Falar somente uma linguagem rouca,
Um português cansado e incompreensível,
Vomitar o pulmão na noite horrível
Em que se deita sangue pela boca!
Casimiro de Abreu, em:“No leito”
O dia mundial de combate à tuberculose é 24 de março. Mais que doença, uma entidade que acompanha “pari passu” a humanidade: dos faraós aos guetos, passando pela pandemia de Aids e a recente Covid19.
O bacilo da tuberculose, o renomado BK (Bacilo de Koch) não desiste. Ele vem se renovando desde quando foi encontrado na tumba de Tutankâmon. Levando em consideração a massiva presença na África, podemos aferir que é uma infecção negligenciada pela sociedade moderna.
Quando a soberba da humanidade achou que houvesse derrotado o inimigo com a moderna quimioterapia antituberculose, o bacilo reapareceu e associou-se ao vírus do macaco das selvas africanas e veio bater aqui debaixo do nosso nariz, no submundo da sociedade. Tudo por conta da promiscuidade sexual e do mercantilismo da medicina, além das aglomerações em favelas, cárceres e outras tantas.
EM verdade, a tuberculose nunca deu um tempo. Ficou de tocaia apenas observando ao seu redor a hora de dar o bote social e, por conseguinte, mutacional. Voltou com força máxima, mesmo nos maiores IDH do mundo, como ocorreu à época da AIDS e agora com a europeização da tuberculose, por conta do fluxo migratório. Atualmente, em busca da longevidade, dispomos de valiosos fármacos, grandes tecnologias, raio laser, imunobiológicos, e uma porção de coisas novas, porém, todas atreladas à adaptação do personagem BK.
O uso dos imunobiológicos, por exemplo, fez-nos viver melhor ante a doenças que não se vislumbrava controle (doenças auto-imunes e até mesmo o câncer), porém, sempre com a tuberculose à espreita. Não se deve usar tais medicamentos sem antes avaliar os pulmões, alertam os pneumologistas.
Não será nenhuma surpresa se o BK já estiver nos esperando em Marte, escondido numa das sondas. O personagem BK é mestre nos disfarces, por isso é quem ele é.
Infelizmente nossa região amazônica é um caldeirão fértil para a doença, por conta de sua particularidade geográfica, e nós todos somos obrigados a passear pelos corredores da tisiologia quase que diariamente.
O corredor a que nos referimos não é apenas os dos antigos sanatórios, mas um shopping center ou algo similar.
Vamos nos engajar; vamos à luta.
André Nunes, pneumologista
Roger Normando, cirurgião torácico