Em troca de e-mail há pouco com nosso companheiro Itajaí de Albuquerque, somos da opinião que a complexidade do conflito na Faixa de Gaza é tanto mais profunda quanto nossas impressões podem facilmente, com uma visão mais apurada nessa disputa desigual, pender. Para um lado ou outro dessa moeda.
O texto abaixo, publicado na Isto É da semana passada, coloca luz sobre algumas da diferenças que árabes e judeus acusam-se mutuamente, que no final das contas, melhor seria, com todo respeito ao sofrimento dos respectivos povos: "o sujo falando do mal lavado".
Acredito, no entanto, que a forte demonstração no discurso de posse do novo presidente americano Barack Husseim Obama, de apelo para uma diplomacia que sugere o que a própria definição de diplomacia nos ensina: ouvir mais, negociar até a última instância, prioridade para que se evite o conflito armado; o mundo terá uma chance à paz, como tão bem descreve poeticamente Jonh Lennon, na belíssima "Imagine".
Da Haganá ao Hamas
Haganá. Para a maioria das pessoas, é só uma empresa de segurança privada. A palavra, porém, tem origem hebraica e significa "defesa". Era esse o nome de uma organização paramilitar judaica que combatia a ocupação britânica na Palestina, que durou de 1920 a 1948. Dela, nasceu a Irgun, a "organização", que pregava a luta armada como única alternativa para a criação do Estado de Israel. No seu ataque mais ousado, em abril de 1946, a Irgun explodiu o hotel Rei Davi, em Jerusalém, matando 91 civis - a maioria, ingleses, mas havia também árabes e até judeus. O líder desse grupo rotulado universalmente como "terrorista" era Menachem Begin, que se tornou o sexto primeiro-ministro de Israel. Como ele, vários dirigentes do Estado judaico tiveram vínculos estreitos com organizações sionistas de extrema direita, que participaram de atos de terror. Da Irgun, também fizeram parte os pais da atual chanceler de Israel, Tzipi Livni, que é a face visível e uma das vozes de comando no massacre contra palestinos na Faixa de Gaza.
Hamas. A sigla dá nome ao Movimento de Resistência Islâmica e ao partido que, após uma vitória eleitoral, passou a governar a Autoridade Palestina. Tal qual o Irgun, o Hamas é definido como "organização terrorista", mas o objetivo de seus líderes é parecido com o dos combatentes judeus que, seis décadas atrás, lutavam contra a opressão britânica. Trata-se da criação de um Estado independente, que tenha Jerusalém como capital espiritual. A diferença é que, desta vez, o "opressor" é Israel e, do lado palestino, as táticas de guerrilha são bem mais rudimentares. Sem poderio militar, o Hamas dispara foguetes caseiros e fornece algum apoio financeiro às famílias dos homens-bomba. E foi para esmagar esse terrorismo que Israel ocupou militarmente a Faixa de Gaza na semana passada, matando centenas de civis até agora.
Em 1948, para que surgisse Israel, dois fatores foram decisivos: a vergonhosa memória do Holocausto e a combatividade do povo judaico. Assustados com o "terror" de organizações como o Irgun, os ingleses bateram em retirada de Jerusalém e 700 mil árabes perderam suas casas, tornando-se refugiados. Desta vez, os palestinos, com suas armas primitivas, não conseguirão se impor pela força. Mas a derrota também os fortalece. A cada criança morta pelas forças judaicas, menor é a simpatia pela política externa de Israel e maiores serão as pressões pela criação de um Estado da Palestina, promessa adiada desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Cumpri-la é um dos maiores imperativos morais do século XXI.
Por Leonardo Attuch (Revista Isto É)
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No mundo diplomático, é perfeitamente aceitável o termo pressão. O que é inaceitável é a opressão.
“O terrorismo é, simplesmente, a denominação contemporânea e a configuração moderna da guerra deliberadamente travada contra civis, com o propósito de demolir a disposição de apoiar líderes ou políticas que os agentes dessa violência consideram inaceitáveis”
Caleb Carr, historiador militar americano
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