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Um dos nossos comentaristas aqui no Flanar é Edyr Augusto Proença. Edyr Augusto Proença vem de uma família de radialistas, de publicitários; e de pessoas que marcaram a história do futebol paraense: na cobertura, na análise e nas narrações. Quando eu cheguei por aqui ele já tinha uma cadeira cativa no blog. Edyr Augusto Proença é escritor de literatura e de peças de teatro. Tem um estilo realista e cortante. Enfrenta o tema da violência urbana de Belém como poucos. Mas não fica só aí: é um cronista urbano; e um amante de Belém. Edyr Augusto Proença está lançando seu novo livro na quarta-feira, dia 3 de outubro, às 18hs, na Fox Vídeo da Doutor Morais. O nome do livro é Selva Concreta. Não posso falar nada sobre o livro pois ainda não li. O livro é lançamento da Editora Boitempo. Uma análise do livro foi feita por Matheus Pichonelli, na Carta Capital. É sempre uma emoção ler críticas literárias feitas sobre autores paraenses.
Fora do Eixo, longe do óbvio
Matheus Pichonelli
Numa crônica escrita na Folha de S.Paulo em julho de 2009, o bravo Xico Sá lamentava a exclusão de Belém entre as sedes da Copa do Mundo a ser realizada no Brasil dali a cinco anos. A capital paraense, escreveu o colunista, era onde se cultivava a paixão mais decente pelo futebol. O único lugar onde uma equipe como o Paysandu conseguia levar 30 mil pessoas para o estádio numa partida da terceira divisão nacional. Lá pelas tantas, completava: “Injustiça é o que não falta nesse mundão perdido, onde não se consagra, imediatamente, por exemplo, o escritor paraense Edyr Augusto, autor de ‘Moscow’, entre outras belas narrativas fora do eixo das obviedades picaretas”. Três anos depois, ainda dentro do eixo das obviedades picaretas, hoje faço coro a Xico Sá – e não só por também não ver sentido, além das obviedades políticas, na ausência de Belém entre as sedes do Mundial. É que, na semana passada, fui finalmente apresentado a Edyr Augusto (jornalista, radialista, dramaturgo e escritor paraense) quando recebi, pela Boitempo Editorial, o livro “Selva Concreta”. Pouco sabia dele até então, mas não precisei de duas páginas para colocar o autor na minha prateleira de descobertas de 2012. O livro começa com o encontro do protagonista Gilberto Carvalho (o Gil), delegado de uma seccional de Belém, com uma cantora de technomelody em uma loja de importados. Ao vê-lo, a mulher sai em disparada – e só mais tarde vamos saber que ela estava envolvida no assassinato de um produtor musical que fazia estragos na lógica do mercado artístico local. Gil começa a busca pela testemunha, e não se sabe se movido pelo dever do ofício ou pela atração latente pela moça. Porque tudo ali parece se mover numa dinâmica confusa, em parágrafos curtos, secos, e uma profusão de diálogos sem travessão a acusar a simbiose entre crime e legalidade, violência e diversão, tecnologia e atraso, pujança e miséria, indústria e meio ambiente. A bagunça parece parte da paisagem do município de quase 2 milhões de habitantes, porta de entrada para a Amazônia Legal, e deteriorada pela urbanização desenfreada, como qualquer outra cidade de qualquer estado de qualquer país. Uma urbanização que toma forma e produz os bolsões de abandono e ilegalidade (da gasolina adulterada ao latifúndio a quilômetros dali), a exploração sexual, o abuso de poder político e econômico dos playboys da cidade, o tráfico de drogas. Sobretudo desmandos – sobretudo do Estado, que investiga e manda arquivar conforme os interesses políticos, e não só locais. Temos todos um pouco com tudo isso, parece gritar o autor sem usar um ponto de exclamação sequer – como quando Scorsese dispara as músicas mais doces e calmas para as cenas mais violentas da ação. É um banho em muito do que tenho acompanhado na seara literária de uma indústria editorial capaz de pagar milhões para lançar aqui os Best Sellers estrangeiros que engordam as burras de novos mecenas, se espalham em tudo quanto é bolsa no metrô, entram como foguete nas listas dos mais vendidos e correm em sentido reto até o esquecimento. Pois há bem mais cores, por aqui, do que cinquenta tons de cinza para quem quiser se embrenhar num Brasil tão profundo quanto mais próximo, embora não geograficamente, dos morros cariocas, da periferia paulistana, das áreas de desmate. Um Brasil que não é convidado a posar nos cartões postais produzidos por resorts amazônicos.
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Um dos nossos comentaristas aqui no Flanar é Edyr Augusto Proença. Edyr Augusto Proença vem de uma família de radialistas, de publicitários; e de pessoas que marcaram a história do futebol paraense: na cobertura, na análise e nas narrações. Quando eu cheguei por aqui ele já tinha uma cadeira cativa no blog. Edyr Augusto Proença é escritor de literatura e de peças de teatro. Tem um estilo realista e cortante. Enfrenta o tema da violência urbana de Belém como poucos. Mas não fica só aí: é um cronista urbano; e um amante de Belém. Edyr Augusto Proença está lançando seu novo livro na quarta-feira, dia 3 de outubro, às 18hs, na Fox Vídeo da Doutor Morais. O nome do livro é Selva Concreta. Não posso falar nada sobre o livro pois ainda não li. O livro é lançamento da Editora Boitempo. Uma análise do livro foi feita por Matheus Pichonelli, na Carta Capital. É sempre uma emoção ler críticas literárias feitas sobre autores paraenses.
Fora do Eixo, longe do óbvio
Matheus Pichonelli
Numa crônica escrita na Folha de S.Paulo em julho de 2009, o bravo Xico Sá lamentava a exclusão de Belém entre as sedes da Copa do Mundo a ser realizada no Brasil dali a cinco anos. A capital paraense, escreveu o colunista, era onde se cultivava a paixão mais decente pelo futebol. O único lugar onde uma equipe como o Paysandu conseguia levar 30 mil pessoas para o estádio numa partida da terceira divisão nacional. Lá pelas tantas, completava: “Injustiça é o que não falta nesse mundão perdido, onde não se consagra, imediatamente, por exemplo, o escritor paraense Edyr Augusto, autor de ‘Moscow’, entre outras belas narrativas fora do eixo das obviedades picaretas”. Três anos depois, ainda dentro do eixo das obviedades picaretas, hoje faço coro a Xico Sá – e não só por também não ver sentido, além das obviedades políticas, na ausência de Belém entre as sedes do Mundial. É que, na semana passada, fui finalmente apresentado a Edyr Augusto (jornalista, radialista, dramaturgo e escritor paraense) quando recebi, pela Boitempo Editorial, o livro “Selva Concreta”. Pouco sabia dele até então, mas não precisei de duas páginas para colocar o autor na minha prateleira de descobertas de 2012. O livro começa com o encontro do protagonista Gilberto Carvalho (o Gil), delegado de uma seccional de Belém, com uma cantora de technomelody em uma loja de importados. Ao vê-lo, a mulher sai em disparada – e só mais tarde vamos saber que ela estava envolvida no assassinato de um produtor musical que fazia estragos na lógica do mercado artístico local. Gil começa a busca pela testemunha, e não se sabe se movido pelo dever do ofício ou pela atração latente pela moça. Porque tudo ali parece se mover numa dinâmica confusa, em parágrafos curtos, secos, e uma profusão de diálogos sem travessão a acusar a simbiose entre crime e legalidade, violência e diversão, tecnologia e atraso, pujança e miséria, indústria e meio ambiente. A bagunça parece parte da paisagem do município de quase 2 milhões de habitantes, porta de entrada para a Amazônia Legal, e deteriorada pela urbanização desenfreada, como qualquer outra cidade de qualquer estado de qualquer país. Uma urbanização que toma forma e produz os bolsões de abandono e ilegalidade (da gasolina adulterada ao latifúndio a quilômetros dali), a exploração sexual, o abuso de poder político e econômico dos playboys da cidade, o tráfico de drogas. Sobretudo desmandos – sobretudo do Estado, que investiga e manda arquivar conforme os interesses políticos, e não só locais. Temos todos um pouco com tudo isso, parece gritar o autor sem usar um ponto de exclamação sequer – como quando Scorsese dispara as músicas mais doces e calmas para as cenas mais violentas da ação. É um banho em muito do que tenho acompanhado na seara literária de uma indústria editorial capaz de pagar milhões para lançar aqui os Best Sellers estrangeiros que engordam as burras de novos mecenas, se espalham em tudo quanto é bolsa no metrô, entram como foguete nas listas dos mais vendidos e correm em sentido reto até o esquecimento. Pois há bem mais cores, por aqui, do que cinquenta tons de cinza para quem quiser se embrenhar num Brasil tão profundo quanto mais próximo, embora não geograficamente, dos morros cariocas, da periferia paulistana, das áreas de desmate. Um Brasil que não é convidado a posar nos cartões postais produzidos por resorts amazônicos.
Nessa selva concreta, a honestidade do policial é quase piada
pronta, embora latente. Ele se envolve, bebe com os investigados, se infiltra,
flerta com as testemunhas, se estapeia com a própria ansiedade e, ao se tornar
sujeito do objeto investigado, passa a interferir na própria ação – nem sempre
para um desfecho melhor. Não há ali Capitão Nascimento para subir o morro e
limpar o sistema por dentro; há, sim, um policial alcoólatra, tarado e desorganizado,
que transita nos dois mundos e vê mais proteção no radialista sensacionalista
da cidade, não por acaso apelidado de “Urubu”, do que no próprio chefe de
polícia ou no governador. Porque não há crime
sem simbiose, como parece claro quando o autor descreve uma investigação sobre
o tráfico de ecstasy na Estação das Docas, cartão-postal da cidade, que
abastecia o caixa dois de um partido da base do governo. É uma violência
pulsante, e é preciso se embrenhar no porão e no lixo de uma selva vendida para
turista ver para entender a lógica de uma sobrevivência particular. Com
linguagem curta e seca, quase cinematográfica, o autor dá o seu recado ao
restante do País que ignora a dinâmica da região. É como se dissesse: não é
possível entender a Amazônia sem entender sua principal metrópole. Nem os
fenômenos culturais, daqui e de lá, sem entender a efervescência notadamente
urbana, notadamente conectada com o resto do mundo, notadamente impactada pela
explosão da internet, produzida num espaço imenso que concentra 90% de sua
população. E produz fenômenos que têm no ritmo a nomenclatura do que o restante
do País prefere evitar: o brega, agora chamado detecnomelody.
O fenômeno
é conhecido Brasil afora. Mas o Brasil de Edyr Augusto é um país ainda a ser
descoberto. E, a se observar a reação de suas páginas, está longe do
conformismo que paralisa o seu entorno.
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8 comentários:
Muito obrigado, Marise
Bj
Marise, esse eu já até paguei...
Somos seus fãs Edyr; nós é que agradecemos pela escrita. Que você tenha um ótimo lançamento!
Dessa vez você foi mais rápido Roger, rsrsrs.
Fico feliz de ver alguem dizer com todas as letras que o Brasil ainda não descobriu o escritor Edyr Augusto.
Há uns três ou quatro anos venho dizendo isso para quem quiser me ouvir, no meu pequeno universo particular (inclusive aqui, no Flanar). Espero que esse reconhecimento venha logo, para além da nossa fronteira e do mundo de alguns iniciados.
Parabéns e sucesso ao Edyr pela nova obra.
Marise, estou aborrecido com o autor deste livro, o genitor do mesmo dizia que "opinião não se discute" mas na minha opinião ele fez comentário contra o grande espetaculo que foi o Terruá-Pará. Por hora o meu protesto e não comprar e ler esta ultima obra do Edyr Augusto. Rs. Rs. Rs. Rs.
Fica o protesto e o riso Pedro: prefiro o riso. E, lamento informar, eu concordo com o Edyr; precisamos de ações na cultura que permaneçam, e mudem a realidade dos produtores culturais e dos artistas.Depois, em um blog assinado pelo autor, as opiniões que ele emite são de responsabilidade dele: Você deveria ter comentado por lá. Aqui estou encerrando o assunto, rsrs. Grande abraço Pedro.
Conheci o autor via "Os éguas" uma edição autografada achada no sebo. Depois veio "Casa de Caba", achado em outro sebo. Por confusão nas datas, perdi o lançamento de "Selva Concreta", mas não perdi o livro. Como os demais ele cola na mão e não sai mais. Estou lendo agora e talvez antes de terminar este post eu tenha acabado, já que não dá para parar. Agora falta buscar "Moscow" na Estante Virtual...
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