segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Eric Hobsbawm: o tal...E tal!

(Texto de João Pedro Normando, estudante de História)

"A morte provoca despedidas na terra,
mas encontros no céu.
Vai conversar com o Bené, Hobsbawm!"
Bento Guajará, 2012.
           Não sei quem ou quando inventaram a palavra ‘humildade’. Só sei que começa com ‘H’ de Hobsbawm. Na verdade, perto dele, só sei que nada sei.
            ‘’Deve haver inúmeras questões quanto às quais demonstro ignorância e defendo opiniões polêmicas’’. É assim que o velho Eric inicia meu livro de cabeceira, ‘A Era dos Extremos’. Enquanto astrólogos e outros espiritualistas tentam provar para o mundo inteiro acreditar que o ano tem mais de doze meses, Hobsbawm, sem copyright ou patente, apenas ‘disse’ que o século XX começava em 1914, na eclosão da Primeira Guerra Mundial, e acabava em 1991, com o fim da União Soviética.
            É justamente esses assuntos que aparentemente não têm relevância na academia de História, que Hobsbawm tratou de inserir, desde jazz até surrealismo, no meio de bombas e explosões entre Hitler e Stalin.
            Não adianta postagens em facebook ou coisa do tipo, Eric Hobsbawm é digno de visualizações e críticas mais cultas e especializadas, como neste blog. O mesmo disse sobre isso em sua outra ‘Era’, a das Revoluções :
- ‘’ Este livro não pretende ser uma narrativa minuciosa, mas sim uma interpretação que os franceses chama de haute vulgarisation. Seu leitor ideal seria aquele construtor teórico, aquele cidadão culto e inteligente, que não tem a simples curiosidade sobre o passado, mas que deseja compreender como e por que o mundo veio a ser o que é hoje, e para onde se dirige’’
            Há quem diga que o homem que dominar a História, tem o poder de uma bomba atômica nas mãos, capaz de destruir o mundo. Há quem diga que Eric tinha essa bomba, mas tenho certeza que ele guardou em casa depois de ser ‘’observador participante’’, como diriam os antropólogos sociais, do ‘’século das ilusões perdidas’’.
          Não só por isso, mas como disse no início do texto, humildade começa com ‘H’ de Hobsbawm.

3 comentários:

Valéria Normando disse...

Não posso deixar de externar a emoção ao ler este texto e enxergar a sensibilidade deste escritor. À você Pedro o mérito das palavras bem colocadas.

Marise Rocha Morbach disse...

Legal o texto do filhote!

Abel Sidney disse...

Valeu, Pedro, a sua homenagem ao Hobsbawn!!

Li a biografia dele (Tempos interessantes: uma vida no século XX)e anotei alguns trechos, entre os quais partilho esse aí abaixo:

Os jovens, os anos sessenta

"Somente os jovens que dispunham de mobilidade podiam reconhecer e utilizar todas as possibilidades de uma sociedade que pela primeira vez lhes proporcionava dinheiro suficiente para comprar o que quisessem e tempo suficiente para fazer o que quisessem, ou que de outras formas os tornava independentes da família. Juventude era o nome do ingrediente secreto que revolucionou a sociedade de consumo e a cultura ocidental. Isso ficou dramaticamente patente na ascensão do rock'n'roll, música que depende quase que exclusivamente de fregueses adolescentes ou no início dos seus vinte anos, ou os que haviam sido convertidos a esse tipo de música naquela faixa etária.
(p. 251)

Você tem razão: ele passeou modesta e tranquilamente pelos jardins da História conversando com seus leitores e discípulos e os ajudando a pensar de modo mais amplo e profundo os fatos históricos em sua constituição, desenvolvimento e desdobramentos.

Debruçou-se sobre os mais (aparentemente) insignificantes fatos para lhes conferir a importância devida (o rock, acima citado, é um desses fatos, de natureza cultural)

Um bom mestre, sem dúvida.