Sábado, quando a lua chega, traz
a noite ao quintal da minha casa, que dá defronte pr'um largo rio. Vejo a luz
dos aviões reluzindo no espelho dágua aprumando Val-de-Cans. Amanhã é domingo; lembrei-me da
Síria e Ceará. De uma cruzam torpedos; a outra não tem espelho d’água...
(A noite escorreu Amazônia
adentro, no peito de "meu amigo João").
Domingo, quando o sol balbucia seus primeiros raios, traz a
bruma da manhã e um presságio: o rio entorna o vermelho. Vejo daqui do meu quintal, Prontos-Socorros abarrotados e um esgoto rutilante. É
gente nadando pelo corredor, num rio de sangue que vela a bruma. Relembrei-me
da Síria e do PAAR, bairro no Pará:
"Olha a faca!
Olha o sangue na mão
Ê, José!
Juliana no chão
Ê, José!
Outro corpo caído
Ê, José!
Seu amigo João
Ê, José!"
Olha o sangue na mão
Ê, José!
Juliana no chão
Ê, José!
Outro corpo caído
Ê, José!
Seu amigo João
Ê, José!"
2 comentários:
O sol balbucia(é vero), e o sangue inunda o corredor(é vero): estamos em pleno domingo parque: Viva Gilberto Gil!
Viva, Gil, Marise! Gil e sua girândola verbal gigante. Um foguetório de palavras que expressam um realidade atemporal. A violência de domingo é um buquê de flores despetaladas escorrendo por esse rio vermelho que deságua em Joões, Josés e Julianas.
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