quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Sobre a indumentária



Provocativos como sempre, nosso confrade Yúdice Andrade, em seu outro blog, e o advogado Frederico Guerreiro discutem com propriedade o absurdo em que podem incorrer agentes públicos quando pretendem impor sobre o direito de ir e vir das pessoas (e, no caso específico, de utilizar-se do serviço público que elas próprias remuneram) a formalidade do uso de trajes que julgam apropriados. Nas postagens, a crítica é ao Poder Judiciário.

Lembro que em tempos muito idos - eu ainda era acadêmico de Direito - havia no Fórum Cível de Belém, que então funcionava no mesmo prédio do Tribunal de Justiça, a chamada saia judiciária. Nada mais era que uma saia que era emprestada às mulheres que chegavam ao prédio sem estar adequadamente vestidas e que lhes cobria as pernas, se sua veste era curta ou apertada demais. Evidentemente, nada era mais caricato, inclusive porque havia uma magistrada, hoje aposentada, que volta e meia fazia questão de acompanhar pessoalmente o cumprimento de sua determinação - na época, ela era diretora do Fórum.

A exigência, porém, não é limitada ao Judiciário. Em outros entes da Administração Pública também se pretende cuidar da moral e dos bons costumes.

Ocorre que a criatividade popular sempre suplanta as exigências descabidas dos poderes constituídos. Não raro, como mostra a reportagem acima, a sabedoria do povo coloca as atitudes de falso moralismo onde elas realmente devem estar: o ridículo. Em lugar de censurar a roupa dos jurisdicionados e administrados, as autoridades deveriam zelar pela observância das regras de moralidade pública, no sentido constitucional do termo, que impedem o nepotismo, o tráfico de influência e outras formas reprováveis de uso de cargos e prerrogativas.

5 comentários:

Val-André Mutran  disse...

É claro que de canga e sunga não dá para frequentar um ambiente, digamos, tão vetusto.
A obrigatoriedade de certos trajes é algo tão ridículo como o sentimento que se apodera de certos personagens que defendem a moralidade e os bons costumes.
Quando estou ai em Belém, exceto quando anoitece, não tem como não usar uma bermuda, sandália de dedo e uma camiseta. O calor é imoral.
Oa trajes não o é; pelo contrário, é o mais adequado ao nosso clima.
Você coloca muito bem Francisco, qual é o anteparo instititucional que separa a moralidade e a imoralidade dos acima do bem e do mal.
Isso me basta, mas não me consola.
Penso que só consola aos egos de personagens cuja deformidade moral, ultrapassa qualquer regra social justa.

Frederico Guerreiro disse...

Caro Francisco, o Val disse com muita propriedade: "Penso que só consola aos egos de personagens cuja deformidade moral ultrapassa qualquer regra social justa."
No caso do sujeito da CTBEL, muito criativo. Porém, seria interessante se a reportagem encontrasse o (ir)responsável pela exigência, para explicar qual a conveniência e de que norma tirou isso, para impedir o acesso do administrado àquela cova que suja até a saia do cidadão. Ainda mais nesses tempos de chuva. Que falta comete um cidadão que quer entrar de bermuda naquela estrebaria, mais que o cheiro de esterco que exala o lugar? Barrado na porta daquilo deveria ser o prefeito Duciomar Costa, pois deveria ser proibido entrar em repartições públicas políticos falsários.
Desculpe-me pela sinceridade.
Abraço

Yúdice Andrade disse...

Gostei tanto da reportagem que também vou escrever algo a respeito.

Francisco Rocha Junior disse...

Frederico, apóio incondicionalmente tuas palavras.
O cara que expediu a ordem faria mais papel de otário do que fez o porteiro da CTBel. Como ele é um cara que "manda", decidiu não aparecer e o coitado do porteiro é que ficou com cara de pastel na TV.
Abraços.

Francisco Rocha Junior disse...

Val, o problema é sempre o mesmo: falta de cultura e de educação, que leva à falta de cidadania.
Abraços.