segunda-feira, 22 de março de 2010

Teerã underground


Guitarras X aiatolás. No Cinema Novo Festival aqui em Bruges, um dos filmes mais aplaudidos foi o iraniano “Ninguém sabe dos gatos persas” (No one knows about Persian Cats), do diretor Bahan Ghobadi. É uma obra de arte feita na clandestinidade, ou seja, sem a permissão do governo iraniano. Para filmar, Ghobadi e equipe se deslocavam de motocicletas, usavam câmeras de vídeo amadoras, e portavam alvarás de outras equipes de filmagem. Por causa desse filme, o diretor, que é de origem curda, vive agora no exílio em Nova York A história, baseada em fatos reais, é simples: recém-saídos da prisão, dois jovens músicos, um homem e uma mulher, decidem formar uma banda. Juntos, eles andam pelo submundo de Teerã à procura de um guitarrista e um baterista. Proibidos pelas autoridades de tocarem no Irã, eles planejam fugir de sua existência clandestina e sonham em tocar na Europa. Porém, sem dinheiro, sem passaporte e, principalmente, sem visto de saída do país, eles precisam contar com a ajuda de um produtor que conhece bem o underground musical e da falsificação de documentos em Teerã. O filme, em clima de documentário, é um passeio por instalações tão improváveis como um curral de vacas ou um telhado de zinco com o ruído abafado por cobertores - lugares usados para ensaios e shows clandestinos. Ghobadi apresenta jovens que gostam de Strokes e Joy Division, se enfiam em em labirintos três pisos abaixo do solo para abafar o som das guitarras e sonham ir à Islândia ver Sigur Ròs. A trilha sonora é uma descoberta do talento antenado dos iranianos e de como eles resistem à opressão na república islâmica. E como resistem. Segundo o diretor do filme, no Irã existem mais 300 grupos de indie-rock e pelo menos 2.000 grupos de pop. O filme segue proibido no Irã, mas sabe-se que ele circula embaixo das barbas dos aiatolás em cópias piratas autorizadas pelo próprio diretor. “Niguém sabe dos gatos persas” ganhou o Prêmio Especial do Júri da Mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes 2009 e o de Melhor Filme, segundo a crítica, da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 2009. É uma pena que a trilha sonora do filme não está disponível em CD, mas é possível ver um trailer aqui.

E, falando do Festival Cinema Novo, os latino-americanos confirmaram como estão em alta nos festivais europeus: os filmes mexicanos “Cinco dias sem Nora” e “Norteado” foram os vencedores, respectivamente dos prêmios Câmera Novo (do Juri profissional) e Amakourou (Juri Jovem).

3 comentários:

Carlos Barretto  disse...

Sensacional, Edvan! Me bateu água na boca para ver.

Abs

Yúdice Andrade disse...

Do mesmo modo que o Barretto, a descrição do filme me despertou um enorme interesse. Além do mais, não é apenas um filme: é uma luta!

Francisco Rocha Junior disse...

Também fiquei curioso de ver o filme. Espero que o diretor não seja surpreendido por algum fanático, onde quer que ele esteja. Afinal, não existem mais garantias de vida nem no exílio.