quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

"Retalhando" o estado do Pará


Transcrevo abaixo coluna da Profa. Amarilis Tupiassu, publicada em O Liberal, sobre a possível divisão do estado do Pará. Obrigado ao amigo Júnior Braga por mandá-la por email...

por Amarílis Tupiassu

"Indigna já só a ideia de reduzir o Pará a Belém e Zona do Salgado. Coisa de político-forasteiro mal-agradecido. O cara chega à casa alheia, que o acolhe com hospitalidade, e se revela um aproveitador. Entra, fuça a geladeira, abanca-se no melhor sofá, escancara as portas dos quartos, e a gente sabe: é um folgado. Chora, estremece por seu estado de nascença, enquanto explora e desdiz do Pará, de que só pensa em chupar tudo, até o Estado inteiro, se deixarmos.

O retalhador do estado (dos outros) chega e se espalha feito água. Abanca-se, invade a cozinha, destampa, tem o desplante de meter o dedo na panela, antes do dono da casa, lambuza as mãos, lambe os dedos. Como nós, os paraenses somos cordiais, ele confunde cordialidade com liberalidade. Vem, vai ficando, mergulha de unhas e garras afiadas em terras e política. Espalhado, o aproveitador, pronto, enriqueceu, encheu a pança. Fez-se fazendeiro, político de muito papo (balofo), o cara de pau. Alguns não dispensam trabalho escravo e agora dão de posar de redentores da miséria do Pará, como se só no Pará houvesse miséria. E cadê? Ih, já nas altas cúpulas, armando discórdia, querendo porque querendo dividir o estado do Pará, ‘disque’ porque é estado imenso e pobre, como se os miniestados brasileiros fossem paradisíacos reinos de felicidade, nenhum faminto sem teto, nenhum drogado, saúde e escola nos trinques, nada de tráfico e exploração de menores. Balela de retalhador!

O retalhador (do estado alheio) tem no cérebro sinal de divisão. Só quer dividir, não seu estado, onde o espertalhão não conseguiu levantar a crista. No Pará, não se contenta em ser fazendeirão, explorador de miseráveis. “Quero um estado pra mim, Assembléia Legislativa, rumas de assessores, Tribunal de Contas com obsceno auxílio-moradia, mesmo que eu tenha casa própria”.

E o retalhador já quer governar o estado (dos outros), quer reino e magnífica corte própria, algo comum nestas terras brasílicas dominadas por quadrilhas de políticos cara de pau, porque os dignos, vergonha na cara, os que lutam a valer por um Brasil de união, ordem e progresso, estes raros políticos dão uma de éticos e não põem a boca no trombone.

Não, o Pará não é casa de engorda e enriquecimento de esquartejador da terra dos outros. Mas o pior é que eles se juntam até a certos políticos paraenses, que, em vez de dizer não decisivo e absoluto à divisão, ficam em cima do muro. É que os muristas, paraenses também não são flor que se cheire. Incrível que políticos paraenses admitam o roubo oficial das ricas terras do Pará. Pendurados no muro, os muristas paraenses só pensam na engorda de seus vastos currais e não em defesa e união.

Sim, quem quer esfacelar o Pará? Deputados de longe que lambem os beiços por se apoderar do Marajó, do Tapajós, de Carajás. Risíveis os argumentos separatistas: “A imensidão do Pará impede seu progresso”. Nada! Papo de político! É vasta a miséria dos estados pequenos e do Brasil mal governado. Dividir vem da omissão de políticos do Pará, eles em ânsias por suas lasquinhas. Separatista daqui e de fora quer é feudo, castelo, mais poder. O mapa do Pará lembra um buldogue. Ele precisa de brio, amor-próprio, rosnar, se quiserem reduzi-lo em retalho. O Pará quer paz e união. Vamos calar os esquartejadores que boiam, do fracasso em seus estados, ao sonho de esfacelar o Pará. Vamos dizer não a mais essa mutreta de político espertalhão."

Transcrito do Caderno Mulher de 'O liberal' - 13/12/09

19 comentários:

Val-André Mutran  disse...

Quem vai chorar é a professora. A divisão é apenas uma questão de tempo.

Anônimo disse...

Alguém sabe me dizer quem é Amarilis? É professora de que? Com todo esse preconceito?

administrador disse...

Tapajós Já. E não adianta espernear. Nossa hora vai chegar.

Yúdice Andrade disse...

Que sou contra a divisão, já o sabemos. Independentemente disso, penso que o protesto deixou de considerar que os movimentos separatistas contam com enorme adesão das população locais, comprometendo o principal argumento do texto: de que o divisionismo é coisa de forasteiros mal intencionados.
Pessoalmente, acredito que as populações locais acabam manipuladas, pois é fácil conquistar alguém com promessas de uma vida melhor, quando tal pessoa se encontra tão carente e não vislumbra melhora.
Por fim, há também os carreiristas locais. Ou seja, o texto deixa vários pontos importantes em aberto.

Itajaí disse...

Sou contra a divisão também, mas discordo em parte do teu argumento, Yúdice. Vejo que o movimento separatista não é coisa de forasteiros - nada disso!-, ainda que não conte com "enorme"adesão das populações locais.
Ocorre que, se aprovada proposta da tal divisão proposta, aconselho aos que governarem o naco que será o Pará a unirem-no com o Amapá, reconstituindo um antigo território com potencial turístico, hidro-mineral, pesqueiro, e ambiental... com portos e fronteiras oceânicas que o comunicam com o Caribe e a América Central. Um estado com futuro na nova ordem mundial!
Só tem um problema: além de ficarmos com o Duciomar, levaremos de troco o Sarney!!!, comprovando que a vida não dá moleza a ninguém.

Val-André Mutran  disse...

Sorry Raul. Moderei dois comentários por pura distração.

Clóvis Anuad disse...

A divisão é puro oportunismo, mescla interesses escusos com palavras de ordem falseadas.

Val-André Mutran  disse...

Comentário postado no Buzz, por mim, agora a pouco:

Na blogosfera achamos de tudo. Eis que hoje, no meu outro blog, o Flanar, uma professora da Universidade Federal do Pará, prestou-se para atacar de maneira deselegante, virulenta e irreponsável, os parlamentares que ecoam a voz de uma população importante no Estado em que ela reside.
Refiro-me ao Estado do Pará.
Neste estado, gigantesco, há dois projetos de proposição para a criação de mais dois Estado, a partir de sua divisão territorial tramitando em caráter terminativo no Congresso Nacional.
Trata-se dos Estados do Carajás e do Tapajós.
A professora universitária de uma instituição federal, esqueceu-se, como num passe de mágica, que os recursos que a sustentam são pagos pelo povo do Estado em que mora.
Parte desses recursos, algo como a metade do pib estadual, são verbas recolhidas pela atividade econômica das regiões em que o povo que ali mora, roga pela oportunidade de sua independência política administrativa. O povo que sustenta sua arrogância e falta de educação.
A professora em questão, é tão desmemoriada que, de repente, esqueceu-se que um dos maiores defensores para a manutenção dos recursos de seu status quo, ou seja, das verbas repassadas através de emendas do Orçamento Geral da União, é justamente defendido a ferro e fogo por um dos parlamentares que ela sequer teve a coragem de citar o nome.
Uma vergonha.

Prof. Alan disse...

Eu sou contra a divisão, mas nunca rezei tanto para que aconteça. Paradoxal? Nem tanto...

Acho que só sentindo na pele a burrada que estão defendendo é que as populações desses neo-estados saberão que defenderam a vida inteira um erro.

É a melhor maneira de aprender como dói uma lambada: tomando uma...

Vão pegar um PIB que mal dá pro Pará e retalhar em três. Sendo que a maior concentração populacional (e por conseguinte de produção e arrecadação) está em Belém-Ananindeua, onde continuará no velho e diminuído Pará.

E ainda vão ter que pegar esse PIB retalhado e pagar um novo governador (e seus muitos assessores), secretários de estado (e seus muitos assessores), deputados estaduais (e seus muitos assessores), Assembléia Legislativa (e seus muitos cargos comissionados), Poder Judiciário (e dezenas de juízes, desembargadores e muitos assessores), Tribunal de Contas (e seus muitos assessores), instalar órgãos públicos (escolas, saúde, polícias, companhia de água, órgãos de infraestrutura, todos com seus cargos comissionados...) carreiras de servidores... Estruturar um estado, enfim.

Antes de tomar a decisão recomendo a leitura de Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano (editora Bertrand Brasil), capítulo eles são ricos, nós somos pobres.

Se ainda assim acharem que é um grande negócio, que ainda sairão dessa bamburrando e que vão virar a Suécia só por se separar do Pará, então vão em frente! E sejam felizes!

Yúdice Andrade disse...

Caro Itajaí, quem atribuiu o separatismo a forasteiros foi a autora do texto aqui reproduzido, não eu. Ao contrário, fui eu quem mencionou que o texto não alude ao fato de as populações daquelas regiões serem favoráveis à divisão.
Entendo que a proposta de unir o Pará ao Amapá foi apenas uma brincadeira, mas apenas para constar declaro meu total desconhecimento de que, algum dia, em algum lugar, tenha havido uma fusão territorial. Quem conhece a autonomia, ainda que uma autonomia ruim, dela não abdica.

Itajaí disse...

Então entendi errado. Quanto à fusão nem de todo é uma brincadeira, pois faz referência ao fato de que há menos de 100 anos o Amapá integrava o Pará, quando foi então criado o Território Federal do Amapá. Aproveito também para lembrá-lo do "reajuntamento" da Guanabara com o Rio de Janeiro.
Muito gostaria que nessa questão separatista fosse trazido a tona, um estudo realizado salvo engano pelo Ipea. O Juvêncio Arruda o tinha e fez referências que a pesquisa trazia evidências de que a criação de novos estados não seria exatamente uma solução, pois parte do problema dos Estados da Região Norte são questões relacionadas com o desigualdades geradas pelo atual pacto federativo brasileiro, e com a falta de um modelo de desenvolvimento para a região amazônica. O que se tem, se bem lembro de uma conversa que tive com ele, é um projeto de separação e só. Não se apreciam riscos, não há clareza quanto ao "como" depois levar adiante essa grave decisão.
Estas breves considerações, contudo, decerto simplistas, não invalidam as pretensões daqueles que pretendem mais recursos e desenvolvimento para o sul e o oeste do Pará. Sem dúvida eles sabem o calo no sapato aperta, como um dia soube minha avó quando migrou de Monte Alegre para Belém, preocupada com a absoluta falta de perspectiva para a filha. Estávamos nos idos anos 20 e, não fosse por essa sábia decisão, tenha certeza que eu não estivesse aqui escrevendo essas linhas.
Minha questão com os separatistas é de ordem ideológica. Simplesmente não acredito no princípio ativo do remédio que pretendem aplicar.

Val-André Mutran  disse...

Itajaí. O estudo ao qual você se refere do Ipea foi passado por mim ao Juvêncio.
As conclusões que citaste foram interpretações do próprio Juvêncio, visto que o estudo não é conclusivo.
No momento adequado todos saberão as razões e argumentos para a criação dos novos estados. Não vou atropelar os acontecimentos.

Itajaí disse...

Sinceramente, Val-André, não vejo razão para mistérios. Este é um assunto de interesse público, que diz respeito aos cidadãos paraenses, todos interessados em saber o que farão como o nosso território. Transparência é obrigatória. Melhor dizendo: mandatória.
Infelizmente, não me parece que sejam apenas os separatistas que fazem mistério. Muito esquisito a absoluta ausência institucional do governo do estado sobre a questão. Igual silêncio, senão maior. Nenhuma estratégia visível, inclusive de propaganda que assinale pelo menos interesse no debate.
É bom lembrar a todos que nenhum partido, nenhum governo está acima da sociedade. E a sociedade quer saber o que as "augustas autoridades" estão pensando em fazer com a vida de seus cidadãos.

Edyr Augusto disse...

Também sou contra a divisão, mas não posso deixar de dar razão a essa vontade, que resulta, exatamente, da incompetência com que os assuntos do Pará vêm sendo geridos há longos anos, principalmente o que se refere ao que chamamos de "interior". Somos o Estado potencialmente mais rico do Brasil e no entanto, econômicamente e outros "mentes" um dos piores. O que acho é que todos, somos vítimas, ou, talvez, se somos culpados por termos votado nessas pessoas, somos, todos culpados. Mas divididos, creio que ficaremos ainda piores.
Edyr

Yúdice Andrade disse...

É verdade, Itajaí. Há o precedente da Guanabara. Foi mal. Deve ter sido uma experiência artificial e mal sucedida desde o nascedouro, já que durou apenas 15 anos (de 1960 a 1975). Mas não ouvimos dizer, p. ex., que o Acre cogite da possibilidade de se fundir com o Amazonas.
Quanto ao estudo do IPEA, na época em que começou a ser comentado, foi atacado em suas conclusões.
Pelo que entendi, o Juvêncio produziria sua dissertação de mestrado sobre o assunto, como anunciou no "5ª Ementa". Infelizmente, não conheceremos as conclusões do aguerrido opositor da divisão do Estado.

Renato disse...

Caro Yudice, quanto a fusão territorial existiu sim no Brasil, em pleno governo militar: a fusão do EWstado do Rio de Janeiro com o antigo Estado da Gunabara.
Se não me engano foi na década de 70, quando Medici era o presidente.

Itajaí disse...

Ocorre, Yúdice, que o Acre e o Amazonas são realidades que não cabem como contraponto ao exemplo. Ao contrário do Pará e do Amapá, que têm afinidades históricas, culturais e demográficas profundas.
A verdade é uma só: quando irmãos brigam entre si, pode ter certeza que alguém de longe está achando graça.
É isso aí.

Val-André Mutran  disse...

Professor Alan,
respeito sua opinião, assim como, as dos demais comentaristas que são contra a divisão territorial.
Porém, vou contrapor sua opinião em relação ao que você chama de " bom negócio".
O assunto em questão não trata de "bom ou mal negócio". Trata-se de política.
O direito de acionar uma mecanismo constitucional que está previsto na Carta.
Estamos exercendo o nosso direito e vocês exercerão o seu ao votar contra ou a favor no momento do plebiscito ser aprovado.
Que vença a melhor campanha para a boa continuidade e consolidação de nossa democracia.
Abraços.

Alberto Lima disse...

Concordo plenamente com a Professora!

É tudo político pilantra querendo se dar bem!!

Quanto a comentários de políticos aqui desse blog tentando enganar o povo do Sul do Pará, informo que isso só funciona por aquelas bandas!!

Pra mim, político, todos eles, sem tirar nem por, é tudo pilantra!

Alguns sobrenomes, inclusives já são conhecidos, e não por coisas boas!