Da feita que passares e venceres o Nazaré do Fugido,
quando os rumos se descambam por um trecho trilho d'areias amarelas,
por adonde as carroças escapam de uma face cuma que de lua,
sulcando a manhã e a tarde com a solidão do esquecimento,
e quando vires os anuns chorando nos ramos ralos o tamanho imenso de suas caudas negras
e quando sonhares de perder o mundo na beira escassa de um riacho raso de águas embarreadas,
longos tempos esquecido nas margens incertas do caminho,
e cruzares os passantes,
atirados pelos rebordos e ribanceras,
em suas quantas tarefas ou no ócio daquelas tardes e noites e manhãs,
quando ouvires longe e desprendido o sorfejo da mãe que soluça pela filha,
quando sentires erguidas no ar as pesadas copas das mangueiras debruçadas por em riba de tua cabeça,
em volta o casario de barro,
as construções sombrias refletindo a luz do sol intenso,
e dentro as faces úmidas e ancestrais e as peles tesas daquela gente
- Neste instante terás chegado à beira do poço límpido do tempo.
Walter Freytas em: Kararaô, 2011 (CEJUP)
Um comentário:
Já tinha comentado contigo por emeio, mas vale a pena insistir: LINDA!
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