Venda de dólar tenta ajudar empresa que especulou com moeda
Após cinco anos, o Banco Central decidiu nesta quarta-feira realizar leilão de venda de dólares no mercado à vista, desfazendo-se de parte das reservas internacionais que possuía, para evitar que mais empresas brasileiras registrem novos prejuízos no mercado de derivativos, segundo o professor de finanças do Ibmec São Paulo Ricardo Almeida.
"O BC não quer novos casos como o da Sadia. Ele quer dar chance para as empresas brasileiras reverterem as operações que fizeram com dólar no mercado futuro e cessarem a especulação", afirma Almeida.
"A própria queda do dólar após o leilão mostrou que o BC agiu porque sabia que havia empresas que precisavam zerar as posições que tinham vendidas em dólar", afirma o analista de câmbio da corretora Liquidez Mario Paiva.
Entre os principais fatores que desencadearam a disparada do dólar em relação ao real nos últimos dias, está a atuação de algumas empresas brasileiras no mercado cambial, como aconteceu com a Sadia, que vendeu contratos futuros de câmbio, apostando que o dólar fosse cair ainda mais, já que em 24 de julho, por exemplo, o dólar caiu a R$ 1,579 e fechou no menor valor desde 19 de janeiro de 1999, dias após o Brasil adotar o regime de cambio flutuante.
Mas, com a disparada surpreendente da moeda, começaram a se desfazer desses contratos para evitar um prejuízo ainda maior e, para isso, passaram a comprar muitos dólares para finalizar esses compromissos.
O intuito dessas empresas era, no vencimento desses contratos, que geralmente tinham prazo de um ano, comprar dólares a preços bem acessíveis para revendê-los a preços bem mais elevados para os compradores de seus contratos.
Isso seria uma forma de a empresa lucrar com outros negócios além do seu principal, no caso, alimentos.
Essa disparada iminente do dólar ocorreu porque, com a crise nos EUA, muitos investidores retiraram o dinheiro que possuíam em países como o Brasil para cobrir prejuízos no exterior.
Na sessão desta quarta-feira ,o dólar comercial fechou em baixa de 0,74%, negociado a R$ 2,294, fato que leva os analistas a acreditarem que a manutenção da moeda em patamares elevados não deve prevalecer.
"Não vejo a sustentação do dólar em níveis muito altos, mesmo porque o leilão desta manhã surtiu efeito, e a moeda saiu do limite de alta em que estava, de R$ 2,46", afirma Paiva.
Queimando reservas
No curto prazo, esse movimento para equilibrar a cotação da moeda com a venda de dólares provenientes das reservas internacionais não deve trazer impacto à economia brasileira, porque, segundo analistas, o Banco Central tem condições de recomprar esses dólares no futuro.
"Num primeiro momento isso não é perigoso, porque esses dólares vieram das exportações e estão servindo para fomentar os exportadores agora, que precisam da moeda para pagar contratos que fizeram, por exemplo, para elevar a produção e os investimentos e exportarem mais. E também, o BC tem como reaver essas divisas lá na frente", afirma o professor de administração da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado) Edmauro Oliveira.
Mas, no futuro, se essa situação persistir muito, o colchão de reservas que o Brasil garantiu pode passar a ser usado como instrumento de crédito, baixando rapidamente as reservas.
"Se no longo prazo começar a faltar muito crédito para as empresas exportadoras, daí é bem provável que o Brasil tenha de usar as reservas internacionais para financiar os exportadores", afirma.
Notícias pertinentes aqui e aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário