segunda-feira, 16 de maio de 2011

Perigo total


Imagem: NASA

Quando leio ou ouço algo a respeito do mundo estar "em perigo” pelas mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global, fico pensando o quão cético eu devo ser a respeito desta e de outras tragédias que assolam o noticiário diariamente.
Em relação ao meio ambiente, questiono intimamente a calamidade que se formaria se, com o dito aquecimento global, as cidades costeiras realmente desaparecessem sob as águas do mar, desencadeando um cenário trágico de refugiados vagando pelos países e pelos continentes, tangidos por secas e inundações, fome e pestes, guerras e mortes, muitas mortes, decorrentes principalmente da escassez de recursos.
Tudo isso me parece ecoar o Velho Testamento e suas pestes negras, as chuvas de rãs e a certeza de que o fim do mundo se aproxima. E o que é pior, em roupagem high tech e multimídia, o que ainda potencializa o efeito pré-apocalíptico nas pessoas desavisadas.
O fim do mundo nos é apresentado não como uma fantasia, mas como algo com data marcada, prestes a acontecer.
O mundo velho, pouco purificado pela fé decadente, destilado pela violência e semi-destruído pelos maus tratos, naufragará num grande desastre natural por culpa nossa, dos infiéis que não zelaram pela moradia. Assim querem nos fazer pensar.
Mas quem podem ser os interessados pela disseminação desta nova besta do apocalipse, rotulada de meio ambiente?
Os comunistas mataram os kulaks e sucumbiram. Os nazistas naufragaram em suas fantasias milenares. A guerra fria e o seu terrível fantasma da “morte a todos” acabou.
Quando as contradições internas devoraram o império soviético e o capitalismo iniciou solitário o seu reinado ora em curso, por que a preocupação global não foi direcionada, por exemplo, à pobreza e à fome?
A fome global poderia ter sido o alvo dos governos mundiais, que no entanto optaram por criar um “monstro ecologicamente correto” para desovar e gerar dinheiro.
Creio que tudo passa pelo hediondo poder financeiro e sinceramente creio que ninguém que realmente possa fazer alguma coisa pelo meio ambiente tem sequer um pouquinho de preocupação a este respeito, nem tampouco fará algo real para “nos salvar” (a não ser tentar lucrar mais). Quem realmente quer salvar alguma coisa somos nós, os marionetes, os sonhadores e os artistas.
Desculpem o desabafo, mas eu andava meio engasgado com todas as bobagens que sou obrigado a ler e a ouvir sobre este assunto, quase que diariamente, e por vezes a mera menção do termo meio ambiente, principalmente com tom de preocupação, me dá náuseas.
Afinal, onde esconde-se realmente o perigo?

6 comentários:

Silvina disse...

Caramba, Scylla! Eu tenho esse mesmo questionamento a me povoar a mente. Nunca entendi como as pessoas se aterrorizam tanto com os homossexuais, por exemplo, mas acham "normal" a fome, o que eu classifico como a maior das violências, pois mata um elemento fundamental à condição de Humano: a dignidade.
Onde se esconde o perigo? Talvez na falta de educação, do stricto ao lato sensu.
Talvez!

ASF disse...

O problema é que boa parte dos esforços e recursos disponíveis através da nossa organização formal geo-política estão direcionados para assuntos relativamente insignificantes diante dos desafios que nos são impostos.

As questões verdadeiramente importantes quase sempre são relegadas ao plano das utopias, por rótulo, por aqueles detém o poder atualmente. Não é difícil de compreender o por quê. E faço distinções, sejam eles, políticos, cléricos ou endinheirados.

Verdadeiramente importantes são as questões relacionadas com a sustentabilidade e bem estar das espécies que habitam esse planeta de recursos finitos, em constante mutação e cada vez mais populoso (pelo menos no que se refere ao homo sapien sapiens).

Portanto devemos resolver as equações da sobrevivência aqui em nossa casa, o planeta Terra e para além dele. Mas ninguém da a mínima pra isso, preferimos continuar mantando e pilhando como sempre fizemos desde os tempos distantes, sob qualquer pretexto bobo, seja ele poder temporal ou mesmo um deus vezes imaginário e oportunístico.

Scylla Lage Neto disse...

Silvina, eu cresci ouvindo falar de Biafra e da Etiópia e agora, décadas depois, constato que nada mudou para melhor em muitos países.
A fome ainda reina.
Dignidade, muitas vezes, é apenas uma palavra no dicionário, e não participa de muitos governos mundo afora.
Espero que um dia, se possível em breve, os olhos do mundo se voltem de verdade aos problemas prioritários.
I have a dream...

Scylla Lage Neto disse...

ASF, concordo integralmente.
Talvez a nossa própria estrutura geopolítica, esse conglomerado de nações antigas e novas, acabem por dificultar medidas globais.
A ONU é uma piada, e de muito mau gosto.
Não há um pensamento "terreno" verdadeiro, além de todas as fronteiras. Só vejo interesses por todos os lados.
Talvez devêssemos copiar algumas obras de ficção científica com foco social, como por exemplo as de Isaac Asimov, e criar um grande e verdadeiro governo planetário.
Mas quem seria o gestor? Um ianque? Um confederado?
Só nos restar fazer a nossa parte.
E viver.

Carlos Barretto  disse...

Scylla
Realmente, concordo com vc em parte. Há de fato vários "níveis" na questão ambiental. Nada de novo, diga-se. Toda e qualquer questão polêmica, com a capacidade de impactar nosso cotidiano, ou minimamente nossas consciências, historicamente sempre gerou diversos níveis de entendimento.
Sempre foi assim, e sempre será.
Sempre haverão seres humanos para tudo. Aqueles que buscam se aproveitar do mote do momento para fazer grana, serão apenas alguns deles.
E sempre haverão também os seus radicais, quase nunca, montados em boa argumentação prática. Quase sempre, embalados na emocionalidade, ou em casos mais graves, mal intencionados, levando de roldão uma legião de seguidores, quase sempre pouco ou quase nada esclarecidos.
E o que temos que fazer, historicamente não é simples e também nunca será. Sair em busca da maior quantidade de informações possíveis, de maneira a sedimentar o entendimento que nos pareça mais adequado a nossas disposições. Ou à nossas visões de mundo. Desarticular qualquer tema de aspecto político é ingenuidade. Político é o ser humano desde que nasce. E se não o faz, peca por omissão, que é o mais grave.
Sendo assim, como já humildemente me manifestei sobre a questão de Belo Monte, por exemplo, o que simplesmente não podemos fazer, é deixar que um grupo de notáveis, engajados no capital ou contra ele, decidam por nós.
Assim sempre será. E óbvio, que está permitido confessar nosso enfado quanto a mesmisse ou mesmo ao absoluto desrespeito à nossa percepção singular, (que não ouso chamar de "inteligência", para não ser acusado de pedante ou arrogante).
Mas o que não devemos nunca nos abster de fazer, penso eu, é exatamente o que vc está fazendo.
Simplesmente, não deixar de perguntar, questionar livremente.

Abs

Scylla Lage Neto disse...

Charlie, o assunto é de tal complexidade que poderíamos até criar um blog específico para esta discussão (que tal o Ecoflanar?!).
O que me desanima é justamente a representação política que nós mesmos elegemos a cada 4 anos, nas esferas municipal, estadual e federal.
A decisão de votar contra ou a favor determinada questão me parece quase sempre engessada por compromissos outros, ocultos e algo indignos.
E concordo que manter a discussão em aberto é a maneira mais efetiva de formar opiniões, inclusive as nossas.
Um abraço.