quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Julgamento que vai marcar o mundo digital


Imagem: The Pirate Bay.

O mundo da tecnologia e certamente da indústria do entretenimento, acompanha com interesse um julgamento que está acontecendo em Estocolmo na Suécia, desde o dia 16 de fevereiro. Trata-se do julgamento do sítio The Pirate Bay.
Os responsáveis pelo sítio de compartilhamento de arquivos estão sendo acusados por representantes da indústria da música, do cinema e de companhias de jogos, de “assistir e suportar a prática de quebra de direitos” autorais.

O The Pirate Bay (TPB) é um sítio que mostra onde estão os chamados arquivos "torrent", que seriam pequenos pedaços de arquivos digitais espalhados pela rede, abrigados em computadores de usuários comuns, como você e eu. Eles alegam em sua defesa, que nada fazem além de atuar como uma espécie de "ferramenta de busca", como o Google, por exemplo. De fato, o The Pirate Bay não guarda nenhuma espécie de arquivo digital em seus servidores, como fizeram no passado o Napster, o Kazaa, entre outros, que já encerraram ou modificaram suas atividades na tentativa de se adaptar à legalidade, igualmente forçados por ações judiciais.
A indústria alega o de sempre: prejuízos incontáveis, com o declínio na venda dos CDs. Os prejuízos, diga-se, são um fato incontestável.

A polêmica sobre este explosivo assunto parece interminável. Existem vários aspectos a serem levados em consideração antes de emitir qualquer opinião. E neste caso, com as discussões em curso seja nos tribunais, seja no cyberespaço, seja nas esquinas das cidades, a cada dia surge um fato novo, um argumento forte, uma nova visão. Para ambas as partes.

A indústria do entretenimento, há anos parece surpreendida com o advento dos arquivos digitais, com o aumento superlativo na banda de internet bem como no volume de usuários que dela usufruem, nada faz para mudar seus paradigmas de comercialização de entretenimento. Além de algumas iniciativas pontuais, continuam a "prensar" e "prensar" mídias, como o faziam há mais de 20 anos com os vinis, cobrando caro de músicos e autores, auferindo seus lucros e passando a conta toda para o consumidor.

Já os "nerds" espalhados mundo afora, parecem desconhecer toda a cadeia produtiva envolvida na execução de um singelo sucesso de áudio, software ou vídeo, disponibilizando gratuitamente, fruto de trabalho de alguns. Já o fizeram de maneira bem mais escancarada no passado, como foi o antológico caso do Napster e Kazaa, que armazenavam este arquivos em servidores próprios, facilitando assim a contra-reação da indústria que rapidamente os pôs na ilegalidade.

Tal não é o caso da tecnologia "torrent". É fato que o The Pirate Bay (TPB), bem como muitos outros que utilizam a tecnologia, não põem suas mãos "na sujeira". Mas, segundo alega a indústria, estimulam-na e viabilizam-na "dizendo onde ela está. O TPB se defende dizendo que a tecnologia torrent não foi criada especificamente para este propósito, mas também para o compartilhamento de arquivos perfeitamente legais como documentos de utilidade pública, entre outras possibilidades, em regime de cooperação. Não poderiam, segundo ainda afirmam, ser inteiramente responsabilizados pela utilização que usuários espalhados pelo mundo fazem da tecnologia. Seria como culpar o construtor de estradas pelo desatino de alguns motoristas.
Há obviamente fortes e poderosos interesses em questão. E de seu resultado, poderão sair algumas mudanças importantes em alguns paradigmas do mundo digital.

Quem desejar acompanhar o julgamento, que hoje completa seu oitavo dia, pode ir no Spectrial, sítio exclusivamente criado pelo TPB para acompanhar o julgamento. Existe também sua versão em português. Pode-se também saber o que já aconteceu no primeiro, terceiro, quarto, quinto, sétimo e oitavo dias do julgamento, ainda em curso.
O assunto, é nitroglicerina pura.

3 comentários:

Anônimo disse...

Carlos, eu compro CD e DVD originais. Gosto da capa, das fotos, das letras, das cores, e dos agredecimentos que acompanham o produto.

Não raro, baixo, escuto e vou à loja, virtual ou não, comprar o CD/DVD.

Mas, penso que qualquer discussão deve passar pelo preço. Sempre vem a explicação padrão da indústria: pagamos impostos, empregamos milhares, gastamos com a distribuição, marketing etc etc etc...

Ok, ok...

Mas, qual é a explicação plausível para isso:

Como um DVD do Stevie Ray Vaughan, que comprei 2 meses atrás por 60 e pouco, semana passada, comprei, no mesmo lugar, por 19????

Será que os caras da indústria não estão mais distribuindo, pagando salário, etc etc???

Carlos Barretto  disse...

Raramente, faço como vc, Lafa. Compro alguns CDs inteiros de alguns músicos pontuais, que me interesso pelo conjunto da obra. Mas não me furto a adquiri-los quando de fato me interessam. Outros, gosto de uma música e não do CD inteiro. E aí, temos pouquíssimas alternativas de aquisição de apenas um "hit". Somos quase que forçados a adquirir todo o CD. Nos EUA, tal situação já se resolveu com o advento do iTunes e outras lojas online de música.
Já por aqui, por enquanto temos muito poucas e tímidas iniciativas.
E concordo com suas suspeitas, quanto ao comportamento da indústria.
Há ainda um complicador: o DRM que diz que aquilo que vc comprou, de fato não é seu. Ou seja, vc paga e ainda tem que se limitar a usufruir do arquivo apenas em um equipamento.
Algo assim meio absurdo. Penso que ainda está para chegar a solução mais equilibrada para a questão.
Vejamos então como anda a carruagem.


Abs

Anônimo disse...

A iTunes Store, assim como várias outrs lojas on-line, já vendem suas obras sem o famigerado DRM.

Minha contribuição a discussão: http://tinyurl.com/av65jr

Infelizmente o Brasil ainda se encontra à margem dessa evolução natural.

Felizmente existem algumas alternativas interessantes como as rádios on-line dentro do cliente iTunes (para Windows e Mac) e de outros player (para qualquer plataforma). Existem também serviços interessantes como o last.fm, onde é possível ouvir música, criar suas própria estação de rádio, receber dicas baseadas em sua predileção musical e etc.

Infelizmente, como eu já disse, no Brasil ainda estamos muito atrasados quanto a soluções para nossa produção cultural/selos locais. E por aqui ainda impera o terror do DRM.