quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A epidemia do gim



Um dos aspectos frequentemente esquecidos na ingestão de bebidas alcoólicas diz respeito ao aumento da incidência de malformações, deficiências do crescimento e defeitos do sistema nervoso central em filhos de mães usuárias dessa substância.
Talvez os primeiros registros claros a esse respeito tenham sido feitos na Inglaterra, no século XVIII, quando do aumento excessivo do consumo de gim (11 milhões de galões em 1750!) decorrente da redução dos impostos sobre o mesmo.
Muitas crianças nasceram mortas e com malformações e esse marcante fenômeno foi batizado de “epidemia do gim”.
Durante todo o século XIX, apesar dessas observações e do conhecimento científico de que o álcool podia efetivamente atravessar a placenta, nada de concreto foi feito a respeito de medidas preventivas.
Apenas nas décadas de 1950 e 1960 surgiram estudos mais consistentes sobre a relação álcool/gravidez, como o de Paul Lemoine (1968) e posteriormente, em 1973, o importante trabalho de David Simith e Kenneth Jones.
Termos como “Embriopatia Alcoólica” e “Síndrome Fetal Alcoólica” começaram a ser usados comumente em trabalhos posteriores.
Mas apenas em 1988, o congresso americano aprovou o Ato de Rotulação de Bebidas Alcoólicas, que tornou obrigatória uma advertência sobre o risco de defeitos congênitos em todos os rótulos de todas as bebidas alcoólicas vendidas naquele país.
É necessário, neste ponto da postagem, esclarecer que, ao rever breve- e superficialmente a história recente, não tenho nenhuma intenção de criticar com falso moralismo o consumo de bebidas alcoólicas em geral.
Tanto que, para ilustrar a matéria, escolhi justamente uma fotografia de minha marca favorita de gim, a inglesa Tanquaray.
Apenas ficou tão clara na minha cabeça a força imensurável da indústria de bebidas, que resolvi compartilhar com todos. Séculos foram necessários para que a ciência pudesse colocar uma simples advertência em local pouco visível nas garrafas.
O fato é que a epidemia do gim não terminou, e parece que nunca terminará.
Saúde!

3 comentários:

Val-André Mutran  disse...

É o seu gin predileto, o era da Rainha Mãe (o The Sun garantia que era) e é o meu também.
Consumo-o, esporadicamente, com tônica. É o tal gin seco. Adoro!
Parece que os efeitos dessa epidemia sobre a Rainha Mãe não a tenha abalada.
Ela morreu com mais de 100 anos, tomando garrafas e mais garrafas de gin, diariamente.
Será que ela "parou" quando ficou grávida?

Scylla Lage Neto disse...

Val, a julgar pelas notícias dos tablóides ingleses sobre as 3 gerações de seus descendentes, a Queen Mother jamais largou o gim.
God save the Queen!

Val-André Mutran  disse...

Yeah!