domingo, 8 de junho de 2014

#PorBrindeNenhum



Ainda chego a me espantar com versões dos fatos, apesar de acreditar piamente que os fatos são versões. Em período de eleições, cada assunto ganha inesperadas proporções e cores inimagináveis. As do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor-PA) têm me colocado nesse lugar do espanto, porque me parecem muito distantes e distintas as coisas que vejo e as coisas que leio.

É ótimo saber o que os outros pensam a respeito dos mesmos assuntos sobre os quais me debruço. Mas adoro me debruçar sobre a fonte. Por isso estava ansiosa para ver a íntegra do debate entre as duas chapas que concorrem às eleições do sindicato e só hoje pude ter acesso. Como a entidade que representa minha categoria não disponibilizou o vídeo, a chapa de oposição optou por oferecer o registro que fez no último dia 3 de junho.

O colega Cleiton César se mostrou um bom mediador. Certamente ajudou a manter um clima menos hostil que a colega Sheila Faro tentou emplacar na ocasião. Deve ser difícil mesmo manter a tranqüilidade quando se tem uma chapa de oposição tão bem formada como a que encabeça Helena Palmquist.

Não é este o momento de se fazer avaliação de sua gestão, eu diria à Sheila. Transparência ou se faz regularmente ou é se debater no pântano. Agora é tempo de convencer, pelo menos, os jornalistas que votam sobre a proposta de gestão que se propõe a implementar. Quí! Enveredou por chamar inúmeras vezes os demais colegas de ausentes e oportunistas. Com esse tom espera união? Proximidade? A mim, afasta. E acho que a mais gente. Dos mais de mil jornalistas filiados, apenas 400 estão aptos a votar. Isso sem falar dos colegas que nem se associaram.

Mas, ah, não! Sheila Faro não é a candidata à presidente do Sinjor nas próximas eleições. É Roberta Vilanova, que estava na mesa, mas preferiu franquear a palavra para Sheila na maior parte do tempo.
Daí o debate ficou um pouco entre esclarecer a gestão da qual ambas fazem parte, a voz da situação, e a crítica sobre o que se tem que fazer, a voz da oposição. E foi um bom bocado! Ainda que uma diretoria esteja composta por uma equipe, a gente quer mesmo ouvir o cabeça de chapa na hora do debate. E Helena assumiu muito bem este lugar, apesar de também estar acompanhada.

Helena dominou facilmente o microfone. Com maestria. Delicada como ela é e firme, como tem de ser. Expôs as profundas discordâncias políticas entre as chapas e foi aplaudida seguidamente. Eu também vibro ao vê-la falar. Mas há quem pense que aplaudir um discurso seja coisa de claque, de gente que está para fazer cena, incapaz de raciocinar.

A primeira saraivada de palmas detonada no debate foi no final dos 44 minutos de verbo da mesa. “A confiança de que a gestão vai ser boa não passa pelo número de pessoas que vão se dedicar mais ou menos, que vão se licenciar, que não vão se licenciar, só, apenas. Ela passa pela consistência da discussão política que a gente conseguiu construir. A nossa chapa é um feliz encontro de quatro gerações de jornalistas de luta, que não se sentem representados pelo sindicato e que estão fazendo um intenso debate político nesses três meses. Isso me dá muita segurança de que essa gestão vai ser muito boa, porque a gente tem disposição pra luta, porque a gente tem debate interno, democrático, sem centralismo. Queremos discutir esse estatuto, porque ele centraliza e tira força da categoria. O bom da nossa chapa é isso, é que é um coletivo, funciona como coletivo. Tenho total confiança de que vamos fazer uma excelente gestão”.

Um dos temas muito polemizados nestas eleições – e do qual tratei AQUI – foi retomado com bastante lucidez por Helena, que tratou de distinguir a função do jornalista que é assessor de imprensa e a de um sindicato de trabalhadores que não pode se aliar a patrões, “por brinde nenhum nesse mundo”. Claro que não, ora pois! Mas Sheila diz que isso é “demodê, muito antiquado essa maneira de se fazer sindicalismo, achando que a gente não pode ser parceiro. Se for para garantir um brinde, obviamente a gente faz a parceria”. E ainda veio nova justificativa para o inaceitável. Roberta Vilanova argumentou que a necessidade de parcerias se dá em função da alta taxa de inadimplência. Gente... #PorBrindeNenhum

E adivinhem uma nova? Palavras-chave: baderneiros, vândalos, terroristas, tudo que não presta. Fez sentido? Vou contar: Helena foi acusada de radical. Ra-di-cal. Que horror! Vocês não ficam com... medo? Ironias à parte, pra não brincar do jogo do encontre atos falhos, Helena respondeu que tem muito orgulho de ser combativa. Eu acho maravilhoso! Na modorrência a gente não chega a lugar nenhum! “O desrespeito e a violação aos direitos humanos neste estado e neste país são graves o suficiente para exigir postura firme, que você chama de radical. Para nós é muito chocante ver pessoas que estão dentro de um sindicato que, em tese é uma instância de luta dos trabalhadores, questionando a disposição de luta das pessoas que estão aqui”.

E pra que eu não precise relatar as brilhantes considerações finais da Helena ou me descambe a palavrear sobre a chapa da situação, convido a que assistam o debate e tirem suas próprias conclusões, você também, nobre leitor.

2 comentários:

. disse...

Pois saiba que fui questionada por uma das colegas da delegação do Pará no Encontro Nacional de Jornalistas em Assessoria de Imprensa - Enjai, no ano passado no Rio, onde eu era delegada pelo DF "tu mal chegaste e já estás nessq baixaria? Tu és doida mesmo".
Ri e relevei.
A "baixaria" em questão foi a minha posição firme de questionar um encontro de entidades sindicais com mesa composta por patrocinadores, onde o contraditório nunca tinha vez.

Essa postura no debate ainda me espanta, mas pela total falta de politização das nossas colegas, que, apesar de todas as virtudes que carregam, ainda tapam os olhos para a importância do debate político e, pior, desqualificam quem se recusa a receber o brinde.

Sim, Érika. #PorBrindeNenhum

Erika Morhy disse...

Caramba! Então se nossa posição política, de não se aliar a patrões e lutar pelos trabalhadores que representamos, é definida por este grupo como demodê, que sejamos. E sou com muito orgulho também. Que corram todas para os alpes suiços.