Ora vejam só! A pequena chorou feito bezerro desmamado depois da apunhalada de quem, em tese, seria seu herói. As horas passaram. Ela desabafou em ombro virtual. O agora anti-herói insiste em alguns contatos, sem receber atenção daquela desolada. E chega uma mensagem muito mais que bem-vinda, ainda que quase lacônica: Oi. Como estás?
Era justo aquele guri! As ideias começaram a debater entre si na cabeça dela. E não é que o corpo meio definhado dela pulsou? Apressou-se:
- Um pouco triste, mas tocando a vida. E você?
- Ah, pare tristeza. Eu estou indo aí perto da sua casa.
- Jura? Que tal uma cerveja ou um vinho para esquentar nessa chuva inconsolável? [não podia perder a oportunidade, de jeito nenhum, a gatilheira]
- Que lindo convite! Aceito.
Latejou feito louca com aquela prontidão. Que segurança mais atraente. Era ele, e parecia estar certo do convite que ia receber. Era aquele mocinho que trabalhava na loja próximo à casa dela e quem ela sempre espiava da janela. Uma carinha de bebê, no duro correspondente à idade dele, mas que ela desconfiou ter sido enviado apropriadamente pelos céus naquele dia de tanta dor.
Ela não teve tempo de tomar banho e se aprumar, como seria justo e digno para as intenções dela, e talvez dele também. Garantiu alguns detalhes capazes de inspirar e o recebeu afetuosamente, com a gentileza que ele sempre ofereceu a ela. Mas agora tinha um vinho nas mãos e estavam a sós na casa dela. Diferencial imponente.
Conversas. Goles. Baforadas. Algumas lágrimas desgraçadamente (ou não) acabaram por escapulir dos olhos dela. Nenhum sinal de sedução... Mais uma garrafa de vinho! Dois breves lances na escada, mas eram escuros e ele a surpreendeu com um beijo voraz, interrompendo a fala dela. Alguns bons instantes se passaram, com direito a mãos quentes e carinhos. Ela preferia que não terminassem, tamanha a ansiedade. Seguiu adiante e tentou manter as ideias encadeadas, mas teve de admitir que era... difícil.
Passaram ao documentário, agora não mais sentadinhos cada um na sua cadeira, um de frente pro outro. Já estavam no sofá. Entre comentários e risos, carícias. Que pele mais macia ele tinha! O nariz, a boca e os olhos eram perfeitos! O nariz, em especial, agradava muita a ela. Um encanto. Mais de dez anos de diferença, a menos, faz diferença mesmo.
Foram capazes de ver quase até o finzinho do documentário. O fim seria demais implosivo.
Na terceira tentativa, alcançaram a cumplicidade. Um grau de experiência. Mas alguns mais de pressa. Equação que não fechou redondinha. Noves fora? Foi um bom começo. Depois dormiram.
O despertar foi gostoso, cheio de dengos, mimos compartilhados entre conversas saborosas. Humpf! Ela gostou. Humpf! Ela quer mais. Ela tem "calafrios" até agora. Humpf! Ela voltou.
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