segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A propósito de J. D. Salinger

A postagem póstuma sobre o escritor J. D. Salinger que fiz no dia de sua morte mereceu a manifestação de alguns dos coeditores do Flanar.

Além deles, recebi um email do advogado e blogueiro CJK, craque em ambas as atividades, justificando a grandiosidade de Salinger. Pela autoridade intelectual do comentarista e por ser o testemunho de alguém cuja geração foi influenciada diretamente pelo autor americano, reproduzo integralmente a missiva.

Só não levem a sério a parte que fala do Botafogo. Afinal, ninguém é perfeito, e CJK é um emérito rossonero à carioca...

Boa noite Dr. Francisco:

Li sua postagem sobre o autor americano em referência e quase meti a minha colher na sopa lá no blog. Mas o comentário ficou um pouco longo, então prefiro mandar como e-mail.

Dr. Francisco, concordo com você e acho que para a sua geração a linguagem e o estilo de Salinger no “Catcher” realmente podem não ter tido muita importância.

Mas sabe porque? Posso não acertar completamente na razão, mas desconfio de que um dos motivos é que a sua geração cresceu e se desenvolveu intelectualmente numa atmosfera cultural que já havia recebido todos os influxos e “amortecido” o impacto provocado pela visão de um rapaz de 17 anos sobre o mundo que o cercava. Mensagem transmitida de forma sincera e aberta em 1951 como nunca antes havia acontecido na literatura americana, mas que já fazia parte do dia-a-dia décadas depois.

Dezenas de escritores, músicos, cineastas e outros criadores culturais se beneficiaram da porteira aberta pelo pioneiro autor na década de 50. Realmente, em 2010 meus filhos, membros da geração iPad, talvez leiam a "saga" do jovem personagem Holden e até o achem um "bobão", não vejam nele nada de original.

Puro engano, vou tentar mostrar para eles o contrário, embora não saiba se conseguirei me explicar.

É que em 1951, um autor de 31/32 anos ao dar voz a um moleque de 17 como fonte inspiradora para um livro, serviu como poderosa ferramenta, um catalisador para dar voz a várias gerações que se seguiram. Lembre-se, os beatniks estavam começando a aparecer e ainda faltava uma década para os Beatles surgirem. Holden Caulfield fez parte desta massa crítica, sem dúvida.

E o livro é muito bem escrito, o Salinger era louco de pedra, mas era um craque na sua arte. Colocou num livro a fala coloquial de um jovem americano médio de 1940/50 de uma forma tão natural e correta, que até hoje incomoda setores conservadores da sociedade americana. Sabia que o "Catcher" ainda é um dos livros mais censurados em bibliotecas de escolas, em algumas regiões, lá no poderoso Irmão do Norte? Tudo por conta de uns "goddamn's" e "fuck's", semeados pelo texto!

Só agora terminando a mensagem veio a mente a palavra que define este livro: seminal. Gostemos ou não, continuemos ou não apaixonados por este primeiro amor literário (e eu o li aos 13 anos pela primeira vez), é uma obra que abriu caminho para criação de outras.

Grande abraço, boa noite, desculpe a intromissão. E realmente, mudando de assunto, concordo com você, tem coisas que só acontecem com o Botafogo...

4 comentários:

Itajaí disse...

Email perfeito de CJK: obrigatorio como comentario

Francisco Rocha Junior disse...

Por isso ele está aí, na ribalta.
Abraços.

Raul Reis  disse...

Raul gosta deste comentário.

Scylla Lage Neto disse...

É, Francisco, agora entendo porque o autor não me impressionou no final da década de 70 e muito menos 10 anos depois.
E concordo.
Abs.