O que era, segundo o infeliz comentário do ex-governador Almir Gabriel, sensação de insegurança vem se tornando, a cada dia, a demonstração real de que Belém não é mais rota, e sim o verdadeiro ponto final do crime.
O Repórter Diário de hoje, principal coluna da folha dos Barbalho, anuncia:
Oito homens armados assaltaram, ao meio-dia de ontem, o cartório de registro de imóveis Walter Costa, na travessa Rui Barbosa. Ameaçaram funcionários e clientes, levando relógios, celulares, jóias e dinheiro das pessoas presentes.
Neste mesmo perímetro, na esquina com a Avenida Gov. José Malcher, segunda-feira passada, ocorreu um assalto praticado por dois homens, em uma motocicleta, contra um cidadão que saiu de um banco às proximidades do cruzamento. A ação da vítima precipitou a reação dos bandidos, que atiraram no rapaz. Eu, que estava no restaurante Gera, a poucos metros da esquina onde tudo ocorreu, ouvi os tiros na rua e vi as pessoas correndo em desespero. Tudo aconteceu à luz do dia, em pleno horário de almoço.
No dia seguinte, um amigo esteve em meu escritório e relatou ter presenciado o mesmo golpe da saidinha, também praticado por uma dupla em motocicleta, na porta do banco Itaú da Doca de Souza Franco. Os ladrões abordaram uma senhora, que acabava de sair da agência com 10 mil reais, em espécie. Meu amigo, paralisado, assistiu tudo de dentro de seu carro.
Os pontos onde ocorreram estes assaltos - todos à luz do dia, à mão armada e no curto espaço de 4 dias úteis - situam-se em bairros nobres da capital paraense: Nazaré e Umarizal. É onde estão os metros quadrados mais caros da construção civil paraoara e, via de regra, os lugares mais policiados da capital.
Não custa lembrar que há dois anos, os restaurantes dos mesmos bairros foram alvo de seguidos assaltos, em que três ou quatro bandidos, misturados aos clientes, anunciavam o crime em sotto voce e aliviavam os presentes de seus pertences. A polícia, até onde me lembro, não conseguiu desbaratar a quadrilha, que atuava sempre com o mesmo modus operandi.
Assim, enquanto os ladrões operam, o cidadão comum passa a ser tomado de uma síndrome de pânico, ainda que não diagnosticada, crescentemente pressentida.
Recordo-me que há quase 15 anos, fui vítima de três bandidos que, com armas de grosso calibre nas mãos, tiraram-me de dentro do carro e levaram-no para (depois vim a saber) praticar outros crimes em outros locais. Usaram o veículo como meio de fuga. Como acionei rapidamente a Polícia Civil e tinha certo conhecimento dentro da corporação, meu carro foi rapidamente recuperado: na mesma noite em que me roubaram, os bandidos, ao passar pela Estrada Nova, em fuga após ter cometido um roubo em determinado posto de gasolina, foram interceptados por uma viatura da Polícia Militar. Já avisados, os policiais partiram em perseguição ao bando e, se não conseguiram prender os marginais, ao menos recuperaram o butim e meu automóvel.
Quando fui receber de volta o carro, encostou um dos militares e me pediu algum. Segundo me disse (o que não sei se era verdade ou somente meia-mentira), ele e seus colegas de farda teriam que pagar pelas balas que haviam disparado contra os meliantes.
O que sei de verdade é que passei longo tempo, meses talvez, em alerta absoluto e ininterrupto. A sensação, que decorria de algo muito real, porque vivido, era de que a qualquer momento eu seria novamente vítima do terror que é ter uma arma apontada para si.
2 comentários:
1. Uma senhora que trabalha no cartório contou a uma amiga minha que os assaltantes eram muito agressivos. Bateram nos funcionários, sem qualquer motivo além da intimidação, e chamavam as mulheres de "puta". Eram daqueles que gostam de causar o máximo de terror.
2. Os assaltos a bares e restaurantes, a que te referiste, aconteceu há menos de dois anos. Criei meu blog em 31 de agosto de 2006 e algum tempo depois comentei o fato.
3. Evidentemente, eles não têm que pagar pelas balas. Se isso fosse verdade, a cobrança seria feita oficialmente e não à boca pequena. A boa e velha safadeza. Já pagamos impostos para ter serviços públicos. Imagine se ainda tivéssemos que pagar na hora os custos do serviço. Essa gente é sórdida!
Abraços.
Caro Yúdice,
Realmente, os assaltos aos restaurantes ocorreram há menos de dois anos. Lembro dos posts a respeito que colocaste no teu blog.
Quanto às balas, é ilegal a PM cobrar por elas, o que, como bem dizes, demonstra a boa e velha safadeza de certos servidores públicos. Mas não duvido que, diante da realidade da corporação, os policiais sejam pressionados a "poupar" sua munição, por falta de verba suficiente para comprá-las na medida do necessário.
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