sábado ou domingo. Prefira permanecer de segunda a quinta. Neste período é mais provável que ao menos você se sinta estimulado a encontrar algo de valor. Como o prazer desta criança, empinando sua pipa.

Habilidoso, ele manobrava sua cangula com a seriedade de pilotos de aviões comerciais. E saía "dando cabeça" na cangula, levando-a para seus adversários com tranquilidade. Cortou e arou várias vezes, para meu absoluto espanto e vibração. Defintivamente, em Mosqueiro é a época de alegria para as crianças nativas que se divertem cortando os majestosos papagaios dos filhos dos bacanas, infinitamente inferiorizados no manuseio deste antigo brinquedo popular. Com uma simplória cangula feita artesanalmente de sacos de supermercado, eles dão um banho. Nem pense em enfrentá-los. É a certeza de uma pequena e rápida perda patrimonial.

Mas é uma delícia observar os agitados laços no céu e a correria em terra atrás dos derrotados. Rabo curto, é a certeza que a pipa vai rabear e chinar. Rabo longo, a deixa muito lenta e vulnerável aos adversários. Há uma medida exata que ainda não aprendi. Mas aquelas crianças de idade máxima de 12 anos, sabem por erro e tentativa a exata fórmula secreta do sucesso no ar.


Imagem: Carlos Barretto

E eis então que chega a noite. Armado de um arsenal de prazeres, ponho-me campo a conversar por horas noite adentro, apreciando o movimento da varanda. E como disse, quase que por encanto, a desejada compensação aparece. E em época de muitas notícias tristes, que conseguiram abalar-me quase que completamente, ainda encontrei alguma alegria, que deu-me ao menos algum alívio para os sentidos.


Imagem: Carlos Barretto

Quase que no meio da noite, percebemos um brilho azulado difuso inconfudível no céu. Nem duvidamos. Saímos da varanda e fomos ao jardim olhar para cima. Nem precisávamos tanto. bastava na verdade, olhar para o lado. Em meio às árvores, entre as casas, a lua aparecia em minguante, porém bela.

Entusiasmado, corri para adicionar um acessório indispensável para o registro deste momento. Um tripé, que após fincar firmemente no gramado, adicionar-lhe a câmera, passei a registrar uma sequência de imagens.


Imagem: Carlos Barretto

Foram quase 40 imagens, das quais apresento apenas duas. Uma, integrando minimamente a lua a seu contexto original. Outra, mostrando-lhe em boa aproximação.

Minha compensação máxima estava atingida. Nem o que viria depois, na última noite em que lá permaneci, conseguiria estragar o prazer daquele momento.

E o que veio foi barulho. Muito barulho, tecno-brega, bêbados, mijões, autoridades por demais tolerantes com flagrantes abusos entre outras mazelas. Mas estava tudo planejado. Praticamente fugimos de lá hoje. E agora, compartilho com vocês o prêmio de viagem. Como podem ver julho em Mosqueiro é punk. Mas dá para sobreviver, desde que se planeje a chegada e saída estratégicos na hora e dia certos.

Um comentário:

Carlos Barretto  disse...

Caro anônimo.

Com estes "termos", só se identificando com RG e CPF inclusive.
E de preferência, no post adequado já que o que vc escolheu para "comentar" nada tem a ver com o assunto. Se vc ler o blog, vai encontrar o post adequado para comentar sobre o assunto, e dependendo, receber nossa resposta.

Como "anônimo", desista, por favor!